Histórias (nem sempre) divertidas de quem desfilou no 7 de Setembro
Nem sempre é daora 7 de Setembro. Imagem do Flickr/ Creative Commons.

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Histórias (nem sempre) divertidas de quem desfilou no 7 de Setembro

Um compilado de histórias e experiências em Desfile de Sete de Setembro que nem sempre foi o melhor rolê de feriado.

O Desfile Cívico-Militar, também conhecido como Desfile da Pátria, é aquele desfile em que cada cidade para e assiste alunos, professores, funcionários públicos, associações e militares marchando pela avenida principal com muita vontade e amor — ou não. O Desfile acontece no país desde o período do Império, e é o festejo oficial e cheio de protocolos para saudar a semana da Pátria, na qual é comemorada a Independência do Brasil, aquele 07 de setembro de 1822 histórico em (dizem) que Dom Pedro proferiu: "Independência ou morte", fazendo do Brasil uma colônia independente da Coroa Portuguesa.

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O Desfile oficial do governo acontecia na cidade do Rio de Janeiro até a criação de Brasília, em 1960, a nova capital do país. Hoje, cada cidade organiza o seu e escolhe os temas que serão apresentados pelas escolas e instituições. Há também saudações às Forças Armadas e ao governo de cada esfera (vereadores e deputados, por exemplo). Não há nenhuma orientação oficial que obrigue a tal saudação, mas a real é que durante o trajeto as crianças são orientadas a como se comportar, inclusive orientadas a acenar na hora de passar pela bancada em que estão o Prefeito, Presidente da Câmara, vereadores e outras autoridades, conforme a banda toca.

Essa história de desfile tornou-se realidade em minha vida por volta dos 10 anos, na época, ouvia inumeras histórias de quem já desfilou e os mais típicos vexames já propagados. Meu ano de desfilar foi em 2002. Havia um boato disseminado pelos professores de que quem não desfilasse, corria o risco de repetir de ano letivo na escola, ou seja, ninguém queria isso e todo mundo desfilou.

Naquele ano, minha turma, por exemplo, representava a seleção brasileira de 1970, já que aquele foi um ano de Copa do Mundo — e, claro, o Brasil estava sob o regime da Ditadura Militar. Muita gente tirava sarro de mim, porque naquela época, além de baixinho e magro, também era dentuço, e todo mundo se sentia no direito de me chamar de Ronaldinho Gaúcho, jogador de futebol e craque da seleção naquela Copa do Mundo. Odiava e amava, dependia do meu estado de humor. Até o prefeito fez uma certa encenação quando passamos em frente a sua estadia, e tenho certeza que ele pensou na mesma comparação.

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Ainda assim, não só para mim e para os meus amigos de escola, aquele foi um dia extremamente exaustivo, no qual tivemos que ouvir as centenas de fanfarras ao mesmo tempo e ficar naquela posição de marcha por horas. Houve atraso, fome, cansaço, mas ainda bem que tudo isso ficou no passado. Além de mim, outras pessoas também tiveram seus 15 minutos de fama (e vexame público) no Desfile de Sete Setembro e resolveram compartilhar suas experiências:

VESTIDO DE CIVIL

"Desfilar no dia da independência foi um feito cheio de sentimentos. Na primeira vez foi decepção, porque eu interpretei um civil na parada da escola. UM CIVIL. Na segunda foi menos pior, porque eu consegui passar de "ator" para integrante da fanfarra. Por que foi menos pior? Porque a corneta que me deram era meramente ilustrativa, não tocamos nenhum instrumento de sopro naquele ano, só seguramos durante o desfile. Já nas outras vezes foi puro orgulho, sabe por quê? Porque eu era a caixinha principal — instrumento de percussão — o que naquela época pra um estudante da quarta série de uma escola pública brasileira era o equivalente a ser do time de futebol ou das líderes de torcida em uma escola americana, sem a parte do uniforme legal, porque a gente usava uma roupa muito horrível e quente ao extremo que deixava a gente parecendo um pavão. Não entendo como ninguém nunca desmaiou durante o desfile, já que sempre fazia tipo, uns 40º. Mas eu adorava o desfile no fim das contas." (Leonardo Azevedo, 21 anos, estudante.)

VESTIDA DE CAJU

"Desfilei na terceira e na quarta série. Na terceira série, fui na frente com a faixa da escola, eu e uma outra pessoa, cada uma de um lado, segurando uma faixa bem grande, com o nome da escola em que nós estudávamos. Então, naquele intervalo de uma escola e outra, eu estava bem na frente. Só com o nome e uniformizada. Gostei bastante, foi a primeira vez que estava desfilando.

