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Música

MIXED BY Nguzunguzu

O duo fez uma mix impressionante que atravessa os gêneros como um viveiro de sons diferentes que agitam seus pés e crânio em perfeita harmonia.

Asma Maroof e Daniel Piñeda acham inspiração em todo lugar. Enquanto produzem como Nguzunguzu (pronuncia-se: en-goo-zoo, en-goo-zoo), o duo de Los Angeles tem procurado em quase todos os clubs na Terra por seu estilo de música com graves, resultando em um uma marca auditiva que traça elementos do R&B, guetto house, cumbia, kuduro, jungle e muitos outros ritmos regionais e complexos. Ou, se preferir, o som do Wu Tang com espadas de samurai cortando melodias de R&B, riffs estranhos, grimes instrumentais e batidas quebradas para deixar o club em cacos.

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Após a mix de The Perfect Lullaby para a revista DIS, eles produziram faixas para a cantora de R&B Kelela, fizeram turnês como uma dupla de DJs e lançaram EPs em selos como o Hippos in Tank e Fade to Mind, construindo uma rede ampla de confiança que, há alguns anos atrás, poderia ter aniquilado clubbers. À frente de uma nova série de datas de turnê, nós conversamos com Asma e Dan sobre o futuro do grime, porque amam o DJ Mustard, e se o seu som pode - ou deve - se tornar puramente digital.

Mas, mais importante que isso, o duo fez uma mix impressionante para o THUMP, que atravessa os gêneros como um viveiro de sons diferentes que agitam seus pés e crânio em perfeita harmonia.

THUMP: Eu vi os seus DJ sets no Field Day Festival e na Just Jam com J-Cush e Ruff Sqwad, e eu sempre acho interessante ver como a música com clima de club é apresentada em diferentes configurações. Como DJs, como você sentem essas experiências relacionadas com o seu som?
Asma: Hum, essa é uma pergunta ótima. Definitivamente não é o que estamos acostumados, mas eu também sinto como se fosse intencional de alguma forma. Tiësto foi o primeiro DJ que apresentou esse tipo de fenômeno "DJ como espetáculo", mas somos mais ficar no canto e focando na vibe de todos. Nunca nos sentimos muito confortáveis em estar na frente das luzes e câmeras, mas é fofo se as pessoas querem assistir ao que estamos fazendo. Mas o Field Day foi incrível. Estava bem tranquilo às 18h, mas as pessoas estavam realmente sentindo a vibe.

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Eu penso no som de vocês encaixando nos clubs como algo radical, político, sexy e espacial, então é sempre estranho ouvir Nguzunguzu em outro lugar. O que tem no som de grime que se relaciona com seu próprio trabalho, e como você gostaria que o grime fosse para frente?
Asma: Grime é uma grande inspiração para nós porque estamos ouvindo instrumental durante muito tempo. Fui criado nos Estados Unidos e só fui para Londres com 23 anos, mas a primeira vez que ouvi Wiley… eu não só achei que soava fudidamente incrível, também pensei que soava muito como Timbaland e Dark Child. Foi ali que realmente vi a conexão entre o R&B dos Estados Unidos e grimes instrumentais. Até hoje, Brandy antigo soa como grime para mim. Vai ver os dois estivessem acontecendo simultaneamente, talvez.

Bom, Boy in da Corner do Dizzee Rascal foi lançado no verão de 2003, mas o Ruff Sqwad e Roll Deep Crew estavam tocando grime antes disso. Definitivamente estava acontecendo na mesma hora.
Asma: Totalmente. Para nós, acho que você pode ouvir em nossa faixa "Enemy", para a Kelela. Aquele grime e o sentimento de R&B crossover soaram tão bem com uma garota cantando em cima, embora, eu não sei ao certo se isso é mais futuro ou passado?

Muitas das faixas mais antigas de grime têm aqueles vocais agudos – tão agudos que você não consegue distinguir o gênero – então essa voz vívida e sussurrada como na faixa de "Enemy'' me parece um despertar desse sentimento. Mas, falando de produção, o que você acha do grime atual?
Dan: Eu sinto que o grime é mais interessante quando uma faixa está organizada de tal forma em que um MC pode precisa necessariamente cantar a qualquer momento. O que eu gosto do grime é que não pensa e soa tão literal. Em termos de comparação com o rap, acho que muitos raps dos Estados unidos tem batidas fodas, mas precisam ter um certo formato: padrões regulares que o grime realmente não está nem aí. Uma coisa legal dos MCs de grime é que eles estão abertos a cantar em coisas novas como nós costumamos fazer, enquanto outros rappers podem vir com uma mentalidade estéril. Como, "onde está o meu 16? Onde está o drop?". Pode ser bastante rigoroso em termos de sequência. Com o grime, o MC chega junto. Pessoas como D Double E pode ficar no microfone durante dias.

