A União Soviética ainda resiste na Bielorrússia moderna

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Viagem

A União Soviética ainda resiste na Bielorrússia moderna

As cicatrizes e, mais importante, os actos heróicos da guerra, tornaram-se um foco central na procura levada a cabo pelas entidade governamentais por uma identidade nacional unificadora.

Este artigo foi originalmente publicado na  VICE Magazine.

A Bielorrússia é um país quase perfeitamente dividido entre o Leste e o Oeste. A Leste, a Rússia mantém a sua forte influência. Cerca de 70 por cento das pessoas falam russo, em vez da língua nativa e se traduzirmos "Bielorrússia" como "Rússia Branca", é fácil de percebermos o quão profundamente o país se identifica com o seu quase homónimo.

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A Oeste, estão as fronteiras com as nações da União Europeia: Polónia, Lituânia e Letónia. Os laços com estes vizinhos não são de todo insignificantes e na Lituânia medieval os grão-duques usavam mesmo como língua oficial uma antiga forma de bielorrusso.

No entanto, devido à guerra no Sul da Ucrânia, a fronteira da Bielorrússia com os vizinhos europeus parece-se cada vez mais com um novo muro de Berlim, à medida que a Rússia, de certa forma, se isola a si própria como já não acontecia desde a Guerra Fria. Em 2015, o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, supervisionou negociações entre a Rússia, a Ucrânia e a UE, em Minsk, capital do país. O futuro na região em conflito continua ainda agora incerto, mas talvez o governante esteja um bocadinho menos entusiasmado com o autoritarismo ao estilo soviético da política russa, depois de assistir ao destino da Crimeia e da Ucrânia.

Visitei pela primeira vez a Bielorússia há cerca de seis anos, com o intuito de fotografar o chamado "Dia da Vitória", um feriado que celebra a vitória soviética sobre o fascismo e a Alemanha nazi. Durante as comemorações, há tractores, veículos militares e operários fabris a desfilarem pelas ruas. Uma bandeira soviética é içada numa torre de rádio em Minsk. Num parque temático militar chamado "Stalin Line", há uma estátua de Estaline e as batalhas da Segunda Guerra Mundial são encenadas por homens vestidos com uniformes soviéticos e nazis.

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Tulipas vermelhas, símbolo da Primavera e do rejuvenescimento na antiga USSR, enchem as ruas e são dadas aos veteranos de guerra, como forma de agradecimento pelos seus serviços. A experiência pode até causar alguma desorientação a quem a vive em pessoa. Pode até parecer que estamos a viajar no tempo.

As cicatrizes e, mais importante, os actos heróicos da guerra, tornaram-se um foco central na procura levada a cabo pelas entidade governamentais por uma identidade nacional unificadora. Entretanto, e depois de outra visitas, descobri outros feriados soviéticos que são também assinalados na Bielorrússia, como o Dia da Revolução de Outubro, ou o Dia do Defensor da Pátria.

Voltei ano após ano para fotografar os eventos a eles associados. Os feriados, contudo, acabaram por servir mais como pano de fundo para o meu projecto, uma forma de seguir o caminho da cultura nacional, enquanto olhava para algo mais pessoal e procurava uma compreensão mais intima de um mundo que deveria fazer parte do passado, mas que, teimosamente, ainda resiste no presente.