FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Música: Pantha Du Prince

Eles até podem trajar de negro, mas aqui não há toque a finados.

Elements of Light
Rough Trade
7/10 Imaginem que a electrónica no seu todo é o continente africano e que, entre os seus géneros e sub-géneros, o minimal techno é um daqueles países com um vasto território minado. Há, entre os que tentam percorrer esse território, três conjuntos distintos: aqueles que o fazem por extensão ao ser melómano, os que nunca ouviram outro género de música e, por fim, os de capacidade mental diminuta. Sendo que, em 90 por cento dos casos, os segundos são parte integrante do terceiro. Ora, se os segundos se limitam a deambular de bar de maricas em bar de maricas no Bairro Alto – mas não por muito tempo, os bares fecham às duas da manhã — enquanto esperam pela abertura da Lux para verem o milionésimo DJset da Anja Schneider; os primeiros conseguem discernir a evolução e mutação do género, alheios às banais boçalidades que vão saindo da minus e quejandos. A sério, digam-me dez malhas do Richie Hawtin de que gostem (podem incluir a “Spastik”, para facilitar). É aqui que entra em acção Pantha du Prince, alter-ego do alemão Hendrik Weber, que depois do fantástico This is Bliss, um disco nos meandros do ambient, da mesma era electrónica de Merciless de Andy Stott ou de The Idiots are Wining de James Holden, resolveu tornar a sua sonoridade mais adulta, tal como o primeiro que, enveredando pelas ruelas do dark ambient, fundiu o seu som com as influências do garage uk/post dubstep, mas ao contrário do optar pelo caminho (fácil) do segundo, que se limita basicamente a ruminar cantigas nos Neo Pop’s deste mundo. A tentativa, Black Noise, primeiro disco na Rough Trade, não evoluiu para onde deveria, e se o mais certo é que tal tenha ocorrido por imposição dos executivos londrinos, formatando-lhe o som e indo contra a estética tão típica das caves dos subúrbios berlinenses, tenho uma teoria um pouco diferente. O epicentro desta reside na participação de Noah Lennox no disco. Desde a formação dos Foo Fighters por Dave Grohl que ninguém tinha uma ideia tão estúpida quanto convidar um coveiro para dar uma mãozinha (ainda que só numa canção) num disco. Porém, em 2013, Pantha du Prince reinventa-se e, associando-se aos The Bell Laboratory, lança Elements of Light, um disco de deixar qualquer um siderado pela forma como conseguiu juntar elementos electrónicos e orgânicos em perfeita comunhão. Os Bell Laboratory são uns tipos que se vestem de monges (não confundir com “mongos”, os tais da supracitada terceira categoria), os Trey Spruance/Stephen O'Malley lá da paróquia, e que muito possivelmente teriam enveredado pela via do “trve norwegian metal” não fosse o excesso de catequese e, como conseguinte, a infância imbecilizada e tolhida pela “Kumbaya” na guitarra acústica. Nas horas vagas, contudo (e sempre à socapa), são mestres na arte de bem dar umas valentes batucadas em tudo o que é sino, sineta, sininho, ou, em suma: o que eles gostam mesmo é de um bom carrilhão. Elements of Light são 45 minutos que nos levam de volta a paisagens sonoras muito próximas daquelas conseguidas em “This Bliss”: estão lá as electrónicas minimal, os “space sounds” e os sons líquidos que ora são (em)bebidos em dark ambient, ora em texturas mais próximas do chill/lounge, mas, contaminados qual pózinho de perlimpimpim, pelos agudos da máquina de percussão que são os manos vestidos de negro. O início de “Particle” parece contar com a participação de Thor Harris no carrilhão — e teria toda a lógica se tal ocorresse —, mas ao longo dos 12 minutos da canção damo-nos conta a canção progride para a luz (ou não tivesse o disco o nome que tem) e não para a escuridão, como se de uma versão depilada, fofinha e super pausada de Swans se tratasse. Por entre os 17 minutos da enorme (não é pleonasmo, por muito que pareça) “Spectral Split” aparece o som do glockenspiel, mostrando que nem só de sininhos vive a percussão. O álbum vai desaguar a “Quantum”,  exclusivamente composta pelo som de uma caixinha de música, e, como tal, recomendada a pessoal com insónias, fãs de The xx e a pessoas entre os 20 e os 30 anos que afagam os gatinhos no colo quando em frente ao computador. Como os sinos deste pessoal não tocam a finados, não acham que seria altamente um concerto destes na igreja da vossa paróquia? Já os estou a imaginar na da minha, nunca lá entrei, é certo, mas vi no YouTube que tem alto órgão de tubos e, para o cenário, uma cruz maior que aquela que os Justice carregam (interpretem como quiserem). Ah, já me esquecia, no fim, já umas sete da manhã e antes que as primeiras beatas chegassem para a oração matinal, íamos todos mandar um mergulho.