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Música

Mike Paradinas Sobre os 20 Anos do Icônico Selo Planet Mu: “É Sempre Algo Instintivo pra Mim”

Ouça a primeira coletânea comemorativa com faixas inéditas de artistas lançados pela label entre 2005 e 2008.

No mês de aniversário da PLanet Mu, estamos lançando mixes do selo que contam um pouco da sua história. Primeiro: Ital Tek, que aprimorou suas faixas de 2005 a 2008. "Eu tentei destacar as faixas com mais alcançe do catálogo desses anos, das exuberantes paisagens sonoras de Tim Exile e Ben Frost, ao poder indústrial de Vex'd e Distance, e o cara que fez tudo isso acontecer — Mike Paradinas, também conhecido como µ-Ziq," explica Ital Tek. "Eu incluí algumas das faixas do meu primeiro disco de 2008, Cyclical. "Tokyo Freeze" (2007) foi um dos primeiros sons que compus de verdade e nunca esquecerei de ter recebido a ligação de Mike, foi o começo de tudo para mim". Veja abaixo a lista das faixas.

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A Planet Mu tem muito a comemorar. O selo alternativo que chega aos 20 anos com amadurecimento e empreendendo mudanças e evoluções monstruosas na música sem perder sua importante posição nos limites da música eletrônica — no catálogo do selo há tudo, do IDM ao dubstep, do grime ao footwork. Por isso não há dúvida em dizer que a Planet Mu tem sido uma importante plataforma para levar artistas emergentes direto para os holofotes. Para pontuar seu vigésimo aniversário, o selo lançou uma compilação de três discos, cada um com 50 faixas inéditas, compilando sons da velha guarda de nomes como Jega, Remarc, Hellfish e µ-ZIQ, aos preferidos da atualidade como Jlin, Ital Tek, Boxcutter e Machinedrum.

"As [faixas] que escolhi pareciam certas, como se elas ainda dissessem alguma coisa", explica o chefe do selo e formidável arqueólogo de sons Mike Paradinas, por telefone da sua casa em Brighton, cidade próxima a Londres — onde o choro de seu quarto filho podia ser escutado ao fundo. Nós falamos com Paradinas sobre desenterrar preciosidades para a compilação, o segredo da longevidade do selo ("Nós fazemos coisas com pouco orçamento, e eu acho que é por isso que sobrevivemos") e por que ele ficou completamente envergonhado a primeira vez que entrou em uma balada.

THUMP: Ei mike! Onde você está agora?

Mike Paradinas: Estou em casa, que é perto de Brighton. Peguei 30 dias de folga mês passado, nós estamos com um bebê novo. Ele é muito tranquilo, dorme bem, tudo está bem.

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Como estão indo as comemorações para o vigésimo aniversário do selo?

Eu não sei quando virá a hora de comemorar. Nós estamos preparando essa compilação já faz um ano, demorou muito para conseguir combinar a música e a arte.

Como você escolheu faixas pora uma compilação tão ampla como essa? Por onde começar?

Metodicamente. Eu passei por 600 a 700 faixas não lançadas que tinha escutado antes, tentando achar bom material. Comecei ano passado, e estava fazendo isso ora sim, ora não até abril ou maio.

Teve algum critério para escolher as faixas, ou foi uma coisa instintiva?

É sempre uma coisa instintiva para mim. O jeito fácil seria dizer o que encaixou. Mas eu acho que todas essas pequenas decisões acontecem no seu subconsciente e você aprende a acreditar no seu instinto. As [músicas] que escolhi pareciam certas, como se elas ainda tivessem algo a dizer. Muitas faixas que não se sustentariam hoje foram descartadas nos primeiros estágios.

Quando você diz "não se sustentariam", o que você quer dizer?

Ou datadas, ou não dizendo nada do que aquele artista estava dizendo originalmente. Tirando a faixa "103" de Jega, que eu acho que não diz mais nada, ainda que seja particularmente bonita. Muito do que eu tirei foi dubstep. Entenda como quiser.

Você desenterrou alguns ouros durante esse processo de separação?

Tem alguns artistas, especialmente mais novos como Anti-G e Jlin, que não tinham nenhuma faixa sobrando, por isso tive que perguntar para eles se tinham alguma coisa. Remarc apareceu com uma ótima [faixa] quando perguntei se ele tinha alguma coisa. E teve também a faixa de Jega, que tinha 17 ou 18 anos de idade [quando a fez]. Lembrava vagamente dela. A faixa de DJ Nate foi mandada para mim mais ou menos 18 meses atrás quando ele começou a fazer footwork de novo, e isso me lembrou de lançar seu álbum, que foi uma época incrível. Tinha muito ouros naquela época, mas eu não costumo esquecer de faixas. Eu tinha em mente o tipo de coisa que eu queria.

