Bass Porn: Como Foi a Última Edição da Dirty Kidz Gang
Urso Morto

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Música

Bass Porn: Como Foi a Última Edição da Dirty Kidz Gang

A despedida foi grave e sensual na última sexta (12), com a jovem e libertária crew paulistana zuando e dançando muito no Superloft.

Foram mais de 60 festas realizadas ao longo dos últimos três anos. A Dirty Kidz Gang ganhou edições em praticamente todos os clubes de São Paulo, cidade onde nasceu, passou pelo interior do estado, por outros estados, abalou as estruturas na rua e na piscina. Mas o pessoal do coletivo — formado por oito DJs, três MCs e um VJ — decidiu que é chegada a hora de parar. Talvez não pra sempre, mas dar um tempo pelo menos por agora. Por isso na última sexta-feira (12), o coletivo fez sua festa de despedida no Superloft. Foi aquela doidera de sempre. Música pesada e sem frescura, shots de bebidas pra galera com armas de brinquedo, banho de espumante, papel picado, stage divings e, claro, muito peito e bunda.

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Nunca mudamos o som por causa do público, o público que foi mudando por causa do som.

Pegando o embalo de outras festas paulistanas que já apostavam nessa vibe pós-maximal tresloucada, como a Bang! e a Crew, a turma da DKG levou a proposta um pouco além. Eles somaram aquela estética visual meio Warriors, puxada pra rua, pixação, graffiti e a sujeira da cidade, a um estilo de som que vai do techno ao electro, passando pelo dubstep, o trap e tudo o que o filão do future beats e da bass music é capaz de acolher. Se liga aí nas fotos da edição derradeira da festa e acompanhe a entrevista que tivemos com o Rafael Feliciano aka Erro, um dos idealizadores e organizadores da parada.

THUMP: Bem, vamos começar falando daquilo que deixou todo mundo indignado: por que encerrar um projeto de festa agora, no auge do negócio? É uma estratégia de marketing?
Erro: Essa é a hora certa disso acontecer, não estamos pensando em 'auge' ou coisas do tipo, foi apenas algo que foi decidido e vai rolar. Esse ciclo começou em 2012, rolou bastante coisa durante esses três anos, muitas experiências, muitas casas noturnas, muitos aprendizados, muitos amigos que estiveram e estão juntos, muitas saudades, muitas histórias. Tudo que existe nesse mundo tem um começo, meio e fim, assim, nós vamos encerrar agora, vamos descansar. Depois a gente vê o que vai acontecer.

Quais foram os lugares mais legais onde a festa já aconteceu?
Alguns dos lugares e experiências mais legais foram:

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- Festival Planeta Terra 2013. Essa foi a primeira vez que fizemos um evento de grande porte. O público não era mais apenas os nossos amigos, tinha muita gente. Não posso dizer com certeza se todo mundo gostou das nossas apresentações (que eram entre a troca de bandas), mas nós causamos.

- Skol Beats Factory. O principal fator que diferenciou essa casa foi a estrutura. De longe, eles deram todo o suporte necessário, do começo ao fim da festa, e ainda se preocuparam com o que precisava ser feito. De longe, foi a melhor estrutura em que a gente já tocou.

- Todas as festas fora de São Paulo/SP. Viajar é sempre uma coisa incrível. Agora, imagina viajar com os seus amigos, pra fazer uma festa, em outra cidade, com uma galera totalmente nova e superanimada? Isso resume nossas viagens. Essas daí sempre foram incríveis, o pessoal vai pra se acabar mesmo.

- Clash Club. Essa casa foi onde rolou a maioria das festas com os gringos (Diplo, Borgore, UZ e Pegboard Nerds), aprendemos muito lá. Pulamos de um público de 400-500 pessoas pra 1.300 logo na primeira edição, trazendo o Diplo. Tínhamos uma relação de amor e ódio com o espaço. Sair de lá foi bom, mas deixou saudades.

Como surgiu o nome Dirty Kidz Gang e a proposta em si?
Tudo surgiu em uma conversa no MSN entre mim e o Zero (metade do Sugar Crush) em meados de 2010. A gente tinha acabado de se conhecer e rolou muita afinidade, curtíamos as mesmas coisas de som, graffiti, pixação, ambos somos da Zona Leste, e logo de cara pensamos que seria divertido criarmos algo juntos. Tivemos muita influência do The Warriors, aquele filme de gangues dos anos 80, e em poucos minutos surgimos com o nome "Dirty Kidz Gang", acompanhados de alguns nomes da noite paulistana que a gente achou legal envolver no projeto.

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Vocês já tinham experiência ou vivência em outros projetos culturais?
A proposta inicial foi basicamente juntar pessoas que tivessem os mesmos gostos que a gente e ver no que dava, sem muita pretensão. Queríamos apenas diversão. Foi aí que nasceu o nosso coletivo. Todos os membros tinham alguma coisa relacionado a festas aqui em São Paulo, eram pessoas conhecidas no underground. Por exemplo: a Laka e o Zero eram o antigo Blood Shake (duo conhecido aqui e lá fora no meio do fidget/maximal), e ambos eram da festa Bang!; dois dos MC's, JImmy Luv e Xandão, eram da Família 7 Velas, e por aí vai.

