Por que a Dance Music Britânica Vai Dominar o Verão do Hemisfério Norte

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Música

Por que a Dance Music Britânica Vai Dominar o Verão do Hemisfério Norte

Estamos diante de um dos verões mais empolgantes para a música eletrônica do Reino Unido dos últimos tempos.

Minha relação com a expressão "hit do verão" é dúbia. Ela pode ser tanto uma muleta jornalística quanto o termo mais adequado possível, se usada do jeito certo. O problema é que, na maioria das vezes, nós a usamos semi-ironicamente, aplicando-a a praticamente qualquer música lançada durante a estação.

Tenho me pegado usando-a bastante recentemente. De início, temi que o meu vocabulário tivesse se reduzido a um amontoado de clichês, e não demoraria muito até que a única palavra que eu conseguisse dizer em voz alta fosse "bombado". Então parei um pouco, refleti bastante sobre os próximos lançamentos e percebi uma coisa. Bem, quatro coisas, na verdade. Quatro discos britânicos, para ser exato, que prometem hits suficientes para a temporada inteira, capazes de criar o clima, encher a pista e ainda encerrar a noite. Não é o caso de eu estar sonhando alto demais, também. Estamos mesmo diante de um dos verões mais empolgantes para a música eletrônica e a dance music britânicas dos últimos tempos.

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Esses discos fazem lembrar outra palavra com que tenho dificuldade: mainstream. O quarteto supracitado é formado por discos que vão invadir esse território, alcançando bons lugares nas paradas. De certa forma, isto é irrelevante. A dance music britânica ainda tem personalidade, é experimental e autêntica. Rotular esses discos como mainstream serve apenas para reconhecer que, embora sejam discos "legais" de música eletrônica, não vão ser difíceis de achar no Discogs. O que temos é uma fornada de lançamentos que poderia definir 2015 como um ano em que a dance music britânica ganhou mais popularidade sem ter que vender a sua alma no processo.

Jamie xx - In Colour - Young Turks - 01/06

Não havia grandes indicativos, quando o xx despontou com o seu disco de estreia homônimo, de que o seu produtor/percussionista altão e mal-humorado se tornaria uma das figuras mais importantes da música eletrônica britânica. Mas, depois de uma série de remixes e da elogiadíssima faixa "All Under One Roof Raving", Jamie xx rapidamente passou a ser uma dinâmica e desenvolvida promessa. Depois de ouvir In Colour, o seu disco de estreia como produtor, fica claro que ele irá se solidificar nessa posição. O disco não oferece muitas faixas bombantes, do tipo que te fariam jogar as mãos para cima, mas, em vez disso, opta por misturar a clássica dance music britânica com ritmos e melodias contemporâneos.

O LP é metade um disco de dance, metade um artefato que utiliza samples de MCs, evocando beats de house com influência de garage da virada do século. Isto não quer dizer que ele seja nostálgico de uma maneira enjoativa ou sentimental. Há uma vontade por trás da história – a vontade de fazer algo maior e melhor do que aquilo que o precedeu. Os singles principais, "Gosh" e "Loud Places", fazem um bom trabalho em destacar o que o disco faz de melhor, um mosaico de influências que soa contemporâneo e ressalta quão boa é a música eletrônica britânica hoje e de onde ela veio.

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Ouça: "Gosh"

Hudson Mohawke - Lantern - Warp - 16/06

Até onde sabemos, o segundo disco solo do Hudson Mohawke vai arrebentar a cabeça de todo mundo. É uma viagem bizarra, parte trap frenético, parte R&B futurista, com pitadas constantes de gabba e happy hardcore. Muitas das faixas mais animadas são bombantes (desculpe, tive uma recaída), cumprindo perfeitamente a profecia deste artigo, e têm toques de ingenuidade e idiossincrasia também. Basicamente, com esse disco, HudMo foge com sucesso da produção de hip-hop para voltar à identidade que o fez famoso. É divertido, corajoso e eufórico.

A Warp está claramente orgulhosa do trabalho do produtor de Glasgow, e é animador e revigorante ver tanta energia sendo investida na promoção do seu trabalho. Em termos de colaborações, tem algumas com nomes maiores, como Antony Hegarty e Miguel, mas, no geral, o disco opta por nomes menos conhecidos para focar no homem por trás do monitor. Este disco poderia ser um divisor de águas para os discos de música eletrônica, enfatizando o potencial lucrativo e de sucesso dos produtores que buscam uma identidade própria em vez de se adequar às exigências do mainstream.

Ouça: "Ryderz"

Minha relação com a expressão "hit do verão" é dúbia. Ela pode ser tanto uma muleta jornalística quanto o termo mais adequado possível, se usada do jeito certo. O problema é que, na maioria das vezes, nós a usamos semi-ironicamente, aplicando-a a praticamente qualquer música lançada durante a estação.

