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Música

O pioneiro do ‘deep funk’, Keb Darge, agora só toca rockabilly e garage 60’s

O DJ britânico e colecionador voraz de discos toca nesta sexta (29) em São Paulo, na edição de oito anos da Talco Bells.

Keb Darge é um DJ que toca dance music em sua forma dinossáurica. Ou seja, discos prensados antes que o termo virasse sinônimo de batidas eletrônicas. Filho de escoceses radicado em Londres, ele começou a carreira como dançarino de break e logo começou a colecionar e a discotecar compactos de northern soul e funk. Em 1981, ele já era um DJ conhecido e, anos mais tarde, virou representante de uma pegada que ganhou o nome de "deep funk". Apesar de ser uma influência para a primeira geração de DJs de house e rap, Keb nunca aderiu a esses gêneros. Mesmo depois de se tornar amigo próximo de gente como Madlib, DJ Shadow e Cut Chemist, seus interesses continuam sendo os rítmos garimpados de antigos discos em 45 rotações.

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Com o apoio do selo BBE, suas descobertas têm preenchido, desde 1996, coletâneas temáticas com sons de surpreendente qualidade. Atualmente, Keb vem se dedicando mais ao resgate de preciosidades do rockabilly, da surf music e garageiras dos anos sessenta. É basicamente isso que ele traz na bagagem para a edição de oito anos da festa Talco Bells, que rola nesta sexta (29) no Cine Joia, em São Paulo. Discotecam também Guilherme Luna, Filipe Luna e Elohim Barros. Os ingressos custam entre R$ 30 e R$ 50 — clique aqui para comprar. Aproveitamos a sua vinda ao Brasil e trocamos uma ideia com o Keb, que falou um pouco a respeito de sua trajetória, da residência no famoso clube londrino Madame Jojo's, e por que, afinal, ele não curte nem rap nem eletrônico.

BBE/Divulgação

THUMP: O que você sabe sobre a festa na qual vai tocar aqui no Brasil, a Talco Bells, e que estilos está trazendo pra cá? Anos 50, 60, rockabilly, northern soul?
Keb Darge: Ouvi dizer que é uma festa baseada em funk, soul e hip hop, e que acontece em um bonito imóvel antigo. Eu amo lugares antigos. Funk e soul são coisas que já toquei por muitos anos, então fiquei um pouco enjoado. Ainda curto esse tipo de som, mas como DJ não quero mais tocar essas coisas. Hip hop eu nunca gostei. Hoje, meus sets tendem a ser, na maior parte, garage dos anos sessenta com um toque de rockabilly e alguns instrumentais de surf music. Existe uma infinidade de excelentes e poderosos discos de sixties garage que nunca foram tocados nos clubs. Isso me deixa empolgado, e até agora esses sons têm funcionado muito bem nos clubs onde já os toquei. A música das antigas tem encontrado bastante espaço em toda a Europa, mas o sixties garage parece passar batido pela maioria dos DJ sets. Talvez porque essas gravações sejam muito difíceis de se encontrar, ou porque não seja considerado cool discotecar músicas de artistas brancos [risos]. Já o rockabilly vem crescendo novamente nos últimos dez anos.

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O funk e o soul, de certo modo, contêm os ingredientes que deram luz a estilos como a house, o electro, o techno e o rap. Mas você nunca mergulhou nessas vertentes musicais. Por quê?
Eu sempre percebi esses estilos como vazios, pobres e sem alma. Para mim, ter um vocal gospel com pegada soul gritando "Gonna take you higher" não garante "alma" a uma gravação. Minha interpretação de "soul" é uma honesta abordagem da música desde as entranhas, não simplesmente usar um vocal negro. Acredito que Hank Williams tinha uma das vozes mais cheias de alma que já pude ouvir. É necessário que exista alma também na base da música para que eu sinta o prazer de ouví-la. Samples e batidas eletrônicas apenas me fazem sentir frio. Consigo encontrar mais alma na música hillbilly do que em todos os estilos de música surgidos depois da década de setenta. Talvez isso tenha a ver com o fato de que tudo pareça tão contido para mim, até a postura dos vocalistas me soa falsa na maioria dos casos. Se você compila as faixas como se fossem números numa tela de computador, como é possível obter algum sentimento humano a partir daquilo? Compreendo a excitação das batidas pesadas, mas isso parece ser o ápice das possibilidades.

