FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Conheça o ICAS, a Arma Secreta que tem Mantido Festivais Independentes Vivos

Criado no Canadá em 2008, o International Cities of Advanced Sound reúne curadores de todo mundo — inclusive do Brasil — numa rede que beneficia diversos festivais ao longo do globo.
Play 2 at Mutek Mexico 2015 (Photo by Esstro9)

O que Pittsburgh, Rio de Janeiro, Berlim e Cracóvia tem em comum? Não, eles ainda não tiveram jogos olímpicos e não são conhecidos por fazer sanduíches deliciosos. Essas cidades todas são membros do International Cities of Advanced Sound(ICAS), uma rede livre de curadores dedicados a manter vivos pequenos festivais independentes. ICAS é uma arma secreta para tipos como o Decibel de Seatle, o MUTEK de Montreal e o Novas Frequências do Rio de Janeiro — a rede os ajuda os festivais a se manter, beneficiando-se um do trabalho dos outros, e mantendo a festa acesa ano após anos em cenários musicais nem sempre acolhedores.

Publicidade

A rede teve seu início em 2008, quando o grupo European Citis of Advance Sound (ECAS), dando sequência aos esforços de um punhado de festivais europeus que se preocupavam em formalizar suas relações em busca de uma possível concessão de financiamento que dada pela União Europeia. O grupo era liderado pelo projeto/festival Berlin's club transmediale, uma espécie de expert em música contemporânea estranha e festivais de artes visuais que começou suas atividades em 1999.

Ao mesmo tempo o seu parente MUTEK, festival que começou a movimentar a cena de Montreal em 2000, tentou "tirar o ECAS do seu Eurocentrismo" — é o que nos conta o fundador e diretor do MUTEK, Alain Mongeau, que já via ali um movimento global acontecendo. Em uma reunião realizada em 2008, paralela à programação do MUTEK daquele ano, um grupo de organizadores de outros festivais esboçaram as bases da ICAS como um esforço conjunto de apoio mútuo em eventos com o mesmo espírito independente que aconteceriam em diferentes cantos do mundo.

O time ICAS team no festival Nexsound em 2013 em Kiev (Foto via ICAS)

Na prática, a rede ICAS permite que pequenas organizações se ajudem por trás dos festivais independentes ao trocar ideias, informação sobre lugares, artistas, conceitos de apresentação e tudo mais. Quando o Unsound da Cracóvia teve problemas com a prefeitura em 2008, o grupo da ICAS escreveu as cartas necessárias para elogiar o festival polonês, que acabou de fazer seu aniversário de 13 anos em outubro passado. (Apesar de outra rodada de cartas parecer necessáia depois de uma bizarra acusaão de satanismo forçar a recolocação de vários shows do Unsound). Mesmo em mecas da música como Montreal e Berlim, Mongeau acredita ser melhor saber que há companheiros pelo mundo reunidos no ICAS.

Publicidade

Leia: "Maturidade, Reinvenção e Longevidade nos 16 Anos de Eletronika"

"No nosso ambiente podemos nos sentir um pouco isolados, mas estamos em uma missão", explica ele no escritório do MUTEK em Montreal, onde se preparar para a festa seguinte é um esforço que dura o ano todo. "[ICAS] criou uma noção de comunidade e solidariedade entre organizadores de festival

Uma lousa de planejamento do ICAS no Mutek em Montreal 2008 (Foto via ICAS)

ICAS realmente tem um longo alcance com seus afiliados. Em 2011, um conjunto de membros europeus da rede trouxe alguns pesos pesados internacionais para o festival uruguaio SOCO que rola em Montevidéu, enchendo o lineup com estreias na América do Sul. "Aquele evento foi um marco para a cena uruguaia", diz o diretor Martin Craciun. "Nunca antes tantos artistas estrangeiros foram a um festival de música em Montevidéu".

Na América do Norte, a cena de festivais poderia igualmente receber um impulso. O Communikey foi alvo de uma invasão do ICAS em 2014, mas nesse 2015 o festival teve sua oitava e última edição. Novas Formas, um festival filiado em Vancouver, anunciou esse ano que irá entrar em um hiato. Enquanto a ICAS foi "terapeutico" para o fundador do Decibel, Sean Horton, que o descreveu como "um tipo de sindicato, uma mentalidade de segurança entre iguais", Horton acabou de largar tudo, deixando o futuro do festival de Seatle em risco.

Ainda assim, existem algumas luzes no fim do túnel. O festival Via de Pittsburgh, nos Estados Unidos, comemorou sua sexta edição e acabou de se juntar ao ICAS. E a co-diretora Lauren Goshinski está empolgada. "Nós precisamos conversar com nossos companheiros", diz ela. "Fazer parte dessa conversa não teve preço. Nos ajuda a nos encontrar de maneira global e nacional nesse cenário, e podemos fazer nossa parte em ajudar novos artistas e públicos". O festival já pegou do ICAS artistas como a galera do NAAFI do México, um velho conhecido do MUTEK MX.

THUMP X A VOLTA: Especial NAAFI

O festival Via, também norte-americano, seguiu uma página básica do manual do ICAS ao expandir (nesse caso, para Chicago no ano passado). O MUTEK tem as já citadas edições latino americanas, o Unsound foi para Toronto pela primeira vez esse ano, e Tomorrow's Art está indo para o Japão. Na estimativa de Mongeau: "Nós cooperamos e competimos ao mesmo tempo".

Festivais com foco no experimental que tomam conta dos lugares de uma cidade vieram antes das recentes raves gigantes financiadas por corporações. Como resultado, esses festivais vão do equilíbrio à popularidade na música eletrônica quando encontraram modos sustentáveis de se expandir. "Da mesma forma que a música eletrônica é a trilha sonora da globalização, nós agora estamos operando em um nível mais transnacional", diz Mongeau. "Com a rede, todos podem perceber o mundo como seu parque de diversões".

Siga o THUMP nas redes Facebook // Soundcloud // Twitter.