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Música

A Eglo Records dá-lhe com a alma

E nós fomos entrevistá-los.

Bastam poucas trocas na ordem das letras para que Eglo Records passe a ser Lego Records. É um anagrama de fácil resolução e diz bastante sobre a label que Alexander Nut e Sam Shepherd (Floating Points) decidiram começar, depois de tantas vezes se encontrarem no Plastic People, um club situado na zona este de Londres. Da mesma maneira que a Lego exige dos miúdos alguma paciência e organização para erguer um castelo, a Eglo entende que uma boa casa de discos precisa, em primeiro lugar, de uma estrutura firme para depois resistir aos solavancos de uma indústria que “procura e destrói” sem piedade.

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Se as peças da Lego podem ser de diferentes cores e formatos, também os discos da Eglo se alimentam de influências várias (house, boogie, r’n’b, hip-hop) para chegar a um ponto mais alto que é, provavelmente, a soul — ou seja, tudo aquilo que a máquina não consegue criar por si própria, independentemente da potência do processador. Não é certamente qualquer software que consegue reproduzir toda a elegância e experiência de vida que Fatima incute nas muitas canções a que dá voz no catálogo da Eglo. Poderíamos aqui destacar o “baduísmo” de “Innervisions”, o diálogo cheio de

hotness

com FunkinEven, em “Phone Line”, ou “Warm Eyes”, produzida pelo sábio Dam-Funk, mas a grandeza soul de Fatima estende-se a muitas outros recantos do catálogo e, além disso, já existe a confirmação de um primeiro álbum para breve. Com a voz quente de Fatima numa posição tão central, a Eglo privilegiou desde cedo um processo de criação analógico e isso tem levado a um percurso muito mais feito de canções do que de sovas digitais. Não admira, portanto, que os principais produtores da

label

(com o impressionante Floating Points à cabeça) sejam cada vez mais vistos em palco rodeados de instrumentos e em colaboração com aquela que passou a ser chamada a Eglo Live Band.

Em conversa com Alexander Nut, um dos patrões da Eglo igualmente conhecido pelo elevado critério das suas mixtapes, cedo percebemos que este não se trata de mais um conto de fadas londrino em que o sapatinho é a dubstep, embora também haja espaço para isso. Nas palavras do gajo de Wolverhampton, que habitualmente vemos com cara de mau e um casaco da Fila, há uma satisfação evidente pelo facto da sua label poder, nesta altura, festejar o quarto aniversário, com uma noite especial de concertos e uma compilação de dois discos com o melhor da colheita Eglo e alguns inéditos. Tudo o resto é para ficar a saber já nas próximas linhas.

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VICE: Calculo que responder a esta pergunta seja tão difícil como escolher um filho favorito, mas que três ou quatro discos recomendarias a alguém interessado em conhecer melhor a Eglo?

Alexander Nut:

Existem, certamente, alguns discos que definem o espírito da Eglo e que podem preencher essa função:

Vacuum Boogie

, Floating Points;

Mind

, Fatima;

Sofa Beat

, Mizz Beats;

She’s Acid

, FunkinEven;

Catch

, Shuanise.

Fico com a ideia de que o círculo completo do logotipo da Eglo simboliza também a camaradagem do pessoal dentro da label. Se estou certo, de que maneira dirias que essa proximidade influencia os discos?

É uma bonita maneira de observar as coisas. Nunca foi essa a intenção, mas gosto da tua visão romântica. Acho que os artistas que fazem parte da Eglo partilham de uma ideologia em geral. Não tenho qualquer interesse em trabalhar com uma pessoa de que não goste: nem tanto em termos criativos, mas na forma como observa o mundo. Acho que a nossa label é feita de pensadores. Partilhamos sentimentos e emoções semelhantes. Mas, como label, a Eglo é cheia de liberdade: todos os artistas fazem outras cenas e mantêm outros projectos. A Eglo está lá para quando querem trabalhar e avançar com as coisas.

Não consigo desviar a atenção do logótipo. Quem o fez e como foi?

Aquele é já o segundo logótipo, mas é parecido com o original, que foi desenhado pelo Jamie, um velho companheiro de apartamento do Sam (Shepherd)/ Floating Points. Mas queríamos melhorá-lo para que fosse mais flexível. Acho que a forma circular funciona perfeitamente em vinil e esse foi o principal motivo para a mudança. Há tanta coisa na vida que se move em ciclos e rotações: desde as estrelas e planetas até à própria energia. É porreiro que gostes tanto do logótipo. Também curto bastante.

