FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Levando Robôs aos Estados Vermelhos: Porter Robinson em Turnê

Um disco de estreia, 40 cidades na América do Norte e muitas experimentações. O editor do THUMP US conta por que você precisa prestar atenção na produção desse moleque de 22 anos.

Porter Robinson está tomando uma Fanta Zero nos bastidores do Rialto Theater, em Tucson, no Arizona. Ele deve estar agora lá pelo décimo dia da sua ambiciosa turnê por 40 cidades, Worlds, do seu LP de estreia homônimo, e começando a se sentir em casa no palco.

"Na primeira noite, quando subi para cantar, minha perna estava tremendo muito", ele admite. "Minha voz está melhorando, mas não sou nenhum Sam Smith. Nunca disse isso. Mas canto dentro da cabine há anos, então por que não deixar as pessoas ouvirem?"

Publicidade

Nervosismo à parte, cantar é um dos menores riscos que Robinson assume com esta turnê. Depois de cinco anos como DJ, está fazendo um show totalmente ao vivo, só de músicas próprias, marcando uma ruptura clara com o momento na sua carreira que o levou a ser disputado por diversas grandes gravadoras no último outono. Embora tenha considerado seguir o caminho seguro, fazendo shows exclusivamente em grandes mercados, Robinson optou, em vez disso, por uma empolgante turnê pela América do Norte com paradas em cidades menores e improváveis, como Tucson, Guelph e Boise.

"A primeira vez que viajei em um ônibus de turnê foi durante a turnê da OWSLA", ele explica. "Era eu, o Zedd e o Skrillex, e fomos a todos esses mercados. Na minha cabeça é assim que turnês de ônibus são feitas; você vai a todas as cidades. Acho que tem algo legal em ser onipresente".

Diferentemente dos seus colegas de indústria que chegaram até a dance music por meio das cenas rave e clubber de Los Angeles, Nova York ou Toronto, Robinson raramente saía de casa na sua cidade natal, Chapel Hill, na Carolina do Norte. ("Acho que o único show que vi em Chapel Hill foi o do Ratatat quando tinha 14 anos", ele confessa.) Para um artista admitir não ter conexão alguma com a vida noturna é um indicativo não só de uma mudança de geração, com os fãs de dance music sendo cada vez mais gente de menos de 21 anos, que não pode sair para a balada, bem como uma outra, geográfica, possibilitada apenas pela web.

Publicidade

"Em cidades bem pequenas, onde as pessoas gritam com você por usar calças justas ou coisa do tipo, ainda vejo uma molecada da internet que passou a vida inteira conectada e claramente nunca saiu de casa, como eu fiz em Chapel Hill", Robinson diz. "Não sinto que cresci em Chapel Hill. Sinto que cresci na internet".

"Tem uma molecada assim por todos os Estados Unidos", ele continua. "Tem esses artistas emergentes incríveis no meio da Louisiana. Eles não têm sotaque; foram criados pela internet. Qualquer cidade que eu vou, não importa quanto ela seja pequena, esse eleitorado está sempre lá, e está muito empolgado em me ver".

Para quem vive no Tumblr – e também para quem não vive – o show de Worlds é um banquete de luz e som. Robinson fica atrás de uma mesa de acrílico transparente que definitivamente não é uma cabine de DJ, mas uma estrutura que inclui drum pad, laptop, dois sintetizadores – um Roland Gaia, outro Roland SH-01 – e um controle Akai. Atrás de Robinson fica uma tela de LED do tamanho de três painéis, com projeções que ele mesmo fez e toca ao vivo para se encaixarem na sua performance. Para fazer o som ficar mais vivo, Robinson "desasou o bolo" do seu disco, desconstruindo todas as faixas para que cada instrumento tivesse seu próprio canal, permitindo ao produtor controlar cada elemento ouvido durante a performance. Durante "Sad Machine", logo no começo do set, Robinson grava ao vivo o loop de sintetizador que é a espinha dorsal da faixa. Enquanto a versão de estúdio é precisa e brilhantemente robótica, no show a faixa incorpora o desprendimento da realidade pelas mãos do próprio produtor.