Keb Darge é um DJ que toca dance music em sua forma dinossáurica. Ou seja, discos prensados antes que o termo virasse sinônimo de batidas eletrônicas. Filho de escoceses radicado em Londres, ele começou a carreira como dançarino de break e logo começou a colecionar e a discotecar compactos de northern soul e funk. Em 1981, ele já era um DJ conhecido e, anos mais tarde, virou representante de uma pegada que ganhou o nome de "deep funk". Apesar de ser uma influência para a primeira geração de DJs de house e rap, Keb nunca aderiu a esses gêneros. Mesmo depois de se tornar amigo próximo de gente como Madlib, DJ Shadow e Cut Chemist, seus interesses continuam sendo os rítmos garimpados de antigos discos em 45 rotações.

Com o apoio do selo BBE, suas descobertas têm preenchido, desde 1996, coletâneas temáticas com sons de surpreendente qualidade. Atualmente, Keb vem se dedicando mais ao resgate de preciosidades do rockabilly, da surf music e garageiras dos anos sessenta. É basicamente isso que ele traz na bagagem para a edição de oito anos da festa Talco Bells, que rola nesta sexta (29) no Cine Joia, em São Paulo. Discotecam também Guilherme Luna, Filipe Luna e Elohim Barros. Os ingressos custam entre R$ 30 e R$ 50 — clique aqui para comprar. Aproveitamos a sua vinda ao Brasil e trocamos uma ideia com o Keb, que falou um pouco a respeito de sua trajetória, da residência no famoso clube londrino Madame Jojo's, e por que, afinal, ele não curte nem rap nem eletrônico.


BBE/Divulgação

THUMP: O que você sabe sobre a festa na qual vai tocar aqui no Brasil, a Talco Bells, e que estilos está trazendo pra cá? Anos 50, 60, rockabilly, northern soul?
Keb Darge: Ouvi dizer que é uma festa baseada em funk, soul e hip hop, e que acontece em um bonito imóvel antigo. Eu amo lugares antigos. Funk e soul são coisas que já toquei por muitos anos, então fiquei um pouco enjoado. Ainda curto esse tipo de som, mas como DJ não quero mais tocar essas coisas. Hip hop eu nunca gostei. Hoje, meus sets tendem a ser, na maior parte, garage dos anos sessenta com um toque de rockabilly e alguns instrumentais de surf music. Existe uma infinidade de excelentes e poderosos discos de sixties garage que nunca foram tocados nos clubs. Isso me deixa empolgado, e até agora esses sons têm funcionado muito bem nos clubs onde já os toquei. A música das antigas tem encontrado bastante espaço em toda a Europa, mas o sixties garage parece passar batido pela maioria dos DJ sets. Talvez porque essas gravações sejam muito difíceis de se encontrar, ou porque não seja considerado cool discotecar músicas de artistas brancos [risos]. Já o rockabilly vem crescendo novamente nos últimos dez anos.

O funk e o soul, de certo modo, contêm os ingredientes que deram luz a estilos como a house, o electro, o techno e o rap. Mas você nunca mergulhou nessas vertentes musicais. Por quê?
Eu sempre percebi esses estilos como vazios, pobres e sem alma. Para mim, ter um vocal gospel com pegada soul gritando "Gonna take you higher" não garante "alma" a uma gravação. Minha interpretação de "soul" é uma honesta abordagem da música desde as entranhas, não simplesmente usar um vocal negro. Acredito que Hank Williams tinha uma das vozes mais cheias de alma que já pude ouvir. É necessário que exista alma também na base da música para que eu sinta o prazer de ouví-la. Samples e batidas eletrônicas apenas me fazem sentir frio. Consigo encontrar mais alma na música hillbilly do que em todos os estilos de música surgidos depois da década de setenta. Talvez isso tenha a ver com o fato de que tudo pareça tão contido para mim, até a postura dos vocalistas me soa falsa na maioria dos casos. Se você compila as faixas como se fossem números numa tela de computador, como é possível obter algum sentimento humano a partir daquilo? Compreendo a excitação das batidas pesadas, mas isso parece ser o ápice das possibilidades.

