O carioca Leo Justi tem um tempo próprio pra fazer sua música. Vira a Cara, o novo EP dele que o THUMP lança nesta segunda (20) com exclusividade, surge como um exemplo disso. Não é que ele chegou e falou para si mesmo: "Agora vou trabalhar no meu próximo EP". O cara parece ter dedicado um tempo experimentando várias possibilidades, como de costume, brincando sem nóia com trechos simples de funk sob várias camadas de bases e batidas. Quando sentiu que já dava pé, fez um pente fino e selecionou as cinco melhores faixas que tinha na manga para este trampo."Eu curto esse processo. Juntei as faixas que estavam mais maduras, fechei essa sequência e pedi uns feedbacks de amigos. Todos gostaram muito. E notei que elas têm algo em comum: samples que remetem a sacanagem sem explicitar. Que é uma coisa rara hoje no funk, que só tem putaria explícita! Eu não me identifico muito com isso. Curto mais a era de 2000-2005, Bonde do Tigrão, do Vinho, as montagens minimalistas", diz.Veja o clipe de "Vira a Cara"A faixa-título, para se ter ideia, começou a ser rascunhada há três anos. "Eu estava na Lapa e ouvi a original, do Mr. Catra e do MC Dido. Achei engraçado demais, e fixei na ideia de samplear aquilo", conta o artista, que chegou a estudar violino na infância e teve uma banda de rock na adolescência. "Os caras da minha banda achavam funk caído. Então eu ouvia na encolha", revela. Desde que superou essa fase da vida, o Leo vem se dedicando a mudar a percepção caricaturada do senso comum sobre o funk e a expandir os limites do estilo.O EP conta com rimas do MC Dido e do seu parceiro de sempre, o MC Tchelinho, em "Falaram que Eh Foda" e "Pros Amigo". "Conheci o Tchelinho no Rap da Cruzada, um evento que ele promovia na Cruzada de São Sebastião. A Cruzada é a comunidade dele, uma favela tipo Cohab no Leblon. O evento sempre acaba dominado pelas crianças da comunidade. Ele começou a fazer freestyle pra elas e eu pirei com aquilo", descreve.
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Daí, no final de 2013, o Leo convidou o Tchelinho para gravar umas coisas, e assim deu-se início a uma frutífera parceria. Em 2014, eles lançaram a festa Heavy Baile no Club Cave, com o Tchelinho na função de mestre de cerimônia. Segundo Leo Justi, "ali começou uma coisa fortíssima. Numa boate onde a cerveja é 10 reais, chegamos a colocar 70 moradores da Cruzada, todos na área VIP. A mistura que ocorreu foi algo especial e raríssimo. Rolou a integração da vibe de baile de favela com uma noite de música eletrônica alternativa".No fim das contas, essa vibe de integração a que ele se refere para falar da festa é a mesma atmosfera lasciva que dá o tom em todas as suas produções. Pesadão e selvagem, o som do Leo importa lances que vão do Baltimore club ao trap sem rendição aos clichês, passando pelo dancehall e outras sacadas da cultura bass. A receita do batidão definida por ele promove uma fodida combinação de crueza e refinamento. E que encontra seu ápice de maturidade neste repertório.O Leo Justi está nas redes Facebook // Soundcloud // Twitter // Instagram