FaithfulCouple Skate8/10Existe alguém normal da cabeça que possa dizer algo de bom sobre o pós-grunge? Gostava de saber, porque os anos que sucederam àquele chavascal de Seattle só me trazem recordações deprimentes como os Bush ou os Days of the New. Embora o rock sempre se tenha alimentado da pose e doglamour, foi mais ou menos em 1995 que os penteados voltaram a ser mais importantes que os riffs. Tudo isto, claro está, enquanto caía a pique a qualidade dos discos vendidos como cinzas do grunge. É difícil contorná-lo: o pós-grunge foi um grande cagalhão.Não é de admirar, portanto, que os anos anteriores ao terramoto dehypeestejam, pelo contrário, carregados de discos impressionantes. Basta situar o calendário nos anos de 1989 e 1990, e passar os olhos pelos catálogos da Touch & Go, Sub-Pop, Matador ou 4AD, para entender o enorme valor dos anos pré-grunge (se assumirmos o fenómeno como o ponto zero de uma lógica “antes” e “depois de”).Família pré-grunge de uma amiga minha de Seattle. Percebe-se que têm bom gosto.Oriundos de Seattle, os M. Women não fazem muito por esconder as suas referências natas. Podemos contudo ficar descansados, porqueFaithfulencontra-os geralmente a cavar o melhor indie-rock norte-americano: guiam ofuzzcomo um tal patrão chamado J Mascis, percebem e sabem utilizar a sensualidade melódica dos Beat Happening, colam-se um pouco à dinâmica de vozes dos Sonic Youth, mas até isso é louvável quando abre caminho para uma canção tão poderosa como “Dark Space”.Está certo, abusei um pouco doname droppingpara descreverFaithfule, além disso, os invocados têm o seu quê de sagrado. Mas é esse tipo de magia que se sente quando um disco de estreia de uma banda de Seattle reaviva a dignidade que o tempo foi roubando ao indie-rock. Lançado numa muito modesta edição de 300 exemplares em vinil,Faithfulé uma pequena grande surpresa.
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