Você coleciona álbuns, ou somente compactos?
Eu não tenho nenhum álbum em minha coleção. Sempre colecionei os 45 rotações. Como não sou um cara rico, vez ou outra eu precisei me desfazer de alguns discos para poder comprar outros. Também me divorciei três vezes, tudo porque tenho um amor maior pelos meus discos do que por minhas mulheres, e precisei vender muitos discos ótimos em todas as ocasiões [risos]. No fim, acabei ficando com certa de três mil discos, mas só ouro, nada pra encher linguiça. Mantive uma seleção de coisas tipo northern soul, soul dos anos 70, R&B dos anos 50, rockabilly, surf music, garage dos anos 60, e uma pilha de imbatíveis instrumentais. Seis anos atrás, vendi toda a minha coleção de funks em 45 rotações. Só mantive os discos de que realmente gostava, independente de serem clássicos genéricos, ultra raros ou coisas interessantes pouco conhecidas.

Quando foi a primeira e última vez que você se surpreendeu com a descoberta de algum artista? Fica mais difícil se apaixorar por novos sons depois de conhecer todos os mestres do passado?
A razão pela qual eu venho pesquisando o garage dos anos sessenta agora é porque existe muita coisa para ser descoberta. Nunca fui pelos artistas, já que a maioria tende a criar um ou dois discos de qualidade apenas, seguidos de uma pilha de pastiches de baixa relevância. Sempre busquei por discos específicos que me empolgavam. Na verdade, a maioria dos meus discos preferidos são de artistas que fizeram somente um, ou talvez dois, 45 rotações, e que nunca tiveram verba ou apoio para gravar um álbum. No momento, eu não conseguiria voltar a tocar soul na mesma pegada de antes. Hoje, quando aparece uma grande nova descoberta, o preço instantaneamente sobe para centenas de dólares. Coisas que antigamente custavam barato porque havia pouca gente interessada e os comerciantes não faziam ideia do que tinham em mãos.

Fui recentemente a uma festa de soul em Londres, onde o Mark "Butch" Dobson estava tocando. Fomos amigos próximos por quase 40 anos, mas não nos vemos com tanta frequência hoje em dia. O Mark costumava me arranjar uns discos na minha fase de DJ de soul. Ele foi, sem dúvidas, o maior garimpeiro de grandes faixas nos últimos 30 anos, e hoje ele está anos à frente de qualquer outro DJ tocando raridades do soul. Naquela noite ele tocou três novas descobertas de soul dos anos setenta que me deixaram atônito. Eu nunca tinha escutado aquilo antes na minha vida, nem mesmo o restante do público. Um dos discos, ele estava tocando com uma etiqueta sobre o rótulo, onde lia-se um falso nome, o outro, era um acetato de estúdio nunca lançado (provavelmente a única cópia já feita), e o terceiro, junto aos meus camaradas de colecionadores mais vorazes, descobri que era uma das duas únicas cópias existentes. Já testemunhei discos como esses trocarem de mãos por mais de dez mil dólares recentemente. Não consigo competir com esses valores. Por sorte, no entanto, as garageiras sessentistas ainda não chegaram nesses preços absurdos, e são tão boas quanto. Em alguns casos, igualmente raras.

Soho Surf with Keb Darge (18/12/2015) by Soho Radio on Mixcloud

Quais são as melhores lembranças que você tem da época de residente do Madame Jojo's?
A melhor lembrança do Jo Jo's é que o lugar estava sempre cheio de dançarinos cheios de boas vibrações todas as semanas por 18 anos. Eu fiquei muito pra baixo quando voltei das Filipinas e encontrei a casa fechada.

Qual a história mais maluca que já rolou por lá?
Bem, uma vez eu pulei do palco para brigar com quatro caras que estavam mexendo com uma menina. Parecia a cena de um filme do Bruce Lee, que fez valer todos aqueles anos pagos de aulas de artes marciais [risos]. Quando voltei para o palco, todo mundo estava comemorando e me aplaudindo, o que fez muito bem para o meu ego [risos].

Algum outro fato curioso?
Fiz amizade com um camarada que tinha uma barba tão comprida que parecia até um dos integrantes do ZZ Top. Ele me perguntou se podia ficar perto da cabine pra anotar os nomes dos discos que eu estava tocando. Pelas cinco semanas seguintes, ele chegava na balada assim que as portas se abriam, sempre elegante. Começamos a conversar e ele me contou que era colecionador de compactos de blues e rockabilly. Eventualmente, ele me falou que precisava voltar pros Estados Unidos, e que aquela era a sua última noite. Ele agradeceu a gentileza e me entregou o seu cartão, dizendo para que o procurasse caso algum dia fosse para os lados de Hollywood ou Texas. Só então me toquei que era realmente o Billy Gibbons, do ZZ Top.