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Você pretendia arrumar esses álbuns de forma cronológica?

Não sabia que iria ser uma compilação de faixas inéditas no começo. Nós brincamos com algumas ideias, talvez um DVD de apresentação ao vivo ou remixes. Todas essas ideias já tinham sido feitas. A ideia mais simpática foi vasculhar os arquivos e desenterrar esses achados. [A coletânea] não é cronológica. O primeiro e o segundo CDs mostram em que lugar o Planet Mu está agora e como chegou até aqui. O terceiro CD, apesar de ter algumas faixas mais recentes, é sobre os nossos primeiros cinco ou seis anos.

Falando sobre como o Planet Mu está hoje em dia, você vê certos marcos ou mudanças importantes na história do selo?

Houveram diversos momentos nos quais, se eu não tivesse certas ideias ou tivesse realizado eventos específicos, a Planet Mu poderia não ser a mesma. O primeiro [evento] foi em 1999, quando estava discotecando muitas faixas de Hellfish & Producers, e pensei, 'eu estou só lançando várias demos que estão me mandando. Eu não estou indo e procurando. Eu deveria ligar para as pessoas que fizeram os discos que estou tocando, ao invés de escrever para as pessoas me contatarem'.

A segunda coisa foi quando lançamos um disco de Remarc com material antigo de 1993 a 1996, coisa jungle antiga. Foi o nosso primeiro relançamento, e levou um bom tempo para organizar, mas foi outra hora que eu cheguei com a ideia, tentei achar o artista e liguei para ver se eles gostavam da ideia.

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Parece que muito da sua estratégia procura tornar disponível algo que não está disponível.

Outra razão para querer relançar Remarc foi porque tinha alguns dos doze polegadas que eu comprei quando morei em Londres, mas não conseguia achar as faixas que eu queria. Eu costumava ir a lojas como Boogie Times, em Rumford. A Suburban Bass , que os lançou, estavam sem os discos. Eles nem sempre vendiam os discos que estavam tocando, eles guardavam para os DJs. Se eles não te conhecessem, não vendiam para você. Eu só fui atrás do que queria, e mais tarde quando o eBay começou, comprava muito jungle e garage da internet.

Em 1996, eu estava morando em Wooster, nos Estados Unidos, e comprava o que virou grime e dubstep, naquela época chamava dark garage. Em 2004, o grime ganhou esse nome, e o dubstep se destacou da cena. Era difícil de perceber, apenas comprando os discos, que eles eram de lugares diferentes, como o sul e o oeste de Londres, porque as lojas os vendiam sob o mesmo rótulo. Quando eu comecei a lançar dubstep no selo em 2004, comecei a conhecer algumas pessoas da cena. Eu fui para Big Apple em Croydon e conheci Hatcha, e FWD>> e DMZ, então começamos a lançar muito dubstep. Foi realmente uma época formadora.

A edição deluxe da compilação do Planet Mu.

Você se mudou bastante no Reino Unido, de Londres a Kent, até chegar a Brighton, onde está agora. Como essas cidades agiram no desenvolvimento do selo?

Eu cresci em Londres, e a primeria cena na qual eu cresci foi o techno. Na verdade não — fui nessa casa de música latina em Brixton chamada Mambo Inn. Isso deve ter sido em 1987, antes da house music existir. Eu me lembro de uma porta de metal e um negro gigante para quem você tinha que pagar para entrar. Meu amigo Bruce, que era mais velho, comprou alguns drinks porque nós todos tínhamos 16 anos. Eu não consigo nem lembrar de ter visto o DJ, estava bem escuro. Tinha esses dançarinos incríveis, mas eu odiava dançar. Eu estava bem envergonhado porque eu era branco e não dançava e ficava voltado para a parede [risos].

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Aquilo me inspirou, ver aquela dança incrível — que liga você ao footwork porque eram todos dançarinos de jazz, que é bem similar. Eram discos suingados bem antigos; eles chamavam de rare groove, que é qualquer coisa inspirada em James Brown [risos]. Então a house music apareceu e eles mudaram o nome para acid jazz para faturar.

Quais as suas esperanças para os próximos 20 anos do selo?

