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Tecnologia

O Japão te Odeia e Quer Que Você se Mate

Depois de anos jogando Mario, Sonic, Alex Kidd, Megaman, etc, nada mais comum você achar que tem certa experiência no gênero. Mas o Japão veio para nos colocar em nosso devido lugar.

Seu avatar no fofo The Big Adventure of Owata’s Life.

Os jogos de plataforma são a espinha dorsal dos vídeo games. Todo mundo e suas respectivas mães jogaram Super Mario Bros, por exemplo, o gênero de jogos eletrônicos que mais teve títulos na história dos vídeo jogos e que, provavelmente, nunca será superado. Por causa desses anos jogando Mario, Sonic, Alex Kidd, Megaman etc, etc, etc, nada mais comum você achar que tem certa experiência no gênero. Como o universo é um grande plano que conspira em martelar humildade em nossas testas pretensiosas, o Japão veio para nos colocar em nosso devido lugar.

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A versão original japonesa do Mario 2 era, na verdade, uma continuação do primeiro Mario com fases mais difíceis, fazendo os jovens nipônicos gastarem horas a fio tentando passar delas, memorizando pulos perfeitos e acidentes de percurso inesperados. Por causa disso, a Nintendo da América resolveu não lançar esse título nos EUA achando que, com ele, ia criar uma geração de jovens tristes, com baixa autoestima e descompromissados, lançando no lugar uma versão de outro jogo que não tinha nada a ver com o Mario 2 japonês, o Doki Doki Panic, apenas mudando os sprites (figura e animações dos personagens) do jogador pelas figuras do Mario. Isso explica um pouco — mas só um pouco — o motivo pelo qual o jogo é tão estranho e você fica tirando nabos do chão para jogar na cabeçona dos inimigos.

Acho que é o momento adequado para uma pequena digressão. A tática de pegar um jogo de outro país/região e alterar somente alguns detalhes mínimos e os sprites dos personagens principais era uma prática comum. Exemplo emblemático para nós brasileiros é o Mônica no Castelo do Dragão, que não passa de uma adaptação feita pela Tectoy do Wonderboy in Monster Land, que resultou em um dos maiores sucessos do Master System aqui no Brasil ajudando a Sega a ter o tamanho que teve aqui em Pindorama.

Sinto saudades de tempos mais simples, quando a Mônica não era sequestrada e levada para Guarulhos.

Enfim, é fácil notar que nas últimas gerações os jogos estão ficando cada vez mais fáceis: é uma tendência do mercado mainstream fazer jogos mais fáceis como um passatempo divertido e não fazer o pobre jogador ter que penar cada vez mais para conseguir terminar o joguinho. Certa tendência dos jogos alternativos, indie games para os mais chegados, é ir na direção contrária. Títulos como Super Meat Boy e I Wanna Be The Guy fazem o pobre jogador querer jogar tudo pela janela e morar num monastério franciscano. Mas de onde vem essa coisa de fazer um jogo simplesmente injusto assim? Do Japão, é claro.

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Aqui, um vídeo que fiz algum tempo atrás em que jogo Syobon Action e declamo algumas passagens do Navio Negreiro do Castro Alves. Ao final, um poema de José Luís Mendonça, poeta Angolano (me pareceu uma boa ideia juntar essas três peças de arte na época).

Apresento para você dois maravilhosos moinhos de sonhos, em ordem cronológica. O primeiro é o lindinho The Big Adventure of Owata’s Life, um joguinho feito em flash que você pode jogar aqui mesmo no seu navegador web preferido. Feito com gráficos em JIS (a versão Japonesa e muito mais rica em caracteres do ASCII), muitos dos quais vieram diretamente do mundialmente famoso (para nerds japoneses) 2ch, o avô espiritual do 4chan. Bom, mas como é o jogo em si? É uma experiência de tortura psicológica que obriga você a pensar de maneira diferente para chegar ao fim, além de ser completamente injusto no sentido de jogar inimigos, obstáculos e mortes instantâneas na sua cabeça sem aviso prévio. Tente jogar um pouco dele e se delicie com os 1239872340 jeitos de morrer possíveis.

Alguns dos personagens criados nos fóruns 2ch por japoneses anônimos, talvez o mais famoso deles seja o que ficou conhecido aqui no Ocidente como Pedo Bear, ausente neste retrato.

O segundo é o fofo Syobon Action que, ao aparentemente seguir o design de fases do Super Mario Bros original, fode ainda mais com as suas expectativas. Exemplo: quando você pega um cogumelo que saiu do bloquinho de [ ? ] você certamente irá morrer, porque ou o cogumelo é venenoso, ou ele te aumenta descomunalmente e você fica tão forte e pesado que acaba quebrando o chão e morre caindo no abismo eterno do esquecimento — e esse é só um pequeno exemplo de como este jogo foi feito para destruir você completamente. É possível terminar o jogo, mas todas as suas preconcepções do que esperar de um jogo de plataforma vão morrer pelo menos 100 vezes assim como o gatinho que você controla. O interessante desses dois jogos é que eles são tão ridiculamente injustos que você não vai só ficar puto da vida, mas sua frustração dará uma volta e você provavelmente vai achar graça dos jeitos inesperados como vai morrer, mas é aquela risada nervosa de quem está aos poucos perdendo a noção da realidade: HA HA HA HA HA HA HA HA HA ! ! !

Siga o Pedro Moreira no Twitter: @pedrograca

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