Crédito: Direitos Urbanos.Na noite de quarta-feira (21), construtoras imobiliárias começaram silenciosamente a demolição ilegal de antigos armazéns no Recife, localizados em uma área de aproximadamente 101.754 m² no Cais José Estelita, centro antigo da cidade. O plano é construir o "Novo Recife", um complexo de 12 prédios com cerca de 40 andares erguidos em pleno cartão postal da capital pernambucana.A venda do terreno foi feita de forma irregular e, em dezembro de 2013, a Prefeitura do Recife aprovou o projeto imobiliário sem uma audiência pública que consultasse a população e sem plano urbanístico exigido por lei. A intervenção prevista muda completamente a paisagem do local e traz à tona questões de mobilidade urbana e impactos sociais e ambientais. Para tentar barrar a ação, ativistas da cidade fundaram o Ocupe Estelita, grupo que pretende discutir alternativas para a revitalização do espaço público de forma planejada e com benefícios à sociedade.Fazendo ouvido de mercador para as reivindicações que não concordam com o projeto da maneira como ele está colocado, as construtoras começaram a derrubada dos armazéns durante a madrugada. A história pegou fogo quando fotos e vídeos da ação foram compartilhados nas redes sociais, mobilizando grupos para que a ocupação do local fosse imediata.A recepção não foi nada amigável e os primeiros manifestantes que chegaram ao local foram recebidos com truculência e agressão pelos seguranças armados das empreiteiras. Estava tudo tão obscuro que motos com capangas e placas dobradas para evitar identificação chegaram para reforçar a repressão. Quem tentou filmar a cena teve o celular quebrado e arquivos deletados.Madrugada adentro, manifestantes e imprensa se concentraram na frente do local e um grupo com cerca de 12 pessoas conseguiu acampar no interior dos armazéns. O policiamento se intensificou e quem tentava levar água e mantimentos era barrado. Podia sair, mas não podia entrar. “Os seguranças estavam impedindo a entrada e dificultando a comunicação com os manifestantes acampados do lado de dentro”, relatou o jornalista e músico Germano Rabello.Enquanto isso, as redes sociais pipocavam com notícias do local a todo instante e o assunto esteve entre os trending topics do Brasil.A confusão se prolongou até a tarde da quinta-feira, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, embargou a demolição das edificações do Cais José Estelita. O documento emitido ressalta o "poder geral de cautela do Iphan quanto à preservação do patrimônio arqueológico".O Ministério Público Federal também se pronunciou condenando a ação “agressiva e irregular, feita sem Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) e Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV)”.As máquinas foram retiradas do local, mas a medida do IPHAN é provisória. Enquanto isso, a ocupação permanece firme com o pessoal acampando e dando um exemplo de resistência da sociedade civil. O cais José Estelita recebeu, nos últimos dias, grande movimento de pessoas organizando alimentação com opções vegetarianas para os acampados, oficinas culturais, projeção de filmes, shows e palestras. Artistas como Marcelo Jeneci, Otto, Karina Buhr e José Celso Martinez também demonstraram seu apoio ao movimento postando fotos com as hashtags #ocupeestelita e #resisteestelita. A causa está crescendo e ganhando apoio, resta saber até onde o capital e interesses políticos vão definir o rumo de uma cidade.LINKS:Direitos UrbanosMovimento Ocupe Estelita
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