Havia uns assíduos meio entranhos. O Mick Jagger costumava se sentar no bar e ficava lá balançando a cabeça. Ele nunca veio conversar comigo, mas antes de ir embora, sempre passava perto da cabine e fazia um sinal de cumprimento. O Paul Weller ficava me ligando regularmente, sempre um dia antes da festa, pra perguntar se ele podia leva uns discos pra tocar. Aquilo deixava o público surpreso. Como fazia alguns anos que eu andava passando secretamente uns discos pra ele, não soava inconcebível pra mim. Sei que é estranho eu não curtir hip hop ou house com todos os grandes nomes do hip hop e da house que já tocaram lá sem pedir cachê. Jazzy Jeff, Pete Rock, Madlib, DJ Shadow, Cut Chemist, Rick Rubin, Kenny Dope e Spina, entre outros. Claro que, na minha festa, eles só tocavam funk ou soul. Eu não permitiria que tocassem suas próprias músicas. Eles tocavam apenas em troca de uns drinques grátis, e se divertiam bastante.

Ouvi dizer que você começou como dançarino. Que tipo de dança e com que idade?
Aos 16 anos, em 1973, eu entrei pra cena do northern soul. Na época eu também lutava taekwondo, daí achei os passos de break meio fáceis de fazer.

Nessa época você já colecionava discos?
Ainda não tinha interesse em discos. Eu só pensava que se me tornasse um dançarino estiloso isso me ajudaria a pegar umas minas. Nessa época eu ainda era virgem, vai vendo.

Com que projetos você está envolvido no momento? Depois do quinto volume da série Legendary Wild Rockers (dedicaca às raridades do rockabilly) podemos esperar uma nova séria, agora voltada a cobrir o garage-punk dos anos 60?
O Cut Chemist e eu acabamos de finalizar uma coletânea de sixties garage para a BBE. Ele e o DJ Shadow me disseram, anos atrás, que eu ia pirar em sixties garage se escutasse com atenção. Eles já eram colecionadores há um bom tempo, mas eu não dei muita trela, já que estava envolvido com funk e soul na época. Eu queria voltar no tempo para dar ouvido a eles. Existem tantos discos incríveis para serem garimpados nesse gênero, que eu vou acabar morrendo sem conseguir descobrir tudo... [risos].

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Você coleciona álbuns, ou somente compactos?
Eu não tenho nenhum álbum em minha coleção. Sempre colecionei os 45 rotações. Como não sou um cara rico, vez ou outra eu precisei me desfazer de alguns discos para poder comprar outros. Também me divorciei três vezes, tudo porque tenho um amor maior pelos meus discos do que por minhas mulheres, e precisei vender muitos discos ótimos em todas as ocasiões [risos]. No fim, acabei ficando com certa de três mil discos, mas só ouro, nada pra encher linguiça. Mantive uma seleção de coisas tipo northern soul, soul dos anos 70, R&B dos anos 50, rockabilly, surf music, garage dos anos 60, e uma pilha de imbatíveis instrumentais. Seis anos atrás, vendi toda a minha coleção de funks em 45 rotações. Só mantive os discos de que realmente gostava, independente de serem clássicos genéricos, ultra raros ou coisas interessantes pouco conhecidas.

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Quando foi a primeira e última vez que você se surpreendeu com a descoberta de algum artista? Fica mais difícil se apaixorar por novos sons depois de conhecer todos os mestres do passado?
A razão pela qual eu venho pesquisando o garage dos anos sessenta agora é porque existe muita coisa para ser descoberta. Nunca fui pelos artistas, já que a maioria tende a criar um ou dois discos de qualidade apenas, seguidos de uma pilha de pastiches de baixa relevância. Sempre busquei por discos específicos que me empolgavam. Na verdade, a maioria dos meus discos preferidos são de artistas que fizeram somente um, ou talvez dois, 45 rotações, e que nunca tiveram verba ou apoio para gravar um álbum. No momento, eu não conseguiria voltar a tocar soul na mesma pegada de antes. Hoje, quando aparece uma grande nova descoberta, o preço instantaneamente sobe para centenas de dólares. Coisas que antigamente custavam barato porque havia pouca gente interessada e os comerciantes não faziam ideia do que tinham em mãos.

