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Owen Pallett Fala Sobre Seu Novo Disco ‘In Conflict’

Para um dos mestres da arte de fazer música com violinos e loops, analisar letras "é tipo falar sobre a cor do meu cocô" e cometer erros é uma “maneira particular de recompensa”.

Owen Pallett é um rapaz ocupado. Um ano antes de lançar o disco In Conflict – que saiu em maio deste ano pela Domino Records– o músico fez os arranjos das orquestrações de Reflektor do Arcade Fire, compartilhou seus talentos com Taylor Swift e Linkin Park, compôs com Win Butler a trilha do filme Her de Spike Jonze, indicada ao Oscar, e publicou uma série de artigos em que ele desconstruiu músicas pop de Katy Perry e Daft Punk com base em teoria musical. Sua abordagem afiada à música por uma gama variada de ângulos e disciplinas o tornou um dos grandes “maestros” da era moderna.

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Ao contrário de seus últimos discos, em que Pallet criou álbuns conceituais pós-modernos (em Heartland, de 2010, por exemplo, ele se focou na vida de um fazendeiro ficcional chamado Lewis que era ciente de sua condição ficcional e sua relação com seu criador Owen; enquanto outros discos foram inspirados em videogames, como seu alter-ego Final Fantasy), In Conflict inclui letras mais pessoais e temas que fazem o artista parecer “meio nu”. A primeira faixa do novo disco, por exemplo, inclui a observação “I’ll never have children, I’d bear them and eat them” (eu nunca terei filhos, eu os toleraria e os comeria).

Apesar de não gostar de analisar suas letras nas entrevistas – “isso é tipo falar sobre a cor do meu cocô”, ele disse recentemente – Pallet se aprofundou com o The Creators Project sobre seu processo de escrita no nosso novo documentário sobre a criação de In Conflict. Na entrevista, ele também detalhou o desenvolvimento de seu show ao vivo com uma banda completa, falou sobre seus pontos de vista sobre a crítica pop e o que é retrô na música atual. Já que o sabe-tudo da música é tão articulado, nós deveríamos ter publicado uma transcrição da entrevista completa e ficado por isso mesmo mas, para a sua comodidade, dividimos a conversa em alguns pontos de destaque.

A criação de In Conflict

Quando questionado sobre a diferença deste com seu álbum anterior, Heartland, Pallet explicou (como um bom especialista em gravações) que “os vocais foram mixados com o volume mais alto. Sei que não parece importante, mas as pessoas em outras entrevistas disseram coisas como ‘nossa, você soa tão confiante’ ou ‘as letras são mais diretas’. E eu digo, ‘bem, sim, nós mixamos os vocais com o volume mais alto’. Estes são todos sintomas disso”.

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Ele observou que seus engenheiros de mixagem sempre o pressionaram para subir o volume dos vocais, e quando ele finalmente concordou, o resultado foi um disco “que me foi mais difícil ouvir. Me sinto meio nu”.

Pallet também acrescentou que sua abordagem ao processo de gravação foi “retro-futurística”, “um método datado”. Ele e seus colegas de banda, incluindo Robbie Gordon e Matt Smith, trabalharam o disco num estúdio analógico para gravar sem click tracks. “Tentamos usar ferramentas antigas para fazer um disco que esperamos que soe muito atual, muito 2014, mas que poderia facilmente ter sido feito nos anos 1970”, diz.

Para salientar a sensação de anos 1970-encontram-o-presente, o lendário experimentalista (e precursor sonoro de Pallet) Brian Eno doou suas contribuições ao disco – um complemento que Pallet descreveu como “muito transformador”. Eles colaboraram remotamente, mas Pallet disse que o trabalho de Eno “realmente mudou as músicas de uma forma ou de outra”.

Sobre apresentar o disco ao vivo

Para aqueles que ainda não viram o show de Pallet ao vivo, pode ser um verdadeiro tour de force. Apesar de normalmente ficar parado num só lugar no palco, sua prática de construir muitas camadas de paisagens sonoras do começo com um pedal de loop dá a sensação que ele está se movendo pelo local, apresentando-se como cada membro de uma seção de cordas. E ainda por cima ele usa uma plataforma de looping de seis canais que dá a impressão que seu violino está flutuando pelo ambiente.

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Depois de ensaiar com Gordon e Smith, Pallet percebeu que o trio estava com dificuldade de chegar a um consenso sobre como apresentariam o disco ao vivo sem usar o Ableton ou pontos de retonro. “Estávamos mesmo tentando manter algo que soasse solto e humano e vivo”, disse.

Pallett completa:

"O objetivo com o looping era que o processo fosse transparente para os fãs. É importante pra mim não ter nenhum material pré-gravado, fora alguns samples ou qualquer coisa que eu tivesse carregado no teclado. É importante porque eu queria que o público sentisse a emoção da criação e que eles são parte disso. Tentar te descrever isso é insuficiente”.

Para o cuidadoso músico não é só isso que é insuficiente em seus shows ao vivo. “A parte mais importante de uma boa apresentação é que há um elemento de humilhação envolvido”, adiciona. Mesmo que ele precise recomeçar o processo do looping no meio de uma música, cometer erros é uma “maneira particular de recompensa”.

Sobre a análise da música pop

Se você ainda não leu as críticas de Pallett sobre Katy Perry ou Daft Punk, você precisa favoritar esses textos agora. As análises cabeçudas porém acessíveis (que nós já até comparamos com as desconstruções de "Get Lucky" pelo Chilly Gonzalez) provam que a maioria dos músicos deveria escrever crítica musical. Ou pelo menos o Pallet deveria fazer isso com mais frequência. Quer ele esteja descrevendo um refrão como “um clímax de uma cópula melódica estática” ou comparando uma nota com a Escala de Kinsey, Pallet é ao mesmo tempo informativo e engraçado. Em nossa entrevista, ele fala mais sobre a música pop.

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Quando perguntado sobre a dicotomia entre hits populares da rádio e música clássica, ele respondeu: “Por muitos anos, costumava dizer que não havia distinção. Eu até gritava isso, não há diferença entre música pop e música clássica! Mas estou começando a perceber que estou errado, que há uma diferença, mas a diferença está na cabeça dos ouvintes e na cabeça dos acadêmicos. Do ponto de vista de uma pessoa que cria música é que não há diferença”.

“Acusam a mim e a outras pessoas de terem esse apreço irônico pela música pop quando falamos sobre isso em termos acadêmicos, mas a verdadeira raiz dessa ironia vem das pessoas que criