Quem brilhou no Campeonato LGBT da Diversidade 2018

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Quem brilhou no Campeonato LGBT da Diversidade 2018

Jogadores gays, bissexuais e trans de diferentes regiões do país contam suas relações com futebol.

Desde 2017, durante a semana da Parada do Orgulho, surgiu o Campeonato de Futebol da Diversidade LGBT, que logo entrou no calendário oficial da cidade de São Paulo, como comemoração do mês do orgulho.

Nessa segunda edição, 15 times brasileiros disputaram a taça. Todos os jogadores eram homens gays, bissexuais e trans. Na torcida animadíssima, lésbicas, drags, amigos dos jogadores e equipe técnica puxaram os gritos e dançaram durante a tarde até a noite de sexta (1).

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Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Rolou muita música pop, eletrônica e de bate cabelo. Tinha espeto de churrasco de vários sabores, drinks e a mais pedida entre as bebidas era a catuaba. Os paulistanos do Bulls Football SP voltaram para casa com a taça e medalhas no peito.

Colamos no evento e descobrimos algumas curiosidades dos jogadores LGBTs de diferentes regiões do país. Saca só:

Leonardo da Silva. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Leonardo Ferreira da Silva
25 anos, zagueiro
Bhbarbixas - Minas Gerais

"Minha chuteira é branca e verde. É a chuteira da Copa, então, escolhi ela. Espero que o Brasil faça ótimas partidas e trazendo o título para o Brasil, porque é uma das melhores seleções que tem no mundo, sem dúvida, e merece sempre estar no topo. Sempre joguei com hétero e esse é o meu primeiro campeonato. Achei que futebol gay ninguém vinha para jogar futebol e sim para se divertir, mas a verdade é que tem muita coisa além disso. As pessoas vêm para se divertir, vêm para jogar futebol, um para conhecer os outros e isso é bom para o país, porque a aceitação fica melhor. Já joguei no Guarani-Divinópolis e joguei num time da Austrália. A torcida está mais junto com os jogadores, é algo mais quente. Num time hétero é muito pouca gente, só quem gosta do time mesmo. Aqui você vê gente da nossa torcida de BH e gente que nem é da nossa torcida."

Shena. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Xena
32, zagueiro
Diversus - São Paulo

"Nos times eu costumo jogar na frente. Somos iniciantes no campeonato, o time tem menos de um ano e estamos nos acertando no campeonato. Para ajudar, estou jogando mais nas zaga. Lutamos pela inclusão, para mostrar também que o homossexual também joga bola. É grandiosa uma festa dessa, poder participar. Eu sou assumido publicamente. Quem está aqui é 100% homossexual e estamos aqui pela inclusão. Futebol também é coisa das monas. Eu particularmente gosto de sertanejo, não curto baladas, nem músicas eletrônicas. Mas, como sou de periferia, um funkzinho está de bom tamanho. Sou futebolera, meus pais falaram que eu pareço mais uma maria sapatão do que tudo. Não saio aos finais de semana, é sempre jogando. Todo dia eu jogo. 1,2,3 Diversus!".

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Jonathan Mendonça. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Jonathan dos Santos Mendonça
31 anos, goleiro
Bravus - Distrito Federal

"Na verdade, eu não sou muito fã da festa com a competição. A finalidade que a gente tem plantada em Brasília é que futuramente não exista essa segregação de hétero e gays, a ideia é que futuramente todos nós possamos jogar nos mesmos campeonatos, nos mesmos times sem que haja qualquer tipo de preconceito, que é o que fez esse movimento e os times espalhados pelo Brasil surgissem."

A animadora de torcida drag Nicole Very Well. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Nicole Very Well
Líder de torcida
Unicorns - São Paulo

"Sou a mascotinha deles. Faz um ano. Fiz a primeira taça, já treino com eles, no funcional no Parque do Ibirapuera, treino montandinha, que é maravilhoso. É divertido, é fofo. As pessoas estão fofas, energia lá em cima, o pessoal é amado. É show. Tem esse menininhos do time de cor de rosa, os Futeboys, tem uns três, quatro bem delícia, temos os meninos do Roeyer, que são maravilhosos. Tô de olho no pessoal de Brasília, que também tem, e meu time que é tudo maravilhoso. Não trabalho Copa, a gente não assiste jogo para não dar azar para o Brasil. 'ALOCA'".

Phaullo Lopes. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Phaullo Sergio da Silva Lopes
20 anos, zagueiro
Afronte - São Paulo

"Somos uns dos primeiros times gay e tal, a gente gosta de rosa e é para ter uma coisa diferenciada, já que os outros times têm outras cores. Sempre quisemos essa coisa do rosa, porque rosa pra gente é rosa. Pro gay, rosa é rosa. A minha chuteira é colorida, azul, verde e preta. O esporte não importa se você é homem ou mulher. Ajuda a alavancar o mundo LGBT. Eu sou gay e sempre tive vontade de ir no estádio, mas o meu medo é a opressão. Vou ter que me comportar lá de um modo 'heterossexual', porque senão eu posso ser agredido, apenas por torcer por um time. Eu namorava e meu namorado falava quando eu ia treinar que era muita palhaçada, muita safadeza. Ele não me apoiava, e como eu sempre joguei… Eu trato assim, o futebol é a minha mão, o namorado é a aliança. Não vou tirar meus dedos, é mais fácil tirar a aliança e prosseguir a minha vida. Torço para o Corinthians. Sou amazonense, também torço para o Amazonas. 1,2,3, Afronte!"