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Vocês parecem fazer todos os possíveis para que as festas de aniversário da Eglo sejam de arromba. Que surpresas estão a preparar para este quarto ano?

Nós tocamos muito regularmente e é por isso que tentamos fazer dos aniversários ocasiões especiais. Este ano o objectivo é tocar mesmo ao vivo. Acho que toda a gente já nos viu a fazer DJ sets em Londres, por isso há que tentar algo completamente diferente. O destaque será o próximo álbum da Fatima, que está incrível. Ela vai tocar novas canções pela primeira vez, juntamente com a Eglo Live Band e alguns convidados muito especiais. Os Strange U actuarão pela primeira vez ao vivo e o Peter Hadar, de Nova Jérsia, vai ser acompanhado pela Eglo Live Band.

Gosto do ambiente que se sente nos vídeos da Fatima a cantar com a Eglo Live Band, no Boiler Room. Faz-me acreditar que a química dentro da banda surgiu naturalmente e que tudo correu bem a partir daí. Foi assim ou um pouco mais difícil?

Há um ano e meio organizámos uma selecção de músicos para a banda, que contou com dez ou 12 participantes. O meu amigo Olivier Day Soul, que também faz parte da família Eglo, recomendou-me três tipos com que já tinha tocado. Deu-se um clique quase instantâneo e o resto acabou por acontecer. O Dre na bateria e o Duane no baixo são a espinha dorsal da banda e contribuem bastante para que aquilo não vacile. A banda está em crescimento e temos ensaiado com novos membros. Tudo será revelado no Jazz Cafe.

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Quais são os melhores sítios para curtir em Londres?

Gosto bastante de um sítio que acabou de abrir em Dalston chamado Dance Tunnel: é só mesmo uma velha cave poeirenta, mas vale pela atmosfera e pelo sistema de som decente. O Plastic People ainda é fantástico, mas mudou muito desde que o pessoal da Eglo lá parava todos os dias: o sistema de som e a organização da sala agora são diferentes. Mas ainda é um bom spot para ouvir som. O Room 2, no Corsica Studio do sul de Londres, também é porreiro. Adoro aquilo e gostava de tocar lá mais vezes. Para ser sincero, acho que, em comparação com o resto da Europa, Londres e o Reino Unido em geral não possuem grandes sistemas de som. Os clubs preocupam-se mais em programar uns quantos nomes do hype e embebedar os putos. Metade dos sítios no Reino Unido já nem sequer têm pratos para vinil. O Horst, em Berlim, era incrível. RIP.

Eras capaz de me falar um pouco dos lançamentos da tua Ho Tep e do que os distingue das cenas da Eglo?

Bem… A Ho Tep é apenas a minha pequena label — não tem nada a ver com a Eglo. Foi na Ho Tep que lancei as estreias de Letherette, Throwing Snow e Dirg Gerner, que agora trabalham com a Eglo. Gosto de utilizá-la para lançar música que não pertence na Eglo ou para experimentar ideias sem a mesma pressão. Se lançarmos algo na Eglo, isso significa que queremos trabalhar e construir em conjunto. É uma experiência a longo prazo. A Ho Tep é uma label de tiragens bastante limitadas. É óptimo dispor de opções. Nem toda a gente pode ter o selo da Eglo. Há que manter um certo nível [risos].

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Por razões óbvias, “Soul Glo”, da Fatima, lembrou-me de como Um Príncipe em Nova Iorque é uma comédia sem igual. Dirias que o humor é um factor importante nas iniciativas da Eglo?

Chaval… Tanto eu, como a Fatima e o FunkinEven, adoramos Um

Príncipe em Nova Iorque

. Eles tiveram essa ideia para a faixa. Não me parece que o humor seja mais importante do que outros aspectos emocionais que nos ligam. Gosto de música divertida, mas não gosto quando se torna uma anedota. Tudo o que peço dos meus artistas é que sejam sinceros com o que criam. E foi isso que aconteceu com essa malha. Gostamos de nos divertir (principalmente a Fatima) nos momentos certos, claro.

Alguma cena favorita de Um Príncipe em Nova Iorque?

Sexual Chocolate

!