Tenho me pegado usando-a bastante recentemente. De início, temi que o meu vocabulário tivesse se reduzido a um amontoado de clichês, e não demoraria muito até que a única palavra que eu conseguisse dizer em voz alta fosse "bombado". Então parei um pouco, refleti bastante sobre os próximos lançamentos e percebi uma coisa. Bem, quatro coisas, na verdade. Quatro discos britânicos, para ser exato, que prometem hits suficientes para a temporada inteira, capazes de criar o clima, encher a pista e ainda encerrar a noite. Não é o caso de eu estar sonhando alto demais, também. Estamos mesmo diante de um dos verões mais empolgantes para a música eletrônica e a dance music britânicas dos últimos tempos.

Esses discos fazem lembrar outra palavra com que tenho dificuldade: mainstream. O quarteto supracitado é formado por discos que vão invadir esse território, alcançando bons lugares nas paradas. De certa forma, isto é irrelevante. A dance music britânica ainda tem personalidade, é experimental e autêntica. Rotular esses discos como mainstream serve apenas para reconhecer que, embora sejam discos "legais" de música eletrônica, não vão ser difíceis de achar no Discogs. O que temos é uma fornada de lançamentos que poderia definir 2015 como um ano em que a dance music britânica ganhou mais popularidade sem ter que vender a sua alma no processo.

Jamie xx - In Colour - Young Turks - 01/06

Não havia grandes indicativos, quando o xx despontou com o seu disco de estreia homônimo, de que o seu produtor/percussionista altão e mal-humorado se tornaria uma das figuras mais importantes da música eletrônica britânica. Mas, depois de uma série de remixes e da elogiadíssima faixa "All Under One Roof Raving", Jamie xx rapidamente passou a ser uma dinâmica e desenvolvida promessa. Depois de ouvir In Colour, o seu disco de estreia como produtor, fica claro que ele irá se solidificar nessa posição. O disco não oferece muitas faixas bombantes, do tipo que te fariam jogar as mãos para cima, mas, em vez disso, opta por misturar a clássica dance music britânica com ritmos e melodias contemporâneos.

O LP é metade um disco de dance, metade um artefato que utiliza samples de MCs, evocando beats de house com influência de garage da virada do século. Isto não quer dizer que ele seja nostálgico de uma maneira enjoativa ou sentimental. Há uma vontade por trás da história – a vontade de fazer algo maior e melhor do que aquilo que o precedeu. Os singles principais, "Gosh" e "Loud Places", fazem um bom trabalho em destacar o que o disco faz de melhor, um mosaico de influências que soa contemporâneo e ressalta quão boa é a música eletrônica britânica hoje e de onde ela veio.

Ouça: "Gosh"

Hudson Mohawke - Lantern - Warp - 16/06

Até onde sabemos, o segundo disco solo do Hudson Mohawke vai arrebentar a cabeça de todo mundo. É uma viagem bizarra, parte trap frenético, parte R&B futurista, com pitadas constantes de gabba e happy hardcore. Muitas das faixas mais animadas são bombantes (desculpe, tive uma recaída), cumprindo perfeitamente a profecia deste artigo, e têm toques de ingenuidade e idiossincrasia também. Basicamente, com esse disco, HudMo foge com sucesso da produção de hip-hop para voltar à identidade que o fez famoso. É divertido, corajoso e eufórico.

A Warp está claramente orgulhosa do trabalho do produtor de Glasgow, e é animador e revigorante ver tanta energia sendo investida na promoção do seu trabalho. Em termos de colaborações, tem algumas com nomes maiores, como Antony Hegarty e Miguel, mas, no geral, o disco opta por nomes menos conhecidos para focar no homem por trás do monitor. Este disco poderia ser um divisor de águas para os discos de música eletrônica, enfatizando o potencial lucrativo e de sucesso dos produtores que buscam uma identidade própria em vez de se adequar às exigências do mainstream.

Ouça: "Ryderz"

Julio Bashmore - Knockin' Boots - Boardwalk - 10/07

Entre os lançamentos deste verão, o disco de estreia do Bashmore é provavelmente o mais explicitamente dance, mas também um dos casos de maior sucesso. Knockin' Boots é o primeiro disco a ser lançado pelo selo próprio do DJ e produtor de Bristol, o Broadwalk Records. O selo até agora se limitou a prensagens menores, mas depois desta ascensão meteórica, deve ter um sucesso exponencial.

O disco em si é uma sensível e animada coleção de houses incríveis, muitos deles evocando o movimento filter house de fins dos anos 90. O Bashmore é evidência de algo raro na dance music apresentando um som despretensiosa, que nunca foge para o lado mais superficial do espectro.

Ouça: "Holding On"

Disclosure - TBC

Os irmãos Lawrence dividem opiniões, mas antes de entrar na velha discussão de que "isto não é house/2-step de verdade", vale saber que eles nunca afirmaram ser ou fazer nada disso. Na verdade, durante uma entrevista ao Guardian, eles afirmaram que se veem fazendo "música pop no house". Esta espécie de house-hop é, de muitas maneiras, o que eles têm de inovador, pegando o house e o garage, transformando-os numa força incontrolável e levando a dance music britânica para as paradas internacionais. Simplificando, eles podem não ser o Larry Levan reencarnado em dois garotos brancos de Surrey, mas o seu sucesso ainda é digno de comemoração.

