All Mind in the Cat HouseLava Thief6/10Ninguém pega no título do filme mais punk da década de 80 sem ter argumentos para isso. Voltando atrás no tempo até 1984, ainda parece um pequeno milagre que a Universal tenha financiadoRepo Man, um alucinadíssimo filme, que eleva os ladrões de carros à condição de gurus filosóficos, numa Los Angeles com o apocalipse fechado na bagageira de um Chevrolet Malibu.Repo Man, além do pretexto ideal para convidar uns amigos para umas cervejas, garante um número generoso de citações inesquecíveis como “John Wayne was a fag!” ou “I blame society…”.Portanto, não devia ser qualquer banda a apresentar-se ao mundo como Repo Man, mas eis que um quarteto de Bristol decidiu fazê-lo, com resultados por enquanto inconclusivos. O álbum de estreia,All Mind in the Cat House, começa por soar ao disco que Lee Ranaldo, guitarrista dos Sonic Youth, faria se fosse um britânico constantemente irritado com as notícias do mundo e os hábitos dos vizinhos. O vocalista dos Repo Man, tal como Ranaldo, tem um cantar ruminante que nunca abandona por completo o falar. Além disso, o senhor adopta constantemente o tom de quem está a ler passagens de um diário maldito para uma multidão de curiosos, na berma da auto-estrada que vai dar ao inferno (obrigado pela imagem, AC/DC).Os rodeios instrumentais para a voz de pregador são feitos de rock igualmente irritadiço que lembra os Fall por momentos e Big Black noutras alturas. No lugar da quinta faixa, “24 Hours Guaranteed” tem a distinta lata de transformar a guitarra de “About a Girl” dos Nirvana numa linha de baixo feita para masmorras e passeios nocturnos. E tudo isto compõe bem uma atmosfera de medo, mas ainda falta aos Repo Man uma coisa bastante importante: a capacidade de consolidar as canções que têm. Pode ser que mais tarde encontrem isso na bagageira do tal Chevrolet Malibu.
Publicidade