Quando a Dirty Kidz começou, a ideia já era que a trilha sonora das festas fosse calcada nos afluentes do bass, ou essa tônica foi se concretizando a partir da reação do público?
Quando rolou a primeira festa, em 2012, o fidget/maximal estava dando os seus últimos suspiros de vida, e isso ainda rolava um pouco nas festas, mas o dubstep e o trap sempre estiveram presentes, desde os primórdios. O som mudou conforme o gosto dos DJs. Foi mudando e evoluindo. Nunca mudamos o som por causa do público, o público que foi mudando por causa do som.

Dentro do bass atual, quais são os ritmos específicos nos quais o coletivo mais investiu?
Nas festas rola moombahton, rasterinha, dubstep, trap, drum'n'Bass, future bass e outros estilos difíceis de serem classificados nesse meio. Depende do DJ que tá tocando, do momento. Mas o nosso som nunca foi preso exclusivamente em um único gêreno, sempre rola electro, techno e outros estilos que fogem do bass. A ideia da festa é mesmo se divertir. Então não nos prendemos tanto a rótulos ou movimentos, se estamos gostando, nós tocamos. O "mais novo" necessariamente não significa o melhor som, então queremos é nos divertir com boa música, seja ela da bass music ou não.

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Com o fim das festas, o coletivo também vai se dissolver? Existe a chance de pintar novos subprodutos musicais, autorais ou não, dos DJs que formam a DKG?
A DKG ainda vai existir, penso no coletivo como sendo "Os Vingadores". Gosto de pensar assim porque a ideia é a mesma. Esse grupo já acabou, mudou de membros milhares de vezes no decorrer desses anos, mas o que não mudou, nunca, foi o objetivo pelo qual nos juntamos. Se essa ideia existir, sempre existirá algo em que valha a pena investir. Temos diversos planos fora as festas, que agora com o fim poderemos focar com mais calma e cuidado. Um exemplo é a nossa label. Sempre tivemos vontade de lançar os sons dos produtores do coletivo, mas nunca conseguimos nos organizar. Agora, parece que vai dar certo. Já saiu o single "Põe a Mão Pra Cima", do Jimmy Luv – parceria com o Funk na Caixa. Agora vamos lançar, semana que vem, um EP autoral do Sugar Crush, o New World (dis)Order. Além desse lançamento já temos mais alguns no gatilho. Enquanto houverem pessoas acreditando, vamos continuar gerando ideias diferentes das festas. Afinal, somos um coletivo. Estamos unidos por uma mesma ideia.

E as Dirty Girlz, como elas apareceram no esquema? Elas também fazem parte do coletivo?
Sim, elas existem desde a primeira festa. O papel delas foi evoluindo no decorrer dos anos. A formação delas também mudou, mas faz praticamente dois anos que a gente tem a mesma base de garotas trabalhando conosco. E elas não são apenas dançarinas, ou shot girls, ou algo assim, elas ajudam a botar fogo no baile, literalmente. Elas fazem parte do coletivo, assim como os DJs, os MCs e o VJ, o trabalho delas é importante — pra não dizer o mais importante.

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As Dirty Girlz fazem parte do coletivo, assim como os DJs, os MCs e o VJ, o trabalho delas é importante — pra não dizer o mais importante.

Vocês acham que esse lance de distribuir drinks e shots de bebidas pra galera com armas de brinquedo, os banhos de espumante e as bagunças todas pelas quais vocês ficaram conhecidos, foi algo decisivo para quebrar aquela coisa de balada de deep house, em que o público dança de costas pro DJ?
A ideia das festas sempre foi focada em bagunçar! Diversão sem limites, sem aquela coisa de "ir pra festa e ficar fazendo carão", segurando o drink e dando passinho prum lado e pro outro. A nossa ideia sempre foi criar uma experiência completa, algo que fosse memorável e realmente divertido pra quem fosse na festa. Esses elementos de arma, bebidas, shots, foram acontecendo naturalmente, um dia alguém levou, deu certo e continuamos. Além dos DJs no som, a gente sempre teve as Dirty Girlz ajudando na bagunça, um MC agitando o pessoal e um VJ nas projeções. Com isso, a interação com o público sempre foi completa, não fica aquela coisa só do DJ se apresentando. Isso ajudou o público a se identificar com o som, com as projeções, com as meninas, com o DJ, com a festa e com o coletivo.

Vocês se consideram totalmente inovadores nessa ideia?
A gente tinha influência da Festa Crew e da festa Bang!, aqui de São Paulo, mas algo que nos influenciou muito foram as festas do pessoal da Porn and Chicken, de Chicago. Eles levavam essa ideia de diversão sem limites e música sem frescura para um nível que a gente nunca tinha visto. Depois da nossa primeira edição, teve um cara que produzia uma festa X na época que ficou indignado. Falou que festa de verdade não tinha esse negócio de peito e bunda. Pra falar a real, depois que ele falou isso, percebemos que estávamos no caminho certo. Fiquei pensando que se naquela época ele achou chocante, hoje ele acharia um absurdo.

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Ele acharia um absurdo por quê? Só porque DKG é uma festa de putanheiros fetichistas?
As pessoas se soltam nas festas, isso acontece de uma forma natural e em qualquer lugar que a gente faz festas. Começou aqui em São Paulo, depois no interior, foi para outras cidades e é sempre assim, as meninas pedem adesivos no peito, na bunda… Não é algo imposto, é algo que elas querem mostrar e a gente curte, afinal de contas peito e bunda nunca é demais e não faz mal a ninguém, né?

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Veja outras fotos que o Urso Morto fez do rolê:

DJ LakaSugar Crush