Nós queremos ser um grande selo e conquistar o mundo, mas eu não acho que vá acontecer. Nós gostariamos de ter um artista que nos ajude financialmente — uma fonte que pague pelo selo. No Ninja Tune é Bonobo, na Hyperdub é o Burial. Nós gostariamos de não nos preocupar muito com dinheiro. Coisas práticas desse tipo. Eu li uma entrevisa com [o co-fundador da Warp] Steve Beckett alguns anos atrás em uma revista de avião, talvez na época do vigésimo aniversário da gravadora. Ele falava sobre a Warp começar a fazer filmes, dizendo que o modelo de um selo independente no qual você vende três mil discos acabou. Naquela época nós estávamos vendendo três mil discos, e agora muitos selos estão vendendo menos do que isso, mesmo para álbuns que ganham bastante lugar na imprensa.

Você concorda com a cosntatação de Steve?

Não [risos]. Muitos selos apenas lançam música no Bandcamp e mantém tudo pequeno. Nós podemos fazer isso no futuro.

Você se sentiria satisfeito fazendo isso?

Acho que sim. Eu só teria que fazer minha esposa conseguir um trabalho. Eu comandava um selo na época que nós tínhamos muito menos despesas. Nós fazemos as coisas de forma barata, e eu acho que é por isso que sobrevivemos por vinte anos. A não ser pela música. Nós trabalhamos muito para conseguir fazer cada lançamento certo, nós tentamos ajudar os artistas a soarem tão bem quanto conseguem. Eu acho que essa é a nossa força, na verdade.

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Falando sobre fazer a música soar bem, no panfleto que vem com a compilação, tem uma entrevista na qual você diz: "A ideia e a emoção são mais importantes do que a produção, e a produção pode tirar isso da música". Você pode falar mais sobre isso?

Hmm. Não sempre, obviamente. Às vezes boa produção é todo o motivo que faz algo soar bem. Estou pensando sobre a PC Music ou muito do Amnesia Scanner. Quando disse isso, eu estava pensando sobre faixas que foram trabalhadas demais. Alguns artistas nos mostram a demo e tentam terminar a faixa, mas o demo soa melhor porque soava vivo, com mais energia. Quando você trabalha demais alguma coisa, pode perder muito. Eu acho que algumas pessoas enfiam muito detalhe em uma faixa, e isso deixa a música obscura. Muitos produtores de techno são bons nisso — como Surgeon, seus mixes são incríveis. Tentar equilibrar um mix para que você não sufoque uma faixa, é uma arte obscura.

O que o selo tem por vir?

Tenho uma lista na minha frente com cerca de 30 pessoas com quem estamos trabalhando para novos lançamentos. Nós acabamos de fazer um álbum com Yearning Kru, um inglês que mora na Coréia que faz colagens de som assustadoras basicamente sem beat. Anther with Herva, um produtor italiano de 18 ou 19 anos que foi lançado no All City, Don't Be Afraid, Bosconi, Delsin. Mas ele está encontrando seu som com esse álbum. Eu estive escutando isso toda semana nós últimos seis ou sete meses, e acabou de encaixar, eu acho. Se chama Kila, que é Swahili para tudo. Ital Tek está fazendo seu quarto disco com a gente. Outro disco do Venetian Snares, e outro EP do Jlin. Todos artistas bem empolgantes.

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Última pergunta: qual o segredo da sua longevidade?

Eu prefiro fazer isso do que qualquer outra coisa. Isso ajuda.

Ital Tek Planet Mu 20th Anniversary Mix (2005 - 2008) Lista de faixas:

  • Exile - Sliiime
  • Milanese - Mr Ion
  • Ital Tek - Tokyo Freeze
  • Ital Tek - Cyclical
  • Pinch - Qawwali
  • Boxcutter - Bug Octet
  • Vex'd - 3rd Choice (Loefah Remix)
  • Ital Tek - Deep Pools
  • Ben Frost - Theory Of Machines
  • µ-Ziq - Gary's Gruesome Grime
  • Vex'd - Pop Pop V.I.P
  • Distance - Delight
  • Starkey - Miracles (Jamie Vex'd Remix)
  • Equinox - Acid Rain V.I.P. (Breakage Final Chapter Mix)
  • µ-Ziq - Ease Up VIP

As versões normais e limitadas em vinil do µ20 estão disponíveis agora no Planet Mu, com o box de edição limitada sendo lançado em 2 de outubro. Consiga eles aqui.

Tradução: Pedro Moreira.