Retratos de pessoas que conheci em sites de sexo alternativo

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Retratos de pessoas que conheci em sites de sexo alternativo

Falamos com o fotógrafo britânico Joshua T. Gibbons sobre seu novo projeto, “Sex Site”.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

(Todas as fotos por Joshua T. Gibbons)

O trabalho mais recente do fotógrafo britânico Joshua T. Gibbons, "Sex Site", é uma série explorando a guinada para uma aceitação de estilos sexuais "alternativos" no Reino Unido, e o papel da internet nisso. E esse papel, claro, é imenso: até o advento dos sites pensados para conectar, digamos, gente com fetiche por roupas de borracha, era difícil para essas pessoas explorar propriamente seus interesses sexuais, isoladas — como estavam — de alguém que sentisse o mesmo.

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Para "Sex Site", Josh entrou em contato pessoas em vários sites e plataformas de sexo "alternativo", depois visitou a casa delas, tirando seus retratos, e em alguns casos, reunindo mensagens que elas receberam por meio desses sites. Falei um pouco com ele sobre o projeto.

VICE: Como você escolheu quem queria apresentar nesse projeto?
Joshua Gibbons: Inicialmente isso teve muito a ver com convencer as pessoas a se envolverem. Frequentei essas plataformas de seis a nove meses, construindo uma base de dados, acho — apesar de essa ser uma maneira clínica de descrever o processo. Eu tinha que ganhar a confiança de certos indivíduos e refinar quem eu achava que seria interessante para o projeto. Isso me levou a um grupo de pessoas de 18 a 35 anos e aqueles de origens mais interessantes.

Como você abordava o tema com os participantes em potencial? Que obstáculos você encontrou?    
Fui explícito nas minhas intenções logo de cara. Com esses sites em particular e o conteúdo deles, muitas pessoas são bem desconfiadas, e com razão. Eu não queria sentir que estava enganando ninguém. Fui sincero sobre minhas intenções, e às vezes as respostas eras mistas. Alguns diziam "Ótimo, apoio essa ideia e adoraria me envolver", quando outros respondiam "Não entendi direito o que você está tentando fazer. Você quer vir até a minha casa e me fotografar? Fazendo o quê?" E eu dizia "Só quero fotografar vocês passando roupa ou algo assim", e a pessoa respondia "Seu maluco! Por que você quer fazer isso? Te deixo vir até aqui em casa e fotografar minha esposa com dez esporradas na cara, mas não vou te deixo me fotografar fazendo algo familiar". Foi um obstáculo, no começo, convencer as pessoas de que eu não era só outro esquisito. Bom, talvez eu seja. Dar a impressão de que você é uma pessoa interessante, relativamente normal e confiável era 90% do desafio.

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Por que você decidiu fotografar apenas pessoas com vidas sexuais "alternativas"?
Acho que todos nós temos — odeio esse termo — um estilo de vida sexual "baunilha". Os sites que abordei para esse projeto atendiam sexualidades "alternativas", mesmo eu não gostando do termo. Eles atendem ao que a sociedade mainstream considera alternativo. Eu não estava muito interessado no que essas pessoas faziam; tive essa impressão logo no começo. Eu estava mais interessado em cobrir a familiaridade de suas vidas, porque se você gosta de fazer sexo em público, por exemplo, você não é uma pessoa menor. É só algo que você gosta de fazer.

De onde são as mensagens que acompanham as fotos?
Algumas recebi pessoalmente. Quando estava abordando esses indivíduos, eu precisava fazer um perfil nesses sites, e eu era muito explícito sobre qual era meu propósito e meu papel nos sites. Uma das coisas que você nota na maioria dos perfis é que as pessoas escrevem, "antes de me mandar mensagem, por favor leia meu perfil", e muita gente não lia o meu. Recebi muitas mensagens sexualmente agressivas de homens, e outras mensagens foram mandadas para participantes do projeto.

Por que você escolheu incluir as mensagens?
Quero mostrar que, de várias maneiras, há esse grupo de pessoas explorando essas plataformas. Alguns desses sites estão cheios do que eu chamaria de aproveitadores, enquanto outros querem formar uma comunidade. Algumas pessoas com quem falei tinham motivações artísticas e eram incríveis, mas havia esse submundo de comportamento sexualmente agressivo. Para ser honesto, são as mulheres que mais sentem isso nesses sites. Senti que era importante não apenas pintar essa subcultura como algo belo e progressista. Eu também queria dizer que, como tudo na vida, há vários babacas tentando se aproveitar disso.

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As mensagens correspondem com alguma das fotos?
As mensagens não se relacionam diretamente com as histórias dos indivíduos que fotografei — são apenas mensagens ligeiramente mais explícitas que eles receberam de outras pessoas nesses sites. Eu poderia ter incluído muitas outras. Algumas são sobre o processo; elas têm a ver com minhas comunicações com as pessoas que eu queria fotografar, e por alguma razão não aconteceu. Eu queria que o processo de abordar as pessoas estivesse presente na série.

Você sabe o que fará com o projeto agora?
Estou exatamente nesse ponto. Não sou um fotógrafo que quer fazer bonitos livros de mesa de centro. Me sinto mais atraído pela ideia de exibir uma série. Esse projeto é algo que eu gostaria de expor em várias cidades da Europa como uma perspectiva britânica. Sinto que estamos num período interessante do país, com o Brexit e nossa situação política. O resto da Europa olha para nós com suspeita e uma visão muito isolada, então eu gostaria de levar esse projeto para mais partes do mundo. Quero mostrar que não somos estranhos e isolados, mas também quero mostrar a humanidade dessa subcultura em particular. Minha visão sempre foi de uma exposição itinerante com impressões em tamanho real, acompanhadas das mensagens.

Veja mais do trabalho do Josh no site e no Instagram dele, e veja mais fotos de "Sex Site" abaixo.

@mariane_eloise

Tradução: Marina Schnoor

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