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Uma das coisas que eu acho interessante no som de vocês é que pude ver que "música para dançar'' não algo dado na pista. Eu acho bem inspirador que é menos sobre fazer um lugar ir abaixo em instantes, mas é sobre a possibilidade de captar o interesse de alguém o bastante para se mexer de maneiras que eles talvez nunca mexeram antes.
Dan: Isso é muito legal. Contexto é tudo quando se trata de discotecar. Você pode estar em uma festa e se as pessoas querem dançar, eles vão dançar 90% do que você tocar, independentemente do que seja. Assim, em outra situação, você só consegue fazer as pessoas dançarem se tocar músicas que elas já conhecem. É muito delicado.

Asma:Eu sei que alguns produtores sentem que há certas fórmulas para fazer as pessoas dançarem, mas eu ainda não consigo entender essa mentalidade. Como um produtor, você se propõe a montar uma faixa que você possa tocar, mas no final das contas é outra coisa e fica totalmente nada a ver. Quando você está discotecando, você está experimentando com a plateia e como eles reagem. É muito legal colocar uma faixa que você não sabe o que vai acontecer. É assim que eu permaneço engajado, enfim.

É como um medo de saber que a música pode afundar no momento?
Asma: Porra, sim! Especialmente quando tocamos demos. Isso é aterrorizante, mas também não é o fim do mundo. Se as pessoas deixarem a pista, eu aprendi a aceitar isso.

Dan: Sou mais dos momentos quando você respira fundo e vê uma situação diferente surgir, além do usual, sentindo a pista. Porém, o medo de tocar demo é real. Você quer que todo mundo dance como loucos, mas se eles não se importam e soa uma merda, isso muda como você se sente sobre aquele o trabalho que está em processo.

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Vocês usam os clubs como teste para novas faixas e a reação informa o processo de voltar a trabalhar nelas?
Asma: Ah, mas é claro. Eu aprendi muito sobre estrutura com isso.

Dan: "Skycell" por exemplo, foi divertido misturar demos nos palcos, mas quando rolava o drop no club soava tão distante. Como se estivesse morto. Mixar os graves é o mais difícil. No estúdio você pode soar maravilhosamente, mas precisa ouvir no club pra ter certeza que a batida é certa. Não há garantias.

O club é aquele "optimum setting", por assim dizer?
Asma:Não necessariamente. Somos DJs que tocam em clubs, mas não fazemos somente músicas para clubs. Não ouvimos club music, para ser honesto. Ouvimos muitas músicas no carro. Acho que dirigir em Los Angeles é muito inspirador.

O que estão ouvindo agora que te inspiram, ou mesmo somente curtindo e infiltrando em suas cabeças?
Asma: Quando estou sozinho eu ouço muito R&B: Teyana Taylor, Tink, Jasmine Sullivan, Kelela. É o que acontece naturalmente. Porém, eu sou um bobo. Ouvi a música "Men" da Tink no repeat ontem, umas 25 vezes. Senti que estava estudando o que eu gostei. Fiquei obcecado.

Dan: Tenho escutado ultimamente muita coisa do DJ Rush, DJ Tragic e Dutch E Germ.

Asma:Nós fazemos músicas para club, mas não esperem que sejamos baladeiros.

Além da Kelela, vocês estão trabalhando em novos projetos com vocalistas?
Dan: Temos algumas pessoas em mente, mas ainda é muito cedo para dizer. Porém, esperamos continuar no caminho de produzir faixas de club para vocalistas. Estamos tentando contato com rappers e vocalistas diferentes, mas nada gravado ainda. É mais uma lista de desejos agora.

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O que acham da produção de rap americano e R&B agora?
Asma: Eu amo a baixa qualidade, especialmente de pessoas como o DJ Mustard. Não é muita informação. Ele dá a você tudo bem apropriado. Ele consegue fazer muito com somente uma linha de synth e palmas.

Dan:Gosto muito das melodias sendo produzidas por caras como Sonny Digital, Metro Bloomin, Young Chop, até 40, porém ainda acho que muito da produção do rap atual é muito padronizada e chata, com batidas puramente funcionais que não são inovadoras.

Entendo o que quer dizer. Eu amo a batida do DJ Mustard para "Left, Right" do YG: o pequeno violino nela. É funcional, mas inteligente.
Dan: Eu realmente gosto dele, porque não me parece funcional. Ele atinge um estado de espírito, mas me dá vontade de enlouquecer.

