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Música

Uma História da Warp Records em Oito Lançamentos

Aphex Twin, Chris Morris, Mount Kimbie são alguns nomes que fazem parte do rol de artistas da gravadora mais destemida do Reino Unido.

No ano passado, nossos amigos do Noisey UK lançaram um curta sobre a primeira vez que o Mount Kimbie se apresentou com um quarteto de metais. A dupla faz parte de uma longa linhagem de artistas eletrônicos contratados pela Warp Records que ampliam os limites do som, da tecnologia e da performance. David Stubbs, ex-editor da revista The Wire e fanático confesso da Warp, traça o histórico da gravadora mais destemida do Reino Unido através de oito de seus lançamentos mais importantes.

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A Warp Records só poderia ter surgido em Sheffield, com o histórico peculiar de sua robusta produção eletrônica. Cabaret Voltaire, The Human League e Clock DVA estabeleceram a tradição de um synthpop mal-humorado aproveitando futurismos do passado – do Dadaísmo a William Burroughs e Metrópolis. Quando Steve Beckett e o finado Rob Mitchell fundaram o selo em 1989, o Reino Unido estava tomado por uma minirrecessão e pelos primeiros espasmos do acid house, em que os sons de “Voodoo Ray” do A Guy Called Gerald reverberavam através dos Montes Peninos. O som inicial da Warp refletia ao extremo o projeto acid/Detroit para desnudar a dance music até chegar em sua essência austera e metálica. Mas conforme a gravadora cresceu, começou a acrescentar mais polpa ao seu rol. Discos do combo avant-guitar Seefeel e Tortoise carregam o mesmo selo icônico que os de hip hop do Antipop Consortium.

Com um nome que insinua perversão, vinil e a famosa noção de velocidade de dobra espacial (“warp” em inglês) da ficção científica, o ethos do selo era anormal e não tinha limites. Abraçou não apenas a música eletrônica, mas também vídeo, cinema (Chris Cunningham e Shane Meadows já trabalharam com o selo), design gráfico (o estúdio Designer Republic, de Sheffield, e a arte definitiva de Julian House, por exemplo) e até mesmo comédia. Ela une galeria e pista de dança, o absolutamente funcional e o completamente gratuito. Em um mundo onde as grandes gravadoras correm o risco de encolher e se transformar em uma única e autoritária Omnicorp, a Warp tem demonstrado o que é preciso para sobreviver e prosperar como um selo independente no fim do século 20 e início do 21. É ao mesmo tempo uma marca extremamente eficiente e um ideal estético. Brian Eno entendeu isso e é por esse motivo que, quando voltou a fazer música nos anos 2000, decidiu fazer da Warp o seu lar.

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Em algum momento, o último dos grandes independentes do norte da Inglaterra teria de se mudar para o sul. Mas em seu constante e curioso processo de expansão e autorrenovação, continua a se transformar dentro dos mundos cada vez mais misturado da música, da arte e do design, em que sua própria originalidade deriva da ideia de que as velhas formas ainda não estão esgotadas.

A discografia da Warp é de fato substanciosa, e embora nem todos os seus artistas tenham desfrutado do sucesso comercial, são poucas e preciosas as insânias e constrangimentos do seu legado. Seria possível escolher aleatoriamente oito artistas e álbuns ao longo dos anos para refletir de forma confiável a transição do dance underground aos novos e ambiciosos territórios e ambientes – Nightmares On Wax, Black Dog Productions, Squarepusher, Vincent Gallo, Clark, Red Snapper, Harmonic 33, Jamie Lidell, Plaid e Mira Calix, para citar apenas dez. Aqui, no entanto, estão listados oito lançamentos fundamentais que refletem o impacto passado e futuro do selo.

Sweet Exorcist: Clonk's Coming (1991)

O primeiro lançamento da história da Warp foi um álbum do Richard H Kirk do Cabaret Voltaire sob um de seus muitos pseudônimos. Isso representou uma ligação simbólica com o passado – o CV era um dos grupos eletrônicos mais antigos de Sheffield, atuante desde 1972, mas que seguiu seu curso até os anos 90. Kirk, no entanto viu novas possibilidades no som do Detroit techno, reduzido “a quase nada”, como descreveu para mim, e formas completamente novas de reconfigurar quebras, samples e loops que ele explora aqui, utilizando tecnologias novas mais baratas, como o Akai S-1000, que custava cerca de 100 mil libras nos anos 80.

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LFO – Frequencies (1991)

A dupla de Leeds Mark Bell e Gez Varley sintetizou o início do som de “bipes e booms” da Warp: um tipo mínimo meio Meccano, só sub-bass e um senso nefasto de um espaço profundo no lugar do hedonismo ostentoso do acid house. Frequencies foi, todavia, um grande sucesso, estabelecendo a identidade da Warp e tornando a gravadora uma força irrefutável no emergente mundo do techno britânico. O LFO desapareceu inexplicavelmente em meados dos anos 90. Assim como o Kraftwerk, foi como se, assim que sua obra fundadora estivesse terminada, a única coisa lógica fosse encerrar a produção.

Autechre – Inculabula (1993)

Aphex Twin – Richard D James (1996)

Boards Of Canada - Music Has The Right To Children (1998)

Embora o termo “fantasmologia” (“hauntology”) só fosse aparecer anos mais tarde, a dupla escocesa Michael Sandison e Marcus Eoin já estava nessa no fim dos anos 90, aproveitando como inspiração a exposição que tiveram na infância a documentários de história natural feitos pelo National Film Board of Canada. Músicas instrumentais analógicas oscilantes e obscuras como “An Eagle In Your Mind” ressoam em todo mundo que lembra de programas educacionais antigos e o então incipiente uso de sintetizadores; insinuam futuros perdidos enterrados e semidissolvidos nas doces trevas do passado..

Chris Morris – Blue Jam (2000)

A nossa era é uma em que a comédia alternativa foi substituída por jovens pretensiosos irritantes e ambiciosos de gel no cabelo posando para anúncios em que eles mostram seus próprios DVDs com a boca escancarada. O esquivo e impactante Chris Morris sempre foi o antídoto para isso. Blue Jam, uma série de atos musicais e esquetes cuja característica doentia contradiz uma base escrupulosamente moral e satírica, utiliza trilhas sonoras ambientes sombrias que criam um clima deliberadamente antitético ao “alegre”. Isso era comédia extrema em sua ambição, enquanto a aventura da própria Warp nesse terreno já era em si seu mais audacioso ato de diversificação.

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Broadcast And The Focus Group – Investigate Witch Cults Of The Radio Age (2009)

Liderado pela finada Trish Keenan, o Broadcast estava entre os numerosos grupos dos anos 90 que investigavam as possibilidades descartadas de um vago e indefinível “pop perfeito” de tempos passados. Feito com o designer Julian House, que também era responsável pela música fantasmológica do The Focus Group, Investigate talvez seja o mais fino feito do Broadcast, com insinuações do Pink Floyd da época do Piper At The Gates Of Dawn, assim como o filme de terror Os Inocentes e toda uma caixa macabra de apetrechos coloridos e enigmáticos.

Mount Kimbie – Cold Spring Fault Less Youth (2013)

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