Na quarta série, eu desfilei também pela mesma escola. Só que eu fiquei no bloco que estava homenageando Aracaju. Então, eles fizeram uma cesta em que estavam bastantes cajus cenográficos e uma Arara para cada aluno. Entre 30 a 40 alunos representando Aracaju. Tínhamos uma coreografia a ser excecutada, muito tranquila, que além de ir marchando, fazíamos a coreografia naquele momento em que ficamos de frente ao prefeito e as autoridades da cidade. Não erramos.

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Após a coreografia, continuamos o desfile, e que eu me lembre naquele ano estava extremamente quente e não tinha nenhum apoio para nós alunos, que éramos todos crianças na época. Não tinha água, não tinha banheiro, não tinha nada de suporte pra gente. E antes de iniciar também, na hora em que estavámos aguardando a nossa vez, teve uma escola que teve algum problema, com alguma coisa que eu não sei o que foi e acabou atrasando muito e não tinha estrutura para nós ficarmos aguardando. Nós ficamos, realmente, no asfalto, no meio da avenida, sem cobertura nenhuma, embaixo daquele sol bem quente. Sem água e sem banheiro. Foi bem díficil, bem cansativo, na verdade. Mas foram dois anos de desfiles, como um todo, foram bons desfiles e boas lembranças da época da escola." (Talita Côrrea, 24 anos, Promotora de Eventos.)

ALA DOS SEGURANÇAS

"Tive uma unica experiência com desfile de 7 de Setembro, em 2002, quando eu estava na quarta-série do ensino fundamental. Tinha 10 anos na época e para mim foi uma ótima ideia. Gostava muito de participar e fiquei ansiosa e na expectativa para que o dia chegasse, me lembro que o tema de alguns blocos eram imprensa, onde algumas crianças seriam artistas e teriam também os fotógrafos e segurança. Para a série que eu estava, a participação era obrigatória e treinávamos desfilando na quadra da escola, lembro bem que para alguns blocos os pais teriam que investir R$ 10 para os acessórios ou roupas ou levar câmera e filmadora (para os alunos que fossem os repórteres).

De início, fiquei no grupo que desfilaria com o uniforme da escola, mas de última hora alguns alunos faltaram e me colocaram no grupo de segurança (os que ficavam de preto) eu adorei, pois desfilar com uniforme da escola era o mais chato (risos). O trajeto foi simples na avenida que ainda é feito até hoje. O momento em que passávamos pelo prefeito e próximo de onde os pais estavam era o mais esperado.

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Me diverti muito pois estava próxima aos meu amigos e como os professores falavam sempre a cidade toda estava vendo a gente, então me senti importante. Foi uma experiência importante pra mim." (Cíntia Queiroz, 24 anos, Analista Financeiro.)

PÃO COM PATÊ

"Não lembro como foi [o desfile]. Nessa época eu ainda era sociável e participava de todos os eventos da escola. Sei que não quis entrar na banda porque eu achava bem loser. Daí, fui pra uma ala que representava os estados e suas capitais. Lembro de reparar que as escolas particulares tinham fantasias e todo o resto muito melhores. Não passei fome porque minha mãe me mandou com uma bolsa térmica vermelha com pão com patê, senão tinha passado fome. Minha mãe e minha madrinha pegaram uma câmera emprestada, na época ainda de filme, e tentaram tirar fotos. Não lembro se conseguiram." (Leonardo Lopes, 24, Analista Financeiro Jr.)

VIGILANTE DO MEIO AMBIENTE

"Morei no interior do estado do Rio de Janeiro, em Santo Aleixo. Estudava numa escola que tinha muitos eventos e adorava participar de tudo. O evento era setorizado, com participação de todos. Lembro de um desfile que tinha uma ala de "Vigilante do Meio Ambiente", onde eu estava (hahahaha). Em outro ano usamos fitas e bambolês, fazendo umas coreografias. Tudo bem simples, mas organizado. Apesar de não ser facultativo, era bem divertido, tinha amigos que tocavam na banda do colégio e pra gente tudo virava uma festa." (Andréa Moreira, 43 anos, Engenheira Civil.)

"LINDO! LINDOOO!!!"

"Desfilei 04 vezes para o Sete de Setembro! As duas primeiras foram pela escola onde estudei o ensino médio. Na primeira já não tinha mais vaga para tocar instrumentos musicais (que era justo o que eu queria!) e fiquei só no pelotão, desfilando com o uniforme da escola e com a cara pintada de verde e amarelo. Só na segunda vez, dois anos depois, desfilei tocando o surdo, uma espécie de tamborzinho. A sensação de representar a escola num evento municipal era o que mais me empolgava!

Depois, na adolescência, participei da JUCO (Juventude Cívica de Osasco), uma ONG com modelo de guarda-mirim e que encaminhava os jovens para estágios, onde desfilei mais duas vezes. Aí, já era macaco-velho, mas a responsabilidade e a postura eram muito mais exigidas. Usei um uniforme azul de soldadinho com um terno branco de gala, na primeira vez carreguei a bandeira da da instituição e na segunda levei a bandeira da cidade.