Asma: Exatamente, eu amo aquela merda. Como aquela batida de "Show Me"? Onde ele desacelera aquele sample do Ralphi Rosario? Eu amo quando pessoas experimentam com sons que não são muito confortáveis: uma nota plana, um zumbido realmente inebriante, um bumbo distorcido. É isso que estamos interessados em 2014. É sobre ouvir o inesperado, não seguir uma diretriz de grupinhos ou gêneros, até mesmo ultrapassar isso. Ser atemporal ou indescritível.

"Atemporal'' é uma palavra tão fértil. Agora, eu tenho essa estranha fantasia da música sendo digital e não baseada em samples o máximo possível.
Asma: Bom, eu preciso ouvir as demos recentes da Kelela, e é isso exatamente o que estou pensando em termos de atemporal'. Você não tem o mesmo calor em faixas estritamente digitais como você tem com hardware, ou com uma voz. Quando eu a ouço cantar, sinto que ela é jazz, do-wop, mas também como Lauryn e Janet e - é algo muito pesado para se carregar nos ombros, mas é aí que você sabe que tem alguma coisa, sabe?

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Não digo necessariamente digital como acolhedor, ou caloroso, ou como o "som ideal'', mas a ideia de ter um som puramente digital é fascinante. Não é estrito, aplicável, mas me lembra do EP Warn U da Fatima Al Qadiri como Ayshay. Eu lembro dela me dizendo que não tem samples naquele disco e eu achei isso incrível.
Dan: Mesmo com as ferramentas ao nosso dispor agora é algo muito difícil de fazer no sentido técnico. Se você usar sons de sintetizador Logic ou VST, ou mesmo manipular os presets, qualquer coisa que você está controlando ainda é essencialmente um sample. Até suas batidas são samples. Você pode fazer faixas inteiras do zero usando ondas senoidais, mas é um esforço real.

Há algo em que vocês pensam que podem, devem ou se mesmo vale a pena fazer?
Dan: Eu estou nessa. Não é o que estou fazendo neste momento, consome muito tempo, mas é um conceito interessante. Além do mais, não acredito que o futuro reside apenas em sons digitais. Bok Bok está realmente bem analógico e suas coisas ainda soam futuristas. Até com a gente, as pessoas ficam surpresas ao ver tantos hardwares em nossos estúdios. É possivelmente um pouco teórico, mas eu não sei o que as pessoas querem dizer quando dizem "digital". Eles querem dizer técnica ou uma ideia do que digital poderia ser?

Asma:Não só isso, a mistura de digital e analógica pode bagunçar com esses conceitos. O som digital pode imitar qualidade analógica. É uma imitação, mas as pessoas podem ser enganadas.

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Vocês acham que as pessoas sobrepõem os dois quando eles falam com vocês sobre a sua música?
Dan: Bom…para o bem ou para o mal tem sido difícil, porque nunca descobrimos uma rotina ou uma mentalidade para trabalhar. Toda faixa nova é uma luta. Pessoas nos perguntam como trabalhamos e nunca temos uma resposta para elas. Eu posso mostrar a elas, mas eu fico frustrado porque nem sequer tenho um plano. Eu pulo do computador, para o MPC e para o hardware como um louco.

Para onde vocês acham que o som de vocês está indo?
Dan: Sinto que as coisas estão se movendo em uma direção mais rica e melódica. Eu quero um sentido mais dinâmico a esse respeito. Sempre fui atraído por coisas cruas e com a natureza tátil, versus o artificial e o puro. No entanto, sabendo quais são as nossas tendências, eu tento trabalhar contra para manter as coisas interessantes, mas sempre tentamos fazer algo totalmente novo, que ainda acaba parecendo muito com nós mesmos. Eu não tenho ideia se isso é uma coisa boa ou ruim ainda.

Asma: Para mim, o esforço faz parte disso. Se você tenta fazer música para parecer como outra pessoa, tudo que você tem é o produto final.

Faixas:

Kelela- The High (MikeQ & Divoli remix)
Teedra Moses- All I Ever Wanted
Killer Mike- Ready Set Go Instrumental
Arcangel ft. De La Ghetto- Estamo Aqui
151 Feva Gang- Kush Groove
Stardust- Music Sounds Better With You
Ciara- You Can Get It
Bok Bok- Melba's Call Instrumental
Jhene Aiko- The Worst (IamDjGetem YoungKid Jersey Club Remix)
Nguzunguzu- Rotations
Jon E Cash- Cash Combo
Donae'o- Niggas in Paris remix
Kingdom/Aaliyah- One OG in a Million (Joey LaBeija edit)
Jeremih/ Cashmere Cat- Party Girls
Teyana Taylor ft. Yo Gotti & Pusha T- Maybe

Você pode seguir o Nguzunguzu no twitter aqui: @nguzunguzu e Lauren Martin aqui: @codeinedrums.

Tradução: Jules Sposito