Conheça a Radar, a Rádio que Tem Feito a Club Music Sobreviver em Londres

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Música

Conheça a Radar, a Rádio que Tem Feito a Club Music Sobreviver em Londres

Com clubes fechando na Inglaterra em ritmo alarmante, a rádio de Ollie Ashley é um novo reduto da música das pistas.

"Londres faz a melhor [transmissão de] rádio do mundo. Sem dúvida alguma." É isso que Ollie Ashley, dono da Radar Radio, me diz quando sentamos para conversar sobre a revolução que a Radar, e outros projetos similares, está liderando. Com programação transmitida de um estúdio na Timber Street, é emblemática de maneira irrevogável como a internet alterou o mercado de rádio FM em Londres e no mundo.

A relação londrina com o rádio — dos renegados da era de ouro aos piratas das estações Rinse e NTS — alterou consistentemente a face da cultura jovem e de música. Grime, dubstep e jungle provavelmente teriam existido sem o rádio, mas sem dúvida esses são gêneros que não seriam tão centrais à narrativa cultural se não fosse pela energia anárquica que chega a nós ao ouvir uma cena crescer enquanto ouvimos suas ondas sonoras. É essa noção de entusiasmo, esse sentimento de liberdade de, "caralho, tudo pode acontecer", que vem ao ouvir a rádio ao vivo de Ashley.

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A Radar começou a transmitir exatamente às 20h do dia 31 de outubro de 2014. Desde então, a estação continua forte, transmitindo diariamente das 8h até o fim da noite, e cada programa gera uma fotografia de onde a música — eletrônica ou não — está agora, que é basicamente o que atrai os grandes nomes enquanto mantém aquele ar próximo e familiar. É um espaço para a experimentação e para criatividade, uma estação de rádio que tem total liberdade e não tem medo de explorar exatamente o que isso significa. Não tem um dia comum na Radar e, especialmente, eles não seguem nenhuma política fora ter a certeza de tocar boa música e não ser um cuzão. Difícil ir contra isso, não?

Essa matéria foi a primeira na qual Ashley falou longamente sobre a Radar e seus objetivos, então fez sentido pedir para ele contar sua entrada no mundo do rádio. "A 'história' inteira por trás da estação começou em 2009, quando eu não consegui as notas que precisava para entrar na universidade — então eu fui para uma faculdade de música chamada Point Blank para fazer um curso de produção de rádio, e tive sorte o bastante para conhecer Lucy Monkman, aka Monki, e viramos bons amigos", me diz o proprietário e criador da rádio. "Ela teve a oportunidade de fazer um estágio na Rinse e eu fiquei com inveja. Eu era um grande ouvinte da Rinse, quase ao ponto da obsessão na época. Eu definitivamente acho que ouvir Rinse tanto quanto eu ouvi contribuiu com o quão mal eu fui nas minhas provas. Eu começava a estudar e sintonizava na Rinse (isso foi na época do MSN) eu entrava em um chat room, ficava bem envolvido e eventualmente terminava no Virtual DJ ao invés de terminar meu trabalho".

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Ashley acabou trabalhando na Rinse, passando de um período de experiência em que ajudava na programação duas semanas por semana, até virar o primeiro produtor da noite em tempo integral da estação. Seu tempo na rádio terminou amigavelmente, com Ashley renunciando sua posição por não conseguir mais encarar mais um turno noturno durante o inverno. Depois da Rinse, Ashley voltou à faculdade e por intermédio do Floating Points, conheceu o fundador da NTS, Femi Adeyemi, e acabou se tornando o diretor do estúdio deles por cerca de nove meses.

Ashley só tem elogios para ambas rádios pelas quais passou, fazendo questão de lembrar que mesmo ele criando sua própria rádio, a Rise e a NTS estão, digamos, mais saudáveis, mesmo que elas tenham problemas que ele tenta resolver na Radar. "NTS era um jeito novo e fresco de fazer rádio", diz ele. "Eu produzi programas para Jeff Mills, Evian Christ e até fiz um programa com Skepta. Todo mundo na NTS é muito apaixonado e entende genuinamente para que serve o rádio. Foi um verdadeiro privilégio trabalhar com eles. Mas eu acho que é difícil de pessoas mais jovens se envolverem. Eles podem ter um espaço para convidados, mas não tinha espaço na agenda para pessoas mais novas terem seu próprio show. Foi isso que me fez querer começar a Radar".