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A gente sempre fica um pouquinho ansioso na véspera do desfile. O medo de errar o ritmo da marcha ou da música, não fazer feio na hora de passar perto da família e das figuras políticas da cidade são comuns. Mas no final tudo deu certo, tanto na época de escola como na JUCO.

Todos os anos os desfiles são na avenida principal da cidade, com exceção da primeira vez que eu desfilei, em 2003, que foi numa avenida recém-inaugurada, para estreiar a nova obra. Nada de complexo. Como o evento sempre envolve várias escolas e instituições, sempre há alguns atrasos em torno de uns 30 minutos. Tinha que estar sério e desfilando, não pude quebrar o protocolo e dar tchauzinho para o prefeito, mas consegui olhar a ponto de vê-lo batendo palmas. Já em uma das vezes, a minha irmã, que me viu desfilar, me deixava vermelho gritando: "Lindo! Lindooo!"

Na escola sempre participei dos desfiles de forma voluntária porque eu queria carregar o nome da escola num dia que eu já considerava importante. Na JUCO, logo de início, podia optar por participar ou não dos treinamentos de marcha e disciplina que ocorriam todos os sábados. Como optei por participar, então eu devia participar dos eventos onde houvesse a presença da instituição. Mas mesmo assim não encarei os desfiles como uma obrigação. Não tive nenhum custo com os desfiles, pelo contrário, ganhamos lanches, sucos e água antes de começar o desfile.

Me diverti muito nesses eventos, além de estreitarmos o vínculo com a instituição ou escola, fazemos novos amigos e trocamos ideias com mais frequência. É também um evento de socialização. E todos estão ali por um objetivo que é fazer algo com qualidade para representar bem a nossa escola diante do resto da cidade, comemorando um dia histórico que é a nossa Independência e sempre reforçando a relevância desta data! E o mais legal é que, quando nos dispomos a realizar - isto é, tornar real algo que eu desejo, que vem de mim - algo que também é uma vontade coletiva de um grupo, percebemos a importância do nosso papel nesta e em outras atividades ao longo da vida, e assim valorizamos a nós mesmos e as nossa circunstâncias. (Leonardo Morais, 25 anos, Bancário.)

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MEIÃO E CHUTEIRA

""Vamos, já está na hora…" Então eu levantei e vi aquele dia nublado, com garoa. Era o dia do Desfile de Sete de Setembro. Até que todos na escola estavam animados. Era um evento, de qualquer forma, e isso animava toda a escola. Tinha o grupo da fanfarra (o mais amado, eles tinham ensaio toda semana e tudo!), o grupo que segurava os cartazes, aquele que saía na frente, o grupo das meninas que dançam e pulam… O meu grupo? Time de futebol da Alemanha. Isso mesmo. Desculpe. Mas era.

Coloquei meião e chuteira, amarrei bem o cabelo e lá estava eu com meu grupo do time de futebol da Alemanha. Até hoje não entendo por que, mas foi bem divertido, debaixo da garoa, com aquele uniforme futebolístico, a bola, a caminhada longa, as pessoas seguindo, os amigos se perdendo na multidão, os gritos quando se encontravam, a mãe sempre do lado com uma garrafa de água fresca. Que dia!

Adorei todos os dias de Desfile de Sete de Setembro por isso, ficávamos cansados, porém alegres, felizes e fazíamos tudo com muito querer." (Ana Paula Abreu, 23 anos, estudante.)

EQUIPE DA FITA

"Eu tinha 15 anos e foi a primeira e única vez que desfilei. Fui obrigada por um sorteio na escola e já que não tinha como me livrar, decidi ser da equipe da fita (bastão com fita de ginástica rítmica), que tinha coreografia e andava na frente dos demais alunos da escola.

No dia cheguei às 09h no local marcado, encontrei minhas amigas e ficamos à toa por 06h horas, sem água e sem comida, esperando o nosso horário de desfilar, que era às 15h.

Debaixo de um sol que na minha lembrança era escaldante, em um domingo q nem dava pra contar como feriado, desfilei no sete de setembro me sentindo líder de torcida por um dia. Ironicamente as cores da escola eram azul, branco e vermelho e mais parecia um desfile de independência dos Estados Unidos, do que do Brasil. Durante o trajeto, lembro que parávamos alguns minutos na frente do "camarote" do prefeito, repetindo a coreografia da maneira mais perfeita possível para reforçar a imagem da escola (cujo presidente tinha grandes interesses políticos na época).

Meus pais não me viram desfilar e eu voltei pra casa reclamando que tinha perdido meu domingo inteiro pra fazer algo contra a minha vontade, mesmo tendo gostado de ser a "garota da fita" por alguns instantes." (Luana Lima, 27 anos, Analista Administrativa.)

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