Publicidade

Como fez no disco, Robinson brinca com as suas próprias influências no show, piscando e acenando com a cabeça em homenagens sônicas àqueles na plateia que entendem a referência e provocando auditivamente aqueles que talvez deixem passar. Com cada uma das gravações do disco separada, ele pode ampliar todas elas durante a performance, se divertindo ao máximo com os seus singles pré-Worlds, como "Easy", que ele arranha durante o seu single mais recente, "Sad Machine", depois incluindo alguma coisa de "Sea of Voices" dentro de "Easy", e tocando a sentimental "Fellow Feeling" dentro do seu primeiro lançamento, "Say My Name". Fosse qualquer outro, estes pequenos truques musicais, somados às imagens em estilo anime que mapeiam as próprias obsessões do artista poderiam soar autoindulgentes, mas no caso de Robinson é uma forma de se conectar com o público.

"Uma molecada em Spokane veio até mim e disse: 'cara, adoro as suas imagens tipo Vaporwave', fazendo uma referência a esta coisa bem de nicho da internet", ele diz, se referindo ao estilo pós-Seapunk dos gráficos. "Você não precisa saber o que é isso. É um desses micromovimentos do Tumblr que virou meme porque é muito autorreferencial".

Por mais compreendido que Robinson se sinta em momentos como esse, ele já admitiu ter sentido alguma frustração com o estilo de vestir que viu na plateia, que ele teme que possa refletir uma percepção errada do seu novo trabalho. Muitos dos estudantes universitários, tanto no show de Tucson quanto no show de Tempe, esta semana, estavam com um visual EDM típico: as garotas usavam neon e shorts curtos, e os caras, regatas largas – que eles entusiasmadamente tiravam no meio do show. Por todo o lado havia pulseiras de bolinhas e dadinhos.

Publicidade

"Acho que não fiz um trabalho bom o suficiente em explicar às pessoas antecipadamente o que era isto", ele reconhece. "As músicas são todas minhas. Não tem nada a ver com os meus antigos sets como DJ em que eu tocava bass drops. A mensagem que recebi foi que todas essas pessoas usando pulseiras de dadinhos formando a palavra 'RAIVA' não receberam a mensagem. Eu fiquei tão frustrado. Comecei a falar com os fãs que ficam depois do show, perto do ônibus, e eles entendem perfeitamente. Estão interessados nos temas e motivos do disco, querem falar comigo sobre eles, têm muitos interesses em comum comigo. As pessoas gostam, porra, então quem se importa com o que elas estão vestindo?".

"Sou só eu sendo exageradamente autoconsciente e crítico", ele complementa com leveza. "Estou fazendo bastante esforço para superar isso. Estou feliz que alguém ligue o suficiente para vir me ver".

Apesar da abundância do que Robinson chama de momentos "bonitos e sensíveis", o show de Worlds tem muitos elementos de EDM: muito baixo, melodias cantaroláveis e volume. Mesmo assim, no show de terça-feira, Robinson fez uma pausa entre as músicas para dar algumas instruções ao público. "Por favor, pelo amor de Deus, não conversem durante as partes mais calmas", ele disse no microfone. "Vamos curtir coisas bonitas juntos".

A plateia concordou com um urro.

Apesar de os fãs ainda reagirem mais ruidosamente a singles como "Lionhearted" e velhos sucessos como "Easy", eles se emocionam tanto quanto durante as partes mais sentimentais do disco, como "Fresh Static Snow" e "Hear the Bells." E, apesar de Worlds ter estreado no Top 20 da Billboard 200 no mês passado, o jovem produtor sente a pressão para provar sua consistência na estrada. Mesmo enquanto ainda negocia a estranha separação entre sua carreira como DJ e seu novo show ao vivo, Robinson está mais à vontade para falar do seu amor pelo EDM do que nunca.

"Discotecar é absurdamente divertido e é algo que eu gosto de fazer", ele explica. "Só queria fazer um show ao vivo para este álbum. Pegar elementos que eu amo do EDM é muito mais libertador do que me forçar a jogar fora todos os elementos das coisas antigas, tudo que soa como dance. Este show é exatamente o que eu queria fazer".

Fotos por Ryan Loughlin

Tradução: Fernanda Botta