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Entrevista

10 perguntas que você sempre quis fazer para uma pessoa com Síndrome de Down

O alemão Jonas Sippel de 22 anos lembra por que é um jovem como outro qualquer: "se não tivesse Down, eu não seria a mesma pessoa — e eu gosto de quem eu sou."
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Jonas Sippel é uma das 50 mil pessoas que têm Síndrome de Down na Alemanha (no Brasil são 300 mil). Segundo o Ministério da Saúde da Inglaterra "a Síndrome de Down é causada pela presença de uma cópia extra do cromossomo 21 nas células do bebê. Na maioria dos casos, isso não é hereditário, simplesmente o resultado de um erro genético único no esperma ou no óvulo". Como cromossomopatias geralmente resultam em problemas do coração, Jonas teve que fazer uma cirurgia cardíaca antes do primeiro ano de vida. Ele tem uma grande cicatriz no peito até hoje.

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Agora Jonas tem 22 anos e mora com os pais em Rangsdorf, nos arredores de Berlim. Quando era moleque, ele queria ser o James Bond ou paleontólogo, mas depois de fazer um estágio no teatro RambaZamba de Berlim, ele se apaixonou pela atuação. Desde então, ele já fez seis peças e um filme. Encontramos com ele no auditório do teatro para um papo rápido.

VICE: Qual a pior parte de ter Síndrome de Down?
Jonas Sippel: É bem chato. Por exemplo, muitas vezes eu me desvio do assunto, quando não acho interessante. Mas as pessoas com Síndrome de Down não podem fazer nada sobre ter um cromossomo extra. Alguns dizem que somos deficientes mentais. O que não é exatamente verdade.

Na verdade, eu sou um pouco limitado com certas habilidades que para os outros são fáceis, mas sei bastante coisa de história e tenho uma memória muito boa. Sei a Ilíada e a Odisseia quase de cór — e a ópera Der Ring des Nibelungen do Wagner também.

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Você gostaria de poder fazer alguma coisa que pessoas com Síndrome de Down não conseguem?
Se não tivesse Down, eu não seria a mesma pessoa — e eu gosto de quem eu sou. Há várias coisas que eu gostaria de poder fazer, claro, mas que ninguém consegue fazer também. Por exemplo, eu gostaria de encontrar uma liga de super-heróis e poder criar meus próprios super-heróis.

É chato poder reconhecer quem tem Síndrome de Down só de olhar para a cara da pessoa?
Poder ver isso no rosto não é tão ruim. Mas quando alguém tenta me reduzir à minha Síndrome de Down, aí eu fico irritado.

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Por que as pessoas com Síndrome de Down estão sempre rindo?
Se alguma coisa é engraçada a gente ri. Ou quando estamos sendo maldosos — mas isso não é tão legal.

É difícil encontrar parceiros?
É bem complicado. Estou esperando a pessoa certa, mas não acredito mais no amor. Já tive uma namorada, mas acabou não dando em lugar nenhum. Talvez seja meu destino, não sei se fui feito para relacionamento sério.

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Você prefere uma namorada que tenha Síndrome de Down ou não?
Boa pergunta. Na verdade, prefiro não namorar com uma garota que tem Síndrome de Down, porque também tenho e nem sempre é fácil. Mas eu também não teria problemas se minha namorada tivesse Down.

E filhos?
Adoro crianças e um sonho meu é um dia ter meus próprios filhos. Mas você precisa querer mesmo, e ainda estou descobrindo o que realmente quero.

Você faria o teste para saber se seu filho tem Síndrome de Down antes dele nascer?
Você está falando de aborto, né? Eu daria qualquer coisa para ter um filho, mesmo se ele tivesse Síndrome de Down. Mas eu teria que decidir isso junto com a minha esposa, claro.

O que você acha de pessoas que abortam quando descobrem que a criança vai ter Síndrome de Down?
Gente boa ama crianças, quer elas tenham Down ou não. Se você aborta uma criança só porque ela tem Síndrome de Down — e eu vou dizer sinceramente — você é uma pessoa ruim.

Você queria não ter Síndrome de Down?
Seria maravilhoso, óbvio. Mas sou só um cara normal, com um cromossomo extra e uma cicatriz no peito da operação cardíaca. Não me sinto deficiente. É mais, tipo: sinto que metade de mim é afetada pela Síndrome de Down e a outra metade funciona bem.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Alemanha

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