Ainda não sabemos direito quando o disco deles será lançado, mas considerando o enorme sucesso da sua última faixa, "Bang That", lançada no começo de maio – uma faixa que já foi ouvida mais de um milhão de vezes no Souncloud – isso não deve demorar. A julgar pelo single, podemos esperar mais faixas de incendiar as pistas. Por mais que você fale mal delas, você vai dançar. Involuntariamente.

Ouça: "Bang That"

Você pode incluir nessa lista uma série de outros candidatos. Há o épico de duas faixas do Four Tet, Morning/Evening, o recém-lançado Why Make Sense, do Hot Chip, além de lançamentos de gigantes da cena, como Chemical Brothers e Leftfield. Dito isso, nesta temporada de festivais, a figura do DJ/produtor vai estar mais em evidência do que nunca, com festivais de todos os gêneros reconhecendo a dance music em uma escala sem precedentes.

Muitos leitores podem se sentir inclinados a reclamar que muitos artistas underground não estão ganhando reconhecimento, ou mesmo que a viabilidade comercial não é sinal de sucesso ou de nenhum tipo de "era dourada". As duas afirmações são verdadeiras. No entanto, este não é o triunfo dos lançamentos deste verão. Levou algum anos para chegarmos a este nível, o verão de "Get Lucky", a ascensão de Calvin Harris, Avicii e todo o movimento EDM. Ainda assim, 2015 parece oferecer uma alternativa, uma abundância de dance music e música eletrônica com apelo popular mas, mais importante, personalidade também.

O que me leva de volta à questão original. A questão inevitável, tão velha quanto a própria música: qual dessas faixas vai ser o "hit do verão"? Meu palpite: "Inspector Norse".

Siga o Angus no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta

Julio Bashmore - Knockin' Boots - Boardwalk - 10/07

Entre os lançamentos deste verão, o disco de estreia do Bashmore é provavelmente o mais explicitamente dance, mas também um dos casos de maior sucesso. Knockin' Boots é o primeiro disco a ser lançado pelo selo próprio do DJ e produtor de Bristol, o Broadwalk Records. O selo até agora se limitou a prensagens menores, mas depois desta ascensão meteórica, deve ter um sucesso exponencial.

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O disco em si é uma sensível e animada coleção de houses incríveis, muitos deles evocando o movimento filter house de fins dos anos 90. O Bashmore é evidência de algo raro na dance music apresentando um som despretensiosa, que nunca foge para o lado mais superficial do espectro.

Ouça: "Holding On"

Disclosure - TBC

Os irmãos Lawrence dividem opiniões, mas antes de entrar na velha discussão de que "isto não é house/2-step de verdade", vale saber que eles nunca afirmaram ser ou fazer nada disso. Na verdade, durante uma entrevista ao Guardian, eles afirmaram que se veem fazendo "música pop no house". Esta espécie de house-hop é, de muitas maneiras, o que eles têm de inovador, pegando o house e o garage, transformando-os numa força incontrolável e levando a dance music britânica para as paradas internacionais. Simplificando, eles podem não ser o Larry Levan reencarnado em dois garotos brancos de Surrey, mas o seu sucesso ainda é digno de comemoração.

Ainda não sabemos direito quando o disco deles será lançado, mas considerando o enorme sucesso da sua última faixa, "Bang That", lançada no começo de maio – uma faixa que já foi ouvida mais de um milhão de vezes no Souncloud – isso não deve demorar. A julgar pelo single, podemos esperar mais faixas de incendiar as pistas. Por mais que você fale mal delas, você vai dançar. Involuntariamente.

Ouça: "Bang That"

Você pode incluir nessa lista uma série de outros candidatos. Há o épico de duas faixas do Four Tet, Morning/Evening, o recém-lançado Why Make Sense, do Hot Chip, além de lançamentos de gigantes da cena, como Chemical Brothers e Leftfield. Dito isso, nesta temporada de festivais, a figura do DJ/produtor vai estar mais em evidência do que nunca, com festivais de todos os gêneros reconhecendo a dance music em uma escala sem precedentes.

Muitos leitores podem se sentir inclinados a reclamar que muitos artistas underground não estão ganhando reconhecimento, ou mesmo que a viabilidade comercial não é sinal de sucesso ou de nenhum tipo de "era dourada". As duas afirmações são verdadeiras. No entanto, este não é o triunfo dos lançamentos deste verão. Levou algum anos para chegarmos a este nível, o verão de "Get Lucky", a ascensão de Calvin Harris, Avicii e todo o movimento EDM. Ainda assim, 2015 parece oferecer uma alternativa, uma abundância de dance music e música eletrônica com apelo popular mas, mais importante, personalidade também.

O que me leva de volta à questão original. A questão inevitável, tão velha quanto a própria música: qual dessas faixas vai ser o "hit do verão"? Meu palpite: "Inspector Norse".

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Tradução: Fernanda Botta