Mas a história da Radar não é a história de Ollie Ashley, e ele insiste que o time que construiu em volta de si — os assistentes de produção, designers e artistas — é o que faz a Radar funcionar. Ah, e os DJs, claro. "Nós começamos a transmitir no Halloween de 2014", diz. "Passado um ano, nós temos um time incrível de pessoas ótimas envolvidas. Alguns deles não sabiam discotecar quando se juntaram a nós, e agora esses mesmos DJs estão fazendo shows no exterior. É incrível! Não importa quanta experiência você tem, é sobre se divertir. Os melhores programas sempre vão ser aqueles em que o DJ está curtindo de verdade". É essa diversão, essa liberdade, esa noção de conseguir esperar o inesperado dia após dia, show após show, que conquistou as pessoas.

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Com nomes estabelecidos como Ikonika, Akito, Rushmore, e Amy Becker visitando regularmente o estúdio da Radar, e com um fluxo diário de talentos emergentes que tem a oportunidade de mostrar suas habilidades em um lugar que encoraja a liberdade de expressão, a Radar pode ser vista como as possibilidades e potenciais de uma rádio no começo do século 21. Com clubes fechando na Inglaterra em ritmo alarmante, a ideia que a club music — do grime instrumental ao deep house — sequer terá um lugar nos clubes parece cada vez mais presente. Com espaços devotados ao hedonismo ficando cada vez mais raros, o rádio — e mais importante, as estações de rádio — ganha cada vez mais importância. Oferece a chance aos sem balada de experimentar essa empolgação, essa energia, esse senso de comunidade que todos nós estamos buscando sempre que temos nossos pulsos carimbados e descemos as escadas num sábado a noite.

Para Ashley, a atual crise das baladas em Londres é culpa do governo. "Eles não querem novas baladas e fazem a vida difícil para quem mantém uma", diz. "Baladas devem ser lugares para o hedonismo. Você precisa poder tomar alguma coisa e fumar com as pessoas e relaxar. Não existe mais muitos lugares para encontrar os amigos e fazer isso. É isso que o Radar é. Eu não acho que nós reinventamos a roda, mas é isso que nós somos".

Tendo ido ao Radar em algumas ocasiões, e tendo tocado lá, posso confirmar o tipo de espírito comum a que Ashley se refere. É fácil sentar com um jornalista e dizer para eles que seu espaço é um lugar onde, como Ollie me diz: "Você pode tocar o que você quiser! É claro que você pode trazer seus amigos! É claro que você pode tomar um drink! Se você quiser sair para fumar, ok, vai fundo. Só não fique doidão demais para tocar!". É mais difícil fazer disso realidade, mas parece que foi para isso que Ashley e seu time trabalharam durante o último ano. Eles entenderam que, embora nenhuma estação desse tipo possa funcionar direito sem ter os DJs certos, também daria errado se as pessoas envolvidas não fossem as certas, se a atmosfera não fosse a certa. Entrar na Radar é como ir para a casa de um amigo — exceto que é Rudewhy ou Scratcha DVA ou DJ SagePay tocando os discos, não seu amigo depois de cinco litros de cerveja com uma versão crackeada do Ableton. Há sofás e revistas largadas, pacotes de seda e baratas.

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Agora faz um ano que a Radar entrou no ar, e eles fizeram uma edição especial com Tim & Barry de seu show ao vivo ust Jam, com alguns caras da família Radar como Jack Dat, Riz La Teef, Mungo,Jetsss e BBC AZN Network. Dado que Tim e Barry consistentemente mantiveram aceso o espírito do "faça você mesmo" em sua operação, mesmo quando os clientes e os orçamentos aumentaram, é claro que Ashley é um fã: "Eu fui um puta fã durante anos", diz ele. "Eu tinha 18 anos quando o vídeo do Tempa T 'Next Hype' saíu, e tenho sido um grande fã desde então. Just Jam é ótimo, eles são todos amigos e é muito divertido. Tudo dos visuais, aos convidados, aos apresentadores, é tudo ótimo. Eles fazem isso porque amam."

A festa de aniversário original seria em um galpão que seria uma "verdadeira representação da variedade de coisas que tocamos… mas, assim que você menciona grime, os donos do lugar não querem saber. Então falamos foda-se, se não conseguimos achar o lugar certo então vamos fazer nós mesmos no nosso escritório. Assim podemos fazer o que quisermos."

Vida longa a Radar Radio.

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Tradução: Pedro Moreira

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