Uma Lista de Todas as Pessoas que Você Vai Conhecer no Fumódromo da Balada
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Música

Uma Lista de Todas as Pessoas que Você Vai Conhecer no Fumódromo da Balada

Do principiante ao carreirista, todo mundo quer ser seu brodinho.

Em algum momento, neste fim de semana, você provavelmente vai decidir que, por mais divertido que seja dentro do clube Música! Luzes piscantes! Caras de parka traficando bala! Alguém se arrastando para fora do banheiro com os olhos arregalados e uma catota pendurada no nariz! é tão divertido quanto ficar lá fora, no fumódromo. Quem não ama aquele momento em que uma rajada de vento refrescante e gelado se mistura com o fedor pútrido de milhares de Marlboros fumados pela metade? E perceber que você voluntariamente se enfiou num lugar minúsculo, espremido junto com umas cem pessoas, em uma área obviamente projetada para uma meia dúzia, então? Música é legal, e dançar é ok, também, mas sinceramente, todo o propósito de ir a um clube é gastar uma nota para passar a noite fumando cigarros de qualidade cada vez pior e mendigando chicletes desesperadamente.

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Apesar de você só conviver com eles durante algumas horas intoxicadas, os personagens com quem você divide este lugar enfumaçado são um elemento fundamental de qualquer experiência noturna. Não importa se você está em um terraço em Ibiza ou na sacada de um pub, todo mundo precisa de um isqueiro emprestado eventualmente.

O CARREIRISTA

Você só pediu um isqueiro, mas agora está há uns 20 minutos ouvindo uma longa descrição de toda a vida profissional do carreirista até o momento. "Eu trabalhava no Twitter antes disso." "Sério? Nossa." "Sim, o que obviamente era incrível para o meu currículo, mas era uma empresa muito grande, e, para ser sincero, prefiro trabalhar com uma equipe menor. Assim você pode se comunicar dentro do escritório, e as suas relações existem de verdade, fora das correntes de e-mail. Então abri minha própria empresa de consultoria de social media há uns três meses." É mesmo? É mesmo, cara? É MESMO, CARA? Eu mal ganhei o suficiente este mês para pagar por esses cigarros que você não está me deixando fumar em paz. Não quero saber, fera.

O TRAFICANTE

Essa vai ser a conversa mais curta da noite. O traficante circula pelo fumódromo como um dementador com um anel de sinete e dois celulares. Fácil de identificar, é provavelmente a única pessoa ali que não está fumando. Simplesmente desliza entre os grupos, oferecendo um universo de caríssimas balinhas batizadas antes de desaparecer de novo na escuridão. O mais provável é que a conversa só se estenda até você insistir: "nah, cara, estamos de boa". Mas, se você está querendo dar uma agitada nas coisas, pode ser puxado para um canto, atrás do aquecedor, para uma troca rápida de notas, saquinhos e números de celular. Surpreendentemente, o traficante não vai ser pego. O que é ridículo, considerando que, na maioria das vezes, a função dele ali só ficaria mais óbvia se ele usasse uma placa sanduíche, dessas tipo "COMPRO OURO", anunciando: "FARINHA RUIM".

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O INICIANTE

Perambulando como o Bambi no gelo, ali está o principiante, curtindo a sua primeira noite. Absorvendo, neste exato momento, a euforia incomparável da sua primeira bala. Depois ele te avista, e, se movimentando com a elegância aerodinâmica de um peixe nadando contra a corrente, com seus olhos arregalados, unidos ponto a ponto por um sorriso radiante e perolado, ele te aborda. Parado no frio, mas suando com o fervor de mil Lee Evans, timidamente lança a pergunta: "me empresta um cigarro?". Pelo próximos 25 minutos, você vai ser tudo para esta alma recém desabrochada. Centro de informações sobre drogas, alma gêmea, irmão mais velho, confidente, psicólogo, especialista em enrolar cigarros e, muito provavelmente, o seu mais novo amigo no Facebook.

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O COSTAS PRATEADAS

Você viu esse cara na entrada. Camiseta verde oliva, jeans estonado, tênis de trekking marrons, uns pelos grisalhos na barba, dedos amarelados segurando um chope cheio de espuma, meio encurvado de passar muitos anos espreitando a cabine. Joelhos e ciático fodidos. Este é o costas prateadas, o tiozão grisalho: o seu pai depois de um ousado meio comprimido de ecstasy no Sankeys. Você e a galera saem para uma necessária pausa para beber e lá está ele, com uma pequena multidão em volta. "Ainda amo essa porra! Nada é melhor do que isso!", ele berra, meio encurvado sob o próprio peso, se equilibrando mental e fisicamente com uma longa tragada num Minister. Ela transpira profusamente, e agora tem um tom amarelo esquisito na pele. Está enrolando a língua sutilmente, falando do Hacienda. "Mike Pickc..ckk..kering, como ele, agora, como ele era, ele era, foda, ele era ótimo, um DJ foda!", você o ouve gritar, já voltando para dentro, e se preocupa silenciosamente com ele a noite inteira. Perto das 6h da manhã, chegada a hora de um cigarrinho matinal, você sai e percebe que agora ele está jogado no chão. Ficou cinza. Completamente cinza.

