AMA Recordings
8/10 O Brian Eno dizia a certa altura que o principal problema dos computadores era “não terem África suficiente neles”. A frase ficou gasta de tantas vezes ser citada, mas ainda hoje serve para explicar que o computador pode evoluir em todos os aspectos possíveis e, mesmo assim, ficar sempre afastado da tesão rítmica própria do continente africano. Enquanto qualidade, “África” não é programável e não vai melhorando a sua versão quando é preciso cativar os utilizadores (dizer “África 2.0” é ridículo). Ou está lá, ou então não está. Felizmente, África está dispersa por todo o trabalho de Ray Okpara, mesmo que o filho de um pai nigeriano (bingo) e de uma mãe berlinense componha as suas malhas de tech house geralmente agarrado a um computador. Contudo, e se decidíssemos aqui inverter a lógica do Brian Eno, podíamos até dizer que falta computadores a AMA Mixology vol. 1, a mistura de Okpara para a sua própria label, visto ser um disco tão vivo, palpitante e sobretudo carregado de tesão. Com toda a nobreza do mundo, o que Ray Okpara fez foi não só recuperar algum do talento da sua AMA, como dar tempo de antena a nomes vindos de parte incerta da Grécia (Ntemos & Stef) ou de Oslo (Nekes). E tudo isso reforça a noção de que a techno e a house não conhecem fronteiras e que devem miscigenar-se à vontade, como se estivessem nus em África. AMA Mixology vol.1 está exclusivamente disponível em formato digital.