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Música

Beatwise Headquarters: Sants

Diego aka Sants vai dar um tempo da cena de música eletrônica. Mas antes, ele dá a letra do que espera que aconteça e se despede (por hora) tocando hoje (15) na Wobble, em São Paulo.

Ouvir não é suficiente, tem que ver também. Todo mês a galera do Beatwise Headquarters convida um DJ ou produtor para tocar. A gente assiste. E ouve também.


"E aí Diego, o trap morreu ou não?" tinha que ser a primeira pergunta a se fazer ao Sants, produtor do selo paulista Beatwise Recs., com quem a gente inicia a nova coluna Beatwise Headquarters. Enquanto gravava e montava tracks e samples para seu set ao vivo, ele e o Cesar, aka CESRV, filmaram e nos mandaram o que resultou em uma mix e um vídeo da performance. Todo mês, vamos receber um vídeo de um artista diferente do selo, que funciona em um estúdio no bairro do Bixiga, no centro de São Paulo. "Hm... eu acho que não, né? Mas podia morrer. O foda é: o que se convencionou a chamar de trap? Quem chegou num consenso de 'isso aqui é trap'?". 

Nosso papo se estendeu durante toda uma madrugada passada no estúdio. Amanheceu e fomos comer pastel no bairro de Pinheiros, e continuamos falando sobre as festas, os produtores e o estado dessa tal "cena eletrônica" renovada que parece ter tomado conta do país. Recentemente, Sants lançou o seu primeiro álbum Noite Ilustrada, e é com um gosto já amargo que ele toca nesta sexta-feira (15) na festa carioca Wobble, que rola no Bar Secreto, em São Paulo.

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Sants me contou que decidiu se afastar um pouco das pick-ups e das atribulações do Beatwise para se dedicar a um EP que lançará em breve com um selo gringo. Qual? O produtor prefere manter em segredo.

"A Colab011 já tinha um trampo segmentado em 2012, a Metanol estava estabelecida com festas na rua e tal. Em 2013, nego já entrou meio 'beleza, vamos continuar o que a gente fazia', só que o pessoal já sabe o que estamos tocando agora", diz Sants. "E não tem muito o que fazer, nem pra onde sair. Acho que o som vazou pra outra galera agora, e 2014 é um ano que a Wobble tá explodindo porque o povo entendeu tudo no ano passado, e agora estão realmente consumindo. Então é normal que a cena aqui entre numa entresafra. Tem que vir outra coisa agora pra quebrar isso. Tá tudo chato", desabafa.

E é essa chatice que alguns jornalistas de entretenimento ou promoters parecem querer incentivar ou aumentar com outra constante reclamação do produtor. "Eu não quero ser taggeado de rap nacional. Tirando raras exceções (e clássicos), eu acho um puta rolê de playboy que quer pagar de rua", fala sobre equívocos, não tão equivocados assim, de alguns rótulos direcionados ao selo ou às suas produções por uma mídia que parece não estar muito acostumada em separar MC de MPC. "Você também lia o Rraurl? Porra, eu lia muito aquele site, cara".

Durante a conversa, foi difícil não me identificar com as suas frustrações na tentativa de encontrar "um lugar com música boa e espaço para experimentar e criar, não só imitar". Sants já foi e voltou entre cidades como Salvador, Jundiaí, Juazeiro. Passou por blogs e abandonou projetos, "tinha até um ridículo de electro-house que se chamava MILF", e confessa: "Ter feito parte de duas festas que hoje são como um vírus pra noite paulistana. Não dá, cara".

Desde pequeno eu entendi que se você se envergonha de algo que fez no passado, não significa que você deva se esconder, mas reconhecer a sua própria evolução e procurar entender melhor o caminho que está seguindo e, às vezes, nem poderia ter se dado conta. Quando perguntei se a própria Beatwise poderia ser considerada um vírus também no futuro, ele responde que não. "Construí laços e encontrei caminhos aqui que faz tudo ser diferente".

Então antes que eu comece a sugerir que ele faça um instrumental pro rapperzão do momento aí estourar uma champagne no cantinho escuro da vida chamado camarim VIP, e antes mesmo que o produtor decida deletar de novo o seu perfil no Facebook, fica a mensagem do próprio Sants: