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Música

Os EUA têm o Prince, mas nós temos a Príncipe

Real rebeldia.

Há um arrojo louvável em toda a filosofia com que a Príncipe gere uma casa em que a edição de discos e as actuações dos nomes presentes nessas rodelas funcionam como realidades paralelas, em modo de mútua estimulação. A configuração das

labels

 com uma função híbrida, equilibrada entre as suas funções editoriais e de curadoria, não é sequer inédita ou especialmente recente (reparem na velhinha Factory), mas faz todo um estrondoso sentido no caso especial da Príncipe. Ou não estivéssemos a falar, neste caso, de um emblema lisboeta, que, entre os seus principais talentos, conta com alguns dos DJs-produtores mais capazes de mandar a casa abaixo e fazer com que todos os presentes tenham uma história de êxtase para contar no dia seguinte.

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Quem já viu Marfox (busto maior no salão da Príncipe) a tocar, pelo menos uma vez, saberá decerto que não é nada fácil escapar à combinação de idiomas quentes, que o orgulho da Portela desfere como um pugilista rítmico dotado da mais imprevisível técnica. Encostados nas cordas, é impossível não apreciar a forma como Marfox renova digitalmente os mais dançáveis géneros africanos (desde o kuduro ao semba) e carrega no

bass

que faz bombar os

 clubs

 de todo o mundo. Não admira portanto que o seu EP

Eu Sei Quem Sou

 seja, na Príncipe Discos, o lançamento que mais se aproxima de uma espécie de

Blueprint

, o incontornável ponto de referência para determinada linhagem de produtores.

Mais do que um fenómeno fugaz, Marfox terá criado à sua volta um contágio estético, que provavelmente não conheceria a mesma intensidade sem o papel da Príncipe na divulgação deste tipo de música urgente. Divulgação essa que passa inevitavelmente pela ligação entre a periferia de Lisboa (a morada da maioria destes nomes) e um centro urbano onde tudo é mais visível e acessível. Para ver o barril a estoirar in loco não haverá melhor oportunidade do que ir amanhã (28 de Dezembro) até ao MusicBox, no Cais do Sodré, para dançar até ao dia nascer, em mais uma noite Príncipe. Os convocados para a ocasião — Marfox, NiggaFox e o colectivo Blacksea Não Maya — representam a melhor prata da casa e os dois últimos contam com discos de 2013 ainda a escaldar.

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Há um arrojo louvável em toda a filosofia com que a Príncipe gere uma casa em que a edição de discos e as actuações dos nomes presentes nessas rodelas funcionam como realidades paralelas, em modo de mútua estimulação. A configuração das 

labels

 com uma função híbrida, equilibrada entre as suas funções editoriais e de curadoria, não é sequer inédita ou especialmente recente (reparem na velhinha Factory), mas faz todo um estrondoso sentido no caso especial da Príncipe. Ou não estivéssemos a falar, neste caso, de um emblema lisboeta, que, entre os seus principais talentos, conta com alguns dos DJs-produtores mais capazes de mandar a casa abaixo e fazer com que todos os presentes tenham uma história de êxtase para contar no dia seguinte.





Quem já viu Marfox (busto maior no salão da Príncipe) a tocar, pelo menos uma vez, saberá decerto que não é nada fácil escapar à combinação de idiomas quentes, que o orgulho da Portela desfere como um pugilista rítmico dotado da mais imprevisível técnica. Encostados nas cordas, é impossível não apreciar a forma como Marfox renova digitalmente os mais dançáveis géneros africanos (desde o kuduro ao semba) e carrega no 

bass 

que faz bombar os

 clubs

 de todo o mundo. Não admira portanto que o seu EP 

Eu Sei Quem Sou

 seja, na Príncipe Discos, o lançamento que mais se aproxima de uma espécie de 

Blueprint

, o incontornável ponto de referência para determinada linhagem de produtores.





Mais do que um fenómeno fugaz, Marfox terá criado à sua volta um contágio estético, que provavelmente não conheceria a mesma intensidade sem o papel da Príncipe na divulgação deste tipo de música urgente. Divulgação essa que passa inevitavelmente pela ligação entre a periferia de Lisboa (a morada da maioria destes nomes) e um centro urbano onde tudo é mais visível e acessível. Para ver o barril a estoirar in loco não haverá melhor oportunidade do que ir amanhã (28 de Dezembro) até ao MusicBox, no Cais do Sodré, para dançar até ao dia nascer, em mais uma noite Príncipe. Os convocados para a ocasião — Marfox, NiggaFox e o colectivo Blacksea Não Maya — representam a melhor prata da casa e os dois últimos contam com discos de 2013 ainda a escaldar.





Logo à cabeça, 

O Meu Estilo

, de NiggaFox, é um carnaval de inventividade e avanço artístico como este país só conhece uma vez em cada dois anos (havendo novidades de Gala Drop ou Fujako). NiggaFox merece plenamente a raposa que tem no nome (o mesmo 

fox

 que está amplamente difundido como símbolo de uma dinastia) pela astúcia com que trabalha a estranheza dos seus ritmos, sem nunca os tornar destrambelhados ou impraticáveis para o cu que gosta de se abanar na pista. O mais impressionante é reparar como o NiggaFox, de 

O Meu Estilo

, consegue essa façanha sem nunca deixa cair a atmosfera de rua que dá vida a estas malhas (e nesse aspecto recorda aquele Muslimgauze que não existiria sem o barulho e o corrupio das pessoas na Palestina). Está aqui um dos mais inevitáveis discos do ano e aquele em que a mitologia mamada de Márcio Matos (principal responsável pelo 

artwork

 da Príncipe) é mais evidente.




DJ Nigga Fox — 

O meu estilo


Não menos interessante, ainda que bem diferente, é o caso do mais recente lançamento da Príncipe, que reúne no mesmo EP as 

crews 

Blacksea Não Maya (BNM) e Piquenos Djs do Guetto. Se é habitual haver 

beef

 e distância entre colectivos de margens diferentes do Tejo (os primeiros são do Sul e os segundos do Norte), isso não acontece aqui, até porque o destaque favorece todos aqueles que estão representados neste EP homónimo. Mesmo assim, há um evidente orgulho por parte dos diversos participantes, que, aqui e ali, deixam a marca de água nas malhas, com uma voz promocional que vai dizendo o nome da 

crew

 ou do DJ de serviço.



Parece um acrescento caprichoso, mas é aqui que está algum do sangue novo que oferece sentido ao próprio nome da Príncipe: ou seja, uma figura da realeza, que, apesar do poder e do conhecimento que já possui, pode ainda dar-se a liberdades e devaneios que não são tão bem vistos na pessoa do Rei. O Príncipe aspira ainda a alguma coisa e vive distante da conformidade que domina a vida do pai. É esse tipo de rebeldia que se escuta nas malhas de DJ Perigoso ou DJ Maboku, que, a partir daqui, vão construindo auto-estradas sonoras entre África e as grandes cidades do mundo, com paragem para abastecimento em ambas as margens do Tejo.




Blacksea Não Maya no Bairro da Jamaica



Fotografia por Carlos Moreira

Logo à cabeça,

O Meu Estilo

, de NiggaFox, é um carnaval de inventividade e avanço artístico como este país só conhece uma vez em cada dois anos (havendo novidades de Gala Drop ou Fujako). NiggaFox merece plenamente a raposa que tem no nome (o mesmo

fox

 que está amplamente difundido como símbolo de uma dinastia) pela astúcia com que trabalha a estranheza dos seus ritmos, sem nunca os tornar destrambelhados ou impraticáveis para o cu que gosta de se abanar na pista. O mais impressionante é reparar como o NiggaFox, de

O Meu Estilo

, consegue essa façanha sem nunca deixa cair a atmosfera de rua que dá vida a estas malhas (e nesse aspecto recorda aquele Muslimgauze que não existiria sem o barulho e o corrupio das pessoas na Palestina). Está aqui um dos mais inevitáveis discos do ano e aquele em que a mitologia mamada de Márcio Matos (principal responsável pelo

artwork

 da Príncipe) é mais evidente.

DJ Nigga Fox —

O meu estilo

Não menos interessante, ainda que bem diferente, é o caso do mais recente lançamento da Príncipe, que reúne no mesmo EP as

crews

Blacksea Não Maya (BNM) e Piquenos Djs do Guetto. Se é habitual haver

beef

 e distância entre colectivos de margens diferentes do Tejo (os primeiros são do Sul e os segundos do Norte), isso não acontece aqui, até porque o destaque favorece todos aqueles que estão representados neste EP homónimo. Mesmo assim, há um evidente orgulho por parte dos diversos participantes, que, aqui e ali, deixam a marca de água nas malhas, com uma voz promocional que vai dizendo o nome da

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crew

 ou do DJ de serviço.

Parece um acrescento caprichoso, mas é aqui que está algum do sangue novo que oferece sentido ao próprio nome da Príncipe: ou seja, uma figura da realeza, que, apesar do poder e do conhecimento que já possui, pode ainda dar-se a liberdades e devaneios que não são tão bem vistos na pessoa do Rei. O Príncipe aspira ainda a alguma coisa e vive distante da conformidade que domina a vida do pai. É esse tipo de rebeldia que se escuta nas malhas de DJ Perigoso ou DJ Maboku, que, a partir daqui, vão construindo auto-estradas sonoras entre África e as grandes cidades do mundo, com paragem para abastecimento em ambas as margens do Tejo.

Blacksea Não Maya no Bairro da Jamaica

Fotografia por Carlos Moreira