Fui recentemente a uma festa de soul em Londres, onde o Mark "Butch" Dobson estava tocando. Fomos amigos próximos por quase 40 anos, mas não nos vemos com tanta frequência hoje em dia. O Mark costumava me arranjar uns discos na minha fase de DJ de soul. Ele foi, sem dúvidas, o maior garimpeiro de grandes faixas nos últimos 30 anos, e hoje ele está anos à frente de qualquer outro DJ tocando raridades do soul. Naquela noite ele tocou três novas descobertas de soul dos anos setenta que me deixaram atônito. Eu nunca tinha escutado aquilo antes na minha vida, nem mesmo o restante do público. Um dos discos, ele estava tocando com uma etiqueta sobre o rótulo, onde lia-se um falso nome, o outro, era um acetato de estúdio nunca lançado (provavelmente a única cópia já feita), e o terceiro, junto aos meus camaradas de colecionadores mais vorazes, descobri que era uma das duas únicas cópias existentes. Já testemunhei discos como esses trocarem de mãos por mais de dez mil dólares recentemente. Não consigo competir com esses valores. Por sorte, no entanto, as garageiras sessentistas ainda não chegaram nesses preços absurdos, e são tão boas quanto. Em alguns casos, igualmente raras.

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Quais são as melhores lembranças que você tem da época de residente do Madame Jojo's?
A melhor lembrança do Jo Jo's é que o lugar estava sempre cheio de dançarinos cheios de boas vibrações todas as semanas por 18 anos. Eu fiquei muito pra baixo quando voltei das Filipinas e encontrei a casa fechada.

Qual a história mais maluca que já rolou por lá?
Bem, uma vez eu pulei do palco para brigar com quatro caras que estavam mexendo com uma menina. Parecia a cena de um filme do Bruce Lee, que fez valer todos aqueles anos pagos de aulas de artes marciais [risos]. Quando voltei para o palco, todo mundo estava comemorando e me aplaudindo, o que fez muito bem para o meu ego [risos].

Algum outro fato curioso?
Fiz amizade com um camarada que tinha uma barba tão comprida que parecia até um dos integrantes do ZZ Top. Ele me perguntou se podia ficar perto da cabine pra anotar os nomes dos discos que eu estava tocando. Pelas cinco semanas seguintes, ele chegava na balada assim que as portas se abriam, sempre elegante. Começamos a conversar e ele me contou que era colecionador de compactos de blues e rockabilly. Eventualmente, ele me falou que precisava voltar pros Estados Unidos, e que aquela era a sua última noite. Ele agradeceu a gentileza e me entregou o seu cartão, dizendo para que o procurasse caso algum dia fosse para os lados de Hollywood ou Texas. Só então me toquei que era realmente o Billy Gibbons, do ZZ Top.

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Ouvi dizer que você começou como dançarino. Que tipo de dança e com que idade?
Aos 16 anos, em 1973, eu entrei pra cena do northern soul. Na época eu também lutava taekwondo, daí achei os passos de break meio fáceis de fazer.

Nessa época você já colecionava discos?
Ainda não tinha interesse em discos. Eu só pensava que se me tornasse um dançarino estiloso isso me ajudaria a pegar umas minas. Nessa época eu ainda era virgem, vai vendo.

Com que projetos você está envolvido no momento? Depois do quinto volume da série Legendary Wild Rockers (dedicaca às raridades do rockabilly) podemos esperar uma nova séria, agora voltada a cobrir o garage-punk dos anos 60?
O Cut Chemist e eu acabamos de finalizar uma coletânea de sixties garage para a BBE. Ele e o DJ Shadow me disseram, anos atrás, que eu ia pirar em sixties garage se escutasse com atenção. Eles já eram colecionadores há um bom tempo, mas eu não dei muita trela, já que estava envolvido com funk e soul na época. Eu queria voltar no tempo para dar ouvido a eles. Existem tantos discos incríveis para serem garimpados nesse gênero, que eu vou acabar morrendo sem conseguir descobrir tudo… [risos].

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