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Música

A Festa da PC Music em Nova York Parecia um Carnaval Publicitário

Agora que o selo britânico é patrocinado pela Red Bull, será que eles vão poder continuar tirando essa onda de crítico de cultura de massa?
Erez Avissar

Todas as fotos por Erez Avissar

A PC Music ocupa um lugar muito esquisito no cenário atual da cultura pop. Neste exato momento, o selo britânico não poderia estar mais em evidência - e é amado e odiado por esse mesmo motivo. Durante os menos de dois anos de existência do coletivo, ele evoluiu de fenômeno da internet para algo próximo de um movimento. Um espalhafatoso showcase e o lançamento da sua primeira compilação só aumentaram o buzz, e os repórteres do New York Times se juntaram aos blogueiros de música para tentar descobrir, afinal, do que se trata essa música pop distintamente distópica.

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Na sexta-feira passada (8), a PC Music revelou o seu próximo passo: o lançamento de uma falsa emissora de reality shows chamada Pop Cube. O evento, que teve os ingressos esgotados, aconteceu dentro do Red Bull Music Academy Festival, em Nova York, e este patrocínio permitiu que o pequeno selo realizasse um elaborado showcase, que não poderia ter acontecido com um orçamento menor - incluindo o uso do prédio de um centro de artes no Brooklyn e trailers promocionais caríssimos, que capturam perfeitamente a fanfarronice deles (assista este vídeo aqui, em que a GOFTY faz propaganda de "bloffee" - sim, boquetes e café).

Nos bastidores com a QT

Essa parceria estratégica, no entanto, desestruturou a base conceitual da PC Music - ou, pelo menos, criou uma nova camada de tensão que não existia antes na sua obra. Muitas das músicas da PC Music são cheias de ganchos cafonas que fazem você se sentir como se alguém estivesse acertando os seus receptores de dopamina com uma marreta. A sua adoção meio sincera, meio irônica da cafonice e da futilidade lhe rendeu o título de "Jeff Koons do mundo pop". Os detratores criticam a superficialidade enjoativa da música da PC Music, mas ainda assim, sob toda a música pop acetinada, há uma crítica ao consumo de massa e ao capitalismo avançado.

É isso que torna o PC Music tão subversivo: o fato de que eles vomitam o sistema consumista no qual todos estamos implicitamente inseridos e pelo qual somos todos implicitamente fodidos na nossa cara. Uma das estrelas do selo, QT, tem até uma persona dedicada a promover um energético totalmente fictício. A performance dela/dele se baseia na imitação do visual e da linguagem do branding corporativo, mas tudo isso, em última instância, leva a um beco sem saída você não pode comprar nada.

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De modo similar, quando a GFOTY disse a um estupefato repórter do Guardian que a mensagem subliminar da música dela é "me coma e me dê o seu dinheiro", você sabe que ela está parodiando rainhas como Beyoncé e Britney, assim como as décadas de pop comercial que as precederam.

O fundador do PC Music, A.G. Cook

Durante o seu showcase na SXSW, um dos visuais durante o set do fundador do selo, A.G. Cook, incluía um logo da Beats Music sem qualquer motivo aparente. Meu colega Kyle Kramer descreveu o momento como "uma referência engraçada a uma semana em que basicamente todos os shows estavam completamente tomados por logos dos patrocinadores."

Mas o evento da última sexta foi diferente. Agora que a PC Music é patrocinada pela Red Bull, onde essa piada termina? Será que a trollagem consciente da cultura de massa do selo pode funcionar ainda, agora que ele caminha de braços dados com a mercantilização? Como podemos acreditar na sua crítica ao culto à celebridade quando uma corporação está usando a sua recente fama para nos vender energéticos?

Hannah Diamond

Pelo menos, o selo parecia estar extremamente consciente desta tensão e respondeu a ela do seu jeito característico: apropriando-se e, simultaneamente, rindo dos seus senhores corporativos.

A noite começou com os artistas da PC Music pulando de uma limusine branca direto para um tapete vermelho, onde foram recebidos por falsos paparazzi, que faziam perguntas como "Você bebe Red Bull?". Para uma a uma multidão crescente de convidados, a QT tocou um set de dentro de um tanque de Red Bull. Depois, o energético dela foi guardado no mesmo tipo de mini refrigerador que estocava latas de Red Bull. (De longe, era difícil diferenciar um do outro). Até o A.G. Cook apareceu vestindo uma camisa com a logomarca da Red Bull.

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O evento continuou com cada um dos grandes artistas do selo apresentando sets de meia hora, com graus variados de sucesso. Todo mundo surtou quando o Danny L Harle trouxe um trio de cordas e um cravista para o palco, misturando notas clássicas e acordes de rave. O set de encerramento do SOPHIE, durante o qual ele tocou três faixas da Charli XCX, também empolgou todo mundo no nível de uma trincação de açúcar.

GFOTY (Girlfriend of the Year)

Graças à sua enorme personalidade, a GFOTY se destacou, desfilando pelo palco em um biquíni recheado de notas falsas de 100 dólares. Os seus comentários no palco canalizavam o humor ácido da Nichole Richie na época de The Simple Life. Ela dizia repetidamente: "A GFOTY é foda! Não acredito que estou no show da GFOTY!". Quando uma palmeira inflável flutuou sobre a plateia, ela gritou: "Afastem essa palmeira de mim, é nojenta!". Mas o nível de energia da plateia diminuiu perceptivelmente durante as performances da Hannah Diamond e da QT; até o virtuoso A.G. Cook teve dificuldade em fazer a galera dançar.

Dev Hynes, do Blood Orange

Em última análise, a coisa mais interessante que aconteceu no lançamento da Pop Cube não tinha nada a ver com uma crítica às corporações. Durante o set do Dux Content (A.G. Cook + Danny L Harle), um dos artistas mais recentes do selo, Thy Slaughter, subitamente apareceu atrás de uma parede de vidro, acompanhado do Dev Hynes, do Blood Orange.

Best part of PC Music Pop Cube pic.twitter.com/6QJr1g1Xqz
— Trolland Barthes (@MichelleLhooq) May 11, 2015

Em uma demonstração de atitude roqueira, o vocalista tomou grandes goles de uísque enquanto berrava no microfone. Mas a multidão colada no vidro não conseguia ouvir uma só nota do que eles estavam tocando as caixas estavam reproduzindo a barulheira disco do Dux Content. O efeito gerou um pouco de confusão, foi bastante divertido e completamente hilário o PC Music na sua melhor forma. Também foi punk pra caralho.

Michelle Lhooq é Editora Assistente do THUMP. Siga-a no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta