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Tecnologia

Cientistas Querem Usar Lasers do Espaço Contra o Aquecimento Global

As propostas, um tanto malucas e futuristas, podem ser o primeiro passo para semear nuvens com laser.
CALIPSO e satélites similares. Crédito: NASA

Na primeira grande conferência mundial sobre geoengenharia, dois cientistas diferentes propuseram formas de se usar lasers para modificar o clima terrestre e combater o aquecimento global, direto do espaço.

Um deles sugeriu que um satélite equipado com um laser de alta potência poderia cultivar nuvens na atmosfera, e o outro sugeriu lasers que removeriam os gases do efeito estufa da órbita para efetivamente dar cabo dos agentes responsáveis pela mudança climática.

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As duas altamente teóricas propostas ainda estão em suas fases iniciais, e facilmente figuram dentre as mais radicalmente ambiciosas dentre os já radicalmente ambiciosos planos de engenharia climática discutidos pelos cientistas. Estes planos não tratam de traquitanas que absorvam a poluição causada pelo carbono ou o espalhamento de partículas no céu, afinal – estamos falando de lasers espaciais poderosos o suficiente para alterar o clima.

Algo que Isabelle Dicaire, da Agência Espacial Europeia, estuda em tempo integral. Ela foi à Berlim esta semana para discutir como um satélite equipado com poderosos lasers LIDAR pode provar-se útil para a pesquisa – e talvez eventualmente orquestrar – da engenharia de clima.

O LIDAR é uma tecnologia remota que atira um laser em determinado alvo e analisa seu reflexo para medir distâncias com precisão. É algo já usado amplamente aqui na Terra (em coisas como o carro sem motorista do Google) e pelo satélite CALIPSO, da NASA. Dicaire está interessada no que poderíamos fazer com um LIDAR muito mais poderoso e posicionado no espaço; em teoria, ele seria capaz de detectar o movimento de partículas em nuvens, e talvez até mesmo criar novas nuvens.

ESTE SERIA O PRIMEIRO PASSO PARA SEMEAR NUVENS COM LASER

Entre as ideias mais discutidas de geoengenharia nos anos recentes está o tal clareamento de nuvens. Uma nuvem não é nada mais do que uma massa de vapor de água condensada em gotículas ao redor de partículas que flutuam no ar – e quanto mais gotículas na nuvem, mais luz solar é rebatida dela.

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Assim, os geoengenheiros perceberam que se você conseguir aumentar a área da superfície das nuvens, ou semear mais destas, seria possível refletir luz solar o suficiente para resfriar o globo. A pesquisa neste tema até então foi limitada, e Dicaire afirma que um LIDAR poderoso ajudaria os cientistas a entenderem melhor a ciência por trás do fenômeno. E vai além: a técnica poderia ser usada para semear as nuvens em si.

"Outra aplicação possível seria usar os efeitos do que ocorre dentro dos filamentos de plasma para fazer umas coisinhas bem exóticas. Por exemplo, semear nuvens a base de laser", afirmou. Pesquisadores da Universidade de Gênova, afirma Dicaire, provaram que lasers podem produzir estas gotículas.

"Eles estão gerando nano-gotículas de água com lasers", ela disse. Em um laboratório, porém. "Estou de olho na área para ver o que poderíamos fazer do espaço."

Então, em teoria: "Pode-se usar o Sistema de Observação Terrestre para mirar ou encontrar nuvens, quais tipos de nuvens deseja-se semear, e daí por diante, direcionar o raio para estas". Tenha em mente que a ideia de usar o SOT para examinar algo é inteiramente teórica, e não existe nenhum laser em órbita capaz deste feito. Não é algo impensável, em termos tecnológicos – os entraves políticos e econômicos certamente são maiores.

"Até então você só encontra estes lasers em terra. Eventualmente, se alguém quiser instalá-los em um satélite, eles teriam que passar por uma qualificação. Ou seja, é algo pelo qual a indústria está ansiosa. E este seria o primeiro passo caso você quisesse semear nuvens à laser."

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Este provavelmente seria um jeito bem caro de deixar as nuvens mais claras – propostas mais antigas sugeriam o uso de barcos para borrifar água do mar em direção ao céu – e você precisaria de muitos satélites com laser. Mas Dicaire, por enquanto, está mais interessada na pesquisa subjacente sobre como o LIDAR poderia ajudar os cientistas.

Crédito: NASA

"É um conceito muito básico. A única entidade que está estudando-o no momento é o SOT, e mesmo assim é algo muito preliminar. Apenas queremos ver se é possível enviar um raio do satélite ao chão. Se for o caso, investigaremos mais a fundo", afirmou.

Como alternativa, poderíamos usar outro tipo de satélite com laser para atirar nos gases do efeito estufa já presentes na atmosfera. Isto é o que Aidan Cowley, professor da Universidade Municipal de Dublin, propõe. Ele crê que um satélite movido á luz solar equipado com plasma poderia penetrar os gases retentores de calor de forma a dividi-los em gases menos danosos.

"Já observamos aqui na Terra que abordagens com ionização de plasma, por exemplo, plasma aéreo, podem essencialmente dissociar poluentes de longa vida: SF6, dióxido de carbono. Isto é algo que observamos e que está bem documentado na literatura", Cowley me contou. "O plasma basicamente excitará qualquer gás pelo qual passe, e ao dar energia a estes gases, estas espécies moleculares, eles se dividem – no caso do SF6, ele vira enxofre comum, e outros se tornam em gases estufa mais benignos."

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É uma ideia sedutora, é claro; o SF6 é um gás potente e de longa vida. E nosso despejo de CO2 está levando a mudança climática a um abismo; seria conveniente poder dar um jeito nisso com um laser. Então por que ainda não o fizemos, se a ionização de plasma provou poder atrapalhar a formação dos gases responsáveis por nossa crise climática?

"O problema de usar [lasers] como maneiras de tratar o clima, e gases do efeito estufa em si, é que a energia usada por estes plasmas teria que ser gerada na Terra. Então gastaríamos combustível para combater emissões que estão sendo produzidas de qualquer forma, o que aumentaria as emissões de qualquer forma. Logo, teria que existir um panorama de baixo custo e sem emprego de energia que nos liberte deste paradigma. E é aí que entra a ideia de usar energia solar do espaço para tanto."

Um satélite equipado com painéis solares pode dar conta.

NÃO HÁ NADA DE LOUCO NISSO, ENERGIA SOLAR NO ESPAÇO

"Essencialmente ao usar a energia abundante disponível na órbita para levar o fenômeno de ionização à atmosfera, você pode resolver o problema facilmente ao fazer o mesmo aqui em terra, e com uma fonte de energia quase inesgotável para tanto. Só precisamos desenvolver a tecnologia e prepará-la para isso", afirmou.

Veja bem, existem outras questões aqui: estes gases já estão bastante difusos na atmosfera, então seria difícil atingi-los de forma eficaz com um laser. Cowley afirma que provavelmente seriam necessárias várias unidades para fazê-lo da forma correta. E entra aí o enorme custo de se montar, testar e lançar as máquinas, é claro.

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Cowley também declara que seu satélite seria útil para a criação de ozônio, para remendar os buracos deixados pelo uso excessivo de aerossóis. "Poderíamos usá-lo para criar ozônio também", disse. "É um tremendo pedigree para se criar ozônio. É um truque bem simples." Mais uma vez, ele adiciona, a tecnologia poderia ser usado para fazer o contrário também.

"O contrário, do ponto de vista militar, também seria possível, ao utilizar o equipamento para destruir a camada de ozônio, se feito do jeito certo", disse. "Possivelmente poderia-se abrir buracos na atmosfera de países vizinhos não muito amigáveis."

Mas o Dr. Cowley acha que seu satélite contra o efeito estufa seria viável?

"Ainda acho que vá demorar um bom tempo. Há um certo movimento underground à respeito disso, então acho que tudo continuará a se desenvolver, a seguir em frente. A energia solar espacial tem um belo futuro pela frente para certas aplicações, e creio que, eventualmente, como a maior parte das tecnologias, será o nicho que moverá a adaptação de massa", afirmou. "Encontre um bom nicho e faça-o funcionar, e as pessoas dirão 'poxa, isso não é tão louco assim, no final'. E não tem nada de louco nisso, energia solar no espaço. Não é ficção científica."

Tradução: Thiago "Índio" Silva