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O "NÃO TE VEJO HÁ ANOS"

No fumódromo sempre tem pelo menos uma pessoa que você não vê há pelo menos meia década. Sabe aquele cara que você namorava quando atuava num musical da escola? O amigo da sua irmã mais velha que você sempre achou muito gato? O vizinho esquisito para quem você vendeu um card de Pokémon a um preço abusivo quando tinha oito anos? A garota que você conheceu no Reading de 2009, com aquela voz rouca? O colega de apartamento do seu primeiro ano de faculdade, com quem você mal falava depois do primeiro mês? Aquele cara baixinho com quem você trabalhava, que ocasionalmente posta memes no Facebook? Eles estão todos aqui, todos surpresos em ver você, e todos eles querem o seu isqueiro emprestado. O problema é que, passada a surpresa inicial deste reencontro, você vai rapidamente perceber que vocês não têm absolutamente nada para falar e agora são só duas versões mais velhas e cansadas das suas jovens encarnações — exauridos pelo tempo e praticamente irreconhecíveis. Provavelmente, é melhor continuar fumando.

O CABEÇA-FRIA

Vamos encarar, é ilusão pensar que somos sempre os incomodados no fumódromo. A verdade é que, às vezes, é a gente quem começa uma conversa com bafo de cinza com um estranho, esperando que o próximo arroto não faça o jantar voltar. Meio confuso, enquanto a sua boca fechada se enche de saliva, você percebe que está na presença de um cabeça-fria. Embora ele esteja no clube há tanto tempo quanto você, e tenha bebido praticamente a mesma quantidade, a sua roupa continua impecável, e toda piada que ele faz parece funcionar. Você tenta falar com ele, e, de alguma forma, ele consegue te dar um fora sem ser grosseiro. Meros minutos na presença dele podem te fazer questionar todas as escolhas que você já fez na vida. Ele acabou de fazer um comentário inteligente sobre a crise da dívida da Grécia, você não consegue destravar o seu iPhone. Ele parece o Idris Elba e você parece o Ray Winstone, o cão chupando manga.

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O OUVINTE

Lá está você, tretando com um fósforo meio úmido de suor. O Ouvinte se aproxima de você cuidadosamente, nervosamente, parecendo ligeiramente envergonhado e absolutamente desconfortável. "Errr, desculpa te incomodar, cara", ele começa, os olhos fixados firmemente nos Vans dele, "mas, hmm, você se importa de me emprestar um fósforo? Desculpa te pedir." Você educadamente concorda e pergunta a ele como a noite está indo. Ele balbucia alguma coisa que você não entende direito. Você tem duas opções: abandonar a conversa totalmente, dar de costas e continuar fumando o cigarro que você mal acendeu, ou se esforçar muito, muito mesmo, para conversar com ele. Sempre escolha essa última opção. Por quê? Porque não tem nada melhor do que poder falar sem parar sobre si mesmo para alguém que é muito legal ou, talvez, esteja muito assustado para te interromper. Ele está ouvindo atentamente. Está mesmo. É uma esponja absorvendo as suas esperanças e sonhos. É como fazer terapia. Quando já estiver contando a história da sua vida há uma meia hora, você vai perceber que ele não chegou a acender o cigarro dele. Ele nunca mais na vida vai pedir um isqueiro a ninguém.

O BEDROOM PRODUCER

Seja qual for o tipo de música que você está deixando de ouvir para punir os seus pulmões, sempre vai ter um bedroom producer te rondando com suas músicas, se aproveitando de quem está sitiado ali e cansado demais para reagir, pronto para trocar a chama do seu isqueiro por uma curtida no Facebook. Bizarramente, eles quase sempre fazem um tipo de música completamente diferente daquele que você veio escutar. "Basicamente, soa um pouco como o Burial", ele diz, digitando o endereço do Soundcloud dele no seu celular, "mas bem mais dançante, porque sou DJ também, então tem que ser dançante". Você nunca vai escutar o som dele. Talvez, lá no fundo, ele saiba disso. Mas o fato é que essa estratégia para promover música desafia qualquer lógica. Seja qual for o chorume que você conseguiu fazer no Ableton, junto com a foto de uma pena editada no VSCOcam que você usa como capa de disco, é altamente improvável que isso vá fazer sucesso num jardim de concreto cercado, povoado por umas trinta pessoas muito zoadas para lembrarem do próprio nome, que dirá do nome do seu EP. Não seria melhor você usar tipo, sei lá, a internet?

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UM CARA FALANDO "TÁ CERTO" PRA CARALHO

"Está se divertindo, cara?"

"Pra caralho!"

"Tá certo. Já tinha visto o Craig Richards?"

"Nah, é a minha primeira vez na Fabric, na real."

"Tá certo. Ele é foda. O Craig Richards é foda. Subestimado pra caralho, se quer saber o que eu acho."

"É, ouvi uns mixes e gostei. Quero ver o cara."

"Tá certo. Você sai muito? Eu amo sair, cara. Nunca me canso."

"É, eu tento, meu trabalho me segura um pouco."

"Tá certo, todo mundo passa por isso. Então, que você faz, cara?"

"Trabalho com TI."

"Tá certo."

O CARA DO CIGARRO ELETR?"NICO

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Tradução: Fernanda Botta