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Emerson Santos. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Emerson Goulart Santos
22 anos, meia atacante
BeesCats - Rio de Janeiro

"Voltei para jogar o torneio, praticamente. Fiquei dois meses treinando e agora estou indo embora, despedida. Tinha um tempo que eu não jogava futebol. Não queria mostrar, depois que eu me assumi gay e achar que seria recusado no mundo hetero jogando porque tinha me assumido gay. Meus amigos sempre foram cabeça aberta, sempre pude jogar, mas eu que me privava um pouco. Eu mesmo tinha um pouco desse preconceito. Um ex-namorado meu faz parte de um time há nove anos nos Estados Unidos. E achei incrível, uma coisa nova, que está crescendo muito. Está sendo muito visado. Além de torcida, são amigos. É estar ali apoiando, vencendo ou perdendo, eles são muito importantes, fora do normal. Amamos isso. Sou bailarino, gosto de um pouquinho de tudo. Um pouquinho de cada coisa combinaria. Spice, as drags que estão fazendo sucesso no Brasil, que são maravilhosas. Todo o estilo de dança, a gente que é bailarino, não escolhe muito, a gente dança tudo".

Bernardo Alvarez. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Bernardo Gonzales C. P. Alvarez
29 anos, goleiro
Meninos Bom de Bola - São Paulo

"Não é um campeonato LGBT, né. É um campeonato de homens gays, e estamos disputando, talvez jogando como um time de homens trans, gays, heteros e bissexuais. É legal pelo jogo, mas algumas coisas poderiam melhorar, com relação ao que fazemos fora da quadra. Deveria existir uma ação política para que não houvesse nenhuma retaliação preconceituosa, que nenhuma pessoa de fora, que tivesse assistindo fizesse comentários homofóbicos ou transfóbicos. Me alegra ver pessoas trans jogando, me alegra ver essa possibilidade de outros mundos possíveis pro esporte. Me alegre ver gente gorda jogando, preta, tendo condição de jogar e participar do evento o dia todo. Me alegre pessoas pobres jogando. Não é o caso daqui, eu acho, mas isso me alegra, ver essa diversidade de verdade, me alegre ver que as pessoas podem fazer mais coisas além de trabalhar, brigar por questões de preconceito, mas gostaria de ver mais gente da diversidade."

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Fabricio da Silva. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Fabricio da Silva
29 anos, zagueiro
Unicorns - São Paulo

"Acredita que eu tinha chuteira e nunca tinha jogado futebol? Pintei minha de branco, ela era azul, mas agora ela é branca. Tendo esses campeonatos, a gente levanta uma bandeira podendo falar assim: o gay também joga futebol. Podemos jogar com vocês. Somos pessoas também. A torcida anima, levanta o jogadores. Os jogadores estão cansados e a torcida dá uma ajudada, com energia, ela grita: "vai lá, bicha". A torcida traz a alegria mesmo pra galera. Vir jogar futebol. Mesmo vendo a galera jogar é como se fosse uma terapia. Goooooooool, Unicorns!".

Jonathan Krieser e Cleiton de Oliveira. Foto: Larissa Zaidan/VICE Brasil

Jonathan Michel Krieser
30 anos, meio-centralizado, cabeça de águia
Manotaurus - Minas Gerais

"Chamei muitos amigos que não conheciam, nem nada, eles chegaram aqui e se surpreenderam, porque eles não estavam com tanta expectativa que seria tão bom. Todo mundo se sente à vontade. E realmente tem essa diversidade, de uma pessoa mais heteronormativa, como também uma pessoa mais afeminada, tem drag, todo mundo se sente bem, se respeita acima de tudo. Além da diversão, do futebol, da união, dos amigos que a gente faz aqui, dos boys que a gente conhece também. Na Copa, espero que dê Brasil e que o Neymar se machuque e convoque um de nós. 'Que abra espaço pra gente também, Tite'. E que na próxima Copa, tenha alguém gay."

Cleiton Gonçalves de Oliveira
31 anos, lateral
Manotaurus - Minas Gerais

"Para diversificar, tem que tocar de tudo. Um rock, de repente uma MPB, já que a proposta é diversificar. A música também não se fecha em uma coisa só. Uma música de balada, tem vários gostos. Tanto o futebol, quanto o vôlei, quanto qualquer outro esporte tem gays. De uma forma geral, o esporte precisa ampliar, dar olhar para o futuro, muitos jogadores profissionais não podem nem se mostrar porque a carreira dele pode entrar em jogo, então, é mostrar que não só o futebol, mas o esporte é para todo mundo e todos os lugares têm gays."

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