Fotos do Meu Avô no Caixão

FYI.

This story is over 5 years old.

Viagem

Fotos do Meu Avô no Caixão

Eu e minha irmã ajudamos o agente funerário a prepará-lo para o caixão. Vestimos seu melhor terno nele, penteamos seu cabelo – senti como se isso fosse um último favor a ele.

​​

Meu avô morreu na primavera de 2014. Não foi uma surpresa. Nos seus dois últimos meses, ele não respondia muito; ele não estava presente. Não sei se ele pensava sobre a morte, se ele já esperava isso ou se estava com medo. Ele tinha 87 anos.

Eu e minha irmã ajudamos o agente funerário a prepará-lo para o caixão. Vestimos seu melhor terno nele, penteamos seu cabelo – senti como se isso fosse um último favor a ele. Talvez eu estivesse tentando compensar o fato de não visitá-lo muito. Minha consciência não está limpa quando penso nisso.

Publicidade

Meu avô e eu não éramos muito próximos, ele e minha avó moravam muito longe da cidade onde cresci. Foi só depois que a condição dele começou a deteriorar que fiz algum esforço para visitá-lo com mais frequência, e às vezes essas visitas não eram fáceis; meu avô tinha perdido a audição e minha avó tinha perdido boa parte da memória de curto prazo. Ela fazia as mesmas perguntas de novo e de novo e ele só sentava à mesa e sorria, sem saber do que estávamos falando. Pelo menos ele parecia feliz em ainda me reconhecer.

Quando era criança, eu tinha minhas reservas a respeito dele. Ele era muito sério, então eu mantinha certa distância. Ele não era mau nem nada assim – ele só não queria que a gente ficasse perambulando por aí e causando estrago como as crianças geralmente fazem. Agora eu entendo que esse era o jeito dele de tentar nos criar e ensinar como ser seres humanos adequados.

A maioria das pessoas da Finlândia – de onde eu sou – não sabem que você pode vestir o falecido. E se soubessem provavelmente não fariam. Morte ainda é um tabu por aqui. Não se deve ficar falando sobre isso, quanto mais fotografar algo assim. Não sei por quê. Talvez os finlandeses não gostem de pensar na própria mortalidade.

Preparar meu avô para seu caixão foi uma experiência muito bonita. O tempo parecia ter parado. Todas as minhas memórias dele vieram mais fortes, mais concretas. Eu o tinha fotografado em muitas ocasiões e ele sempre teve uma presença incrível. Essa foi nossa última sessão de fotos juntos – mesmo que, em certo sentido, ele não estivesse mais ali. Restou apenas uma concha. Passei alguns minutos fotografando, depois fechei o caixão. Foi isso. A última vez que vi meu avô.

Publicidade

Ver as fotos agora me leva de volta para o momento em que o vi no caixão. Nas fotos ele parece estar em paz. E ainda há aquela sensação de presença. De certa maneira, me sinto mais próximo dele agora do que nunca.

Essas fotos são da série To Bury a Father de Kimmo Metsäranta.

Tradução: Marina Schnoor