Fatboy Slim: "Algo Tem que Sobreviver Quando a Bolha do EDM Explodir"

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Fatboy Slim: "Algo Tem que Sobreviver Quando a Bolha do EDM Explodir"

Para o avô da eletrônica universitária, o gênero é "um esquema de pirâmide e assim que parar de fazer dinheiro, todo o castelo de cartas vai vir abaixo".

Ao entrar na casa de Norman Cook em Brighton você repara duas coisas. A primeira é sua coleção de prêmios — alguns Brits, um punhado de astronautas da MTV, uma bola de futebol assinada por Tim Lovejoy que comemora suas aparições no Soccer AM. A segunda é um armário luminoso difícil de ignorar transbordando de ícones sorridentes de tudo, do riponguismo de São Francisco à face amarela do acid house: o smiley.

Publicidade

O Smiley, aquela carinha amarela sorrindo altamente propagada nas placas de SORRIA VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO, e a noção de sorrir, se tornam inseparáveis de Cook enquanto pessoa quando você está em sua presença. Ele está perpetuamente prestes a mostrar seus dentes durante toda nossa conversa.

Como o Fatboy Slim levou seus beats para a Broadway

Fui ao litoral de Brighton em uma manhã de ventania. Ondas batiam contra as janelas da sala de Cook enquanto conversávamos. Fui convidado, nominalmente, para falar sobre três assuntos: seu Smile High Club, o vigésimo aniversário de seu selo Skint, e o relançamento de seu álbum de 2000, Halfway Between The Gutter and The Stars

Eu não preciso recontar para você sua conhecida carreira como produtor, remixer e DJ. Mesmo aqueles que devotam seus fins de semana ao mais obscuro underground em porões úmidos já entraram em contato com a música de Fatboy Slim. Ele é o DJ de camisa havaiana que faz sua mãe sacudir a cabeça no carro, ele é a atração de palco principal que o seu irmão recém saído da puberdade está louco para ver esse verão, o experiente produtor que fez a trilha sonora de milhares de jogos de segunda divisão do futebol britânico. Ele é parte inseparável da cultura britânica contemporânea. Ele é, como ele mesmo se descreve, "um sujeito tocando discos e sacudindo os próprios braços".

O passado foi entrando em nossa conversa, mas na maior parte do tempo Cook estava focado em onde ele está agora e para onde, como um pai de dois filhos, aos 51 anos de idade, está indo. O plano atual é ir para os lados. Ele irá começar esse processo no Creamfields e SW4 esse verão. "Eu toquei nos dois festivais tantas vezes, então decidimos ramificar e me pediram para cuidar de uma arena", diz ele. "Eu meio que já fiz isso antes, mas o que acontece geralmente é que você escolhe alguns dos shows e você faz um pouco de publicidade. Ano passado foi o Eat Sleep Rave Repeat mas eu não estava tão envolvido com ele fora do branding. Nós estávamos preocupados em como fazer a marca do festival, como deixá-lo diferente, como fazê-lo nosso. Nós queríamos criar uma vibe dentro de uma estrutura imensa que a fizesse sentir diferente de apenas outra tenda em mais um festival. Então fizemos um brainstorming e tivemos umas sessões para pensar livremente e surgimos com o Smile High Club."

Publicidade

Para os não iniciados, Cook não vai convidar foliões para se juntar um banheiro de avião barato para uma sessão de amor a 35 mil pés acima do solo. Ao invés disso, quatro fãs sortudos irão ser lançados de show a show em um avião particular. "Eles irão voar entre os shows enquanto eu vou de carro, então eles serão mais VIPs do que eu", diz Cook. O que parece certa demonstração de segurança financeira em tempos de agitação econômica faz um pouco mais de sentido dentro do contexto da campanha Random Acts, os Smilyness que Cook e seu time estão integrando à experiência do festival nesse verão. Qualquer crença pessoal sobre uma possível vulgaridade de tal esquema — ainda que se trate de algo feliz-de-mais-da-conta, é inegavel que temos aí um golpe de marketing bem dado, um esquema cuidadosamente planejado e construído — derrete frente a essa possitividade cheia de dentes. Explicando o conceito para mim, Cook está convencido que seu novo projeto é mais sobre inclusão que procura fomentar uma euforia genuína. "Eu sempre acreditei em me comunicar com o público e fazê-los sorrir enquanto dançam. Algumas pessoas pertencem ao underground pervertido, e às vezes eu gostaria de poder fazer isso". Durante um segundo, o sorriso de Cook parece esvair imperceptivelmente. "Mas não é o meu forte. Eu não estou atacando pessoas que levam a sério a sua música porque eu também levo. Ainda assim, também levo bem a sério dar uma festa". E lá está o produtor sorrindo de novo.

Publicidade

Esse sorriso não significa necessariamente insegurança, mas parece ocasionalmente desarmar Cook. Você, por exemplo, pode esquecer o sujeito à sua frente não é apenas alguém que toca músicas de festa no pub antes de um feriado, até o momento em que se pergunta como deve ser tocar para um quarto de milhões de pessoas em uma praia ("eu tinha a polícia baforando no meu pescoço dizendo que se qualquer coisa desse errado o evento todo seria cancelado. Eles me disseram, 'alguém vai morrer essa noite'") ou se superstars DJs já se sentiram alguma vez como DJs superstar ("é meio embaraçoso porque você não quer dizer, 'sim, eu sou um DJ superstar', mas você se sente como um superstar e te tratam como um superstar"). De volta ao passado, quando a primeira carreira de Cook — como um baixista da banda da cidade de Hull The Housemartins — gradualmente chegou ao fim, ele se jogou integralmente nessas de ser um DJ, ainda que nunca tenha imaginando o que viria a seguir. De sementes (um remix de Eric B e Rakim, com suas produções solo como "Dub Be Good to Me") vieram árvores gigantescas.

