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Por que um terremoto na Bolívia tremeu o chão do Brasil?

O tremor que assustou São Paulo, Minas Gerais e Brasília hoje é inofensivo e relativamente comum, diz professor da USP.
Avenida Paulista, em São Paulo, teve prédios evacuados. Crédito: Wikimedia Commons

Hoje pela manhã diversas cidades brasileiras tomaram um baita susto: um terremoto ocorrido na Bolívia tremeu edifícios em diversas cidades brasileiras, incluindo Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e outros municípios. Por precaução, prédios foram evacuados na Avenida Paulista, um dos centros financeiros da capital paulista, o que deu certo ar de filme de catástrofe. Mas foi apenas um rápido espanto: até onde se sabe, nenhuma pessoa ficou ferida.

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A dúvida que permaneceu em nossas cabeças foi: como um tremor que aconteceu no sul da Bolívia vem parar no Brasil? Estaríamos vivendo algo inédito? Marcelo Bianchi, professor do Centro de Sismologia da USP, explica que o fenômeno, na verdade, é bem comum. Segundo ele, depois que ocorrem, os terremotos emitem ondas sísmicas que se propagam pelo planeta inteiro. "O fato de as pessoas sentirem ou não o tremor depende do tamanho dessas ondas emitidas e a distância que a pessoa está do tremor", afirma Bianchi.

O fenômeno registrado na Bolívia foi considerado forte: chegou a 6.8 pontos na escala Richter, que mede a magnitude dos terremotos. “As ondas se propagaram desde o ponto onde aconteceu o terremoto em todas as direções", afirma. "Elas acabaram atingindo e chegando nas cidades brasileiras. Mas, do mesmo jeito que chegaram aqui, também chegaram no Japão, no mundo inteiro. Aqui, como a gente está mais próximo do tremor, as pessoas acabaram sentindo. Uma coisa que a gente observou na nossa plataforma onde as pessoas podem relatar o que sentiram foi que a maior parte de quem relatou estava em edifícios."

Este repórter do Motherboard, por exemplo, estava em um prédio, mais precisamente no primeiro andar na zona sul de São Paulo, e não sentiu nada. Por quê? E por que quem está nos andares mais altos relata ter sentido o tremor com mais intensidade?

"Isso acontece porque esse prédios muito altos têm estrutura muito sólida, presa no chão", explica Bianchi. "Toda a energia de vibração que está no chão acaba sendo transmitida para o edifício. Além do mais, o edifício funciona como se fosse um pêndulo invertido. Ele está preso no solo, mas a parte de cima está livre. Aquela vibraçãozinha pequena no solo acaba sendo amplificada dentro da estrutura do prédio."

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Ou seja, quanto mais próximo do chão você estiver, menos sente esse reflexo de terremoto, já que não há nada que amplifique o tremor que viaja pelo solo. "As pessoas em andarem mais elevados acabam sentindo mais, por menores que sejam as vibrações que chegam à base do prédio. É muito comum as pessoas sentirem tontura e, dependendo da situação, veem algo balançando. Se você tem um lustre pendurado, dependendo da forma pela qual ele está preso, você vê ele balançar. É bem comum", diz o professor da USP.

Mesmo que você tenha sentido algo, não há motivo para se preocupar. Reflexos de terremotos ocorridos na região dos Andes raramente causam danos a prédios, afirma o professor. Nem por isso devemos ficar distraídos: "Se alguma pessoa notar algo, pode entrar em contato com a Defesa Civil e ela faz um chamado para verificação. Mas a gente não espera que danos aconteçam em prédios e edifícios", explica Bianchi.

Ao contrário do que diz o senso comum, temos sim tremores de terra no Brasil, isto é, não sentimos apenas os reflexos de fenômenos que acontecem em outros países. "Sismos no Brasil existem. A gente não pode descartar por completo. São muito menores do que esse, mas causam danos porque são mais superficiais. Isso não vai mudar. Eles existiam no passado e vão continuar acontecendo. Em geral, a gente consegue estimar que acontece um terremoto de magnitude 5 a cada 5 anos. Ou dois terremotos de magnitude 4." E é impossível prever onde eles podem acontecer, afirma Bianchi: "O problema é que a gente não consegue dizer se vão acontecer aqui em São Paulo, em Brasília, em Salvador, enfim."

Apesar desse alerta, os brasileiros podem continuar a respirar aliviados quando o assunto é a terra tremendo. "Graças a Deus, a gente é um país que não sofre com a incidência de tremores frequentes, mas, algumas vezes, eles acontecem", diz o professor. Pode respirar aliviado com pés no chão, então: não vamos virar a Califórnia ou o Chile.

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