Nós voltamos àqueles impetuosos anos de começo de carreira ao final dos anos oitenta. Aqui em 2015 nós parecemos estar prontos para uma nova versão do second summer of love britânico - a explosão do acid house na INglaterra entre 1988 e 1989. O acid house nunca deixou os clubes de fato. Cook presenciou seu nascimento aqui no Reino Unido. "Esse foi o primeiro second summer of love e o verão que eu me mudei de volta para Brighton de Hull porque 1988 não aconteceu até mais ou menos 1991 em Hull. Todos os meus amigos estavam usando bandanas de smiley e falando 'aciiiiiiiiiidd' e eu fiquei pensando, 'do que eles estão falando?'. Então eles me levaram para Tonka e me dera uma pílula".

Publicidade

As lendárias festas Tonka invadiam as praias de Brighton, comandadas pelo inimitável DJ Harvey e seu amigo Chocci, entre outros. "Eles tinham seguidores fanáticos que sabiam que eles faziam as melhores festas em termos da música, do ambiente e da atmosfera que eles produziam", Cook diz. "Aquela foi a primeira vez que você viu DJs alcançarem o status de deuses. O fato que Harvey tinha essa aparência parecida com Jesus ajudava também. Tem gente da minha idade que fica com os olhos marejados quando se lembram daquelas festas."

O mix tutti frutti do Tonka veio a ser conhecido como Balearic e o então nascente acid house foi um abrir de olhos para o ex-indie-rocker, mas foi o zine Boy's Own de Terry Farley e Andrew Weatherall (e uma semana em Butlins em Bognor Regis) que providenciou a Cook seu momento eufórico de epifania. "Meus amigos me arrastaram para lá e eu nunca tinha sacado esse negócio de acid. Eu vi Darren Emerson tocar, que eu só fiquei sabendo quem era anos depois. Estava contando pra ele essa história de ver alguém tocar duas cópias de "I'll Be Your Friend" de Robert Owens e todos estarem se abraçando, mãos no ar, e minha cabeça apenas fez 'wooossh, eu saquei!' " ele diz. "Eram todos aqueles sons de acid que funcionam com o ecstasy. Então eu contei isso pra Darren e ele disse 'Sim, era eu discotecando!' Esse foi o momento. Além de fazer coisas de hip hop, foi o momento que eu comecei a fazer house."

Publicidade

Quando questionado sobre por que nós costumamos reviver as coisas, Cook tem a convicção de que o EDM é responsável por nossa obsessão pelo passado. "Eu acho que as pessoas querem tomar de volta o house do EDM. Ou sendo puristas ou agindo de maneira mais pura. É sobre tentar devolver o house ao que ele era e resgatá-lo pelo lado mais comercial das coisas".

"A nostalgia está baseada na espera do retorno de velhos valores," continua Cook. "Pessoas recriando batalhas medievais ou construindo tendas mongóis, é tudo sobre tentar resgatar antigos valores. Tudo isso que está acontecendo na dance music representa as pessoas querendo voltar a sentir a genuina euforia, em vez da euforia artificial dessa geração".

Enquanto Cook é, e sempre foi, uma escolha popular e um sucesso comercial, ele se enxerga como uma entidade completamente separada dos grupos que tocam em estádios. "Não se engane: o EDM vai queimar na própria chama. O gênero é baseado em um esquema de pirâmide para fazer dinheiro e assim que parar de fazer dinheiro, todo o castelo de cartas vai vir abaixo. Algo tem que sobreviver quando a bolha do EDM explodir".

Antes de eu voltar ao meu dia inglês perfeitamente nublado, tinha uma última pergunta para Cook. Depois de tocar em todos os festivais do mundo e lotar estádios, como um homem dedicado a fazer os outros sorrirem faz ele mesmo sorrir? "Eu tenho um pequeno ritual: bebo uns três Red Bulls, tiro meus sapatos, coloco minha camisa havaiana e visto o personagem. Logo antes de ir para o palco o meu gerente de turnê me dá dois tapas fortes nas duas bochecas para que eu entre no palco lutando. Assim eu posso ver que lá estão mais de dez pessoas empolgadas com meu show, assim que eu me seguro nisso, meu estado mental se parece a quando eu era um moleque doidão de 17 anos de idade".

Publicidade

Nós o deixamos, sorrindo.

Além do relançamento de Halfway Between the Gutter and the Stars (disponível agora) e do recentemente lançado box de 4CDs The Fatboy Slim Collection, no meio de Agosto será lançada a compilação 20 Years of Being Skint. Porque você não entra no clima para um verão de Fatboy tocando esse remix exclusivo abaixo?

Siga Fatboy Slim no Facebook // Twitter

Siga Josh no Twitter

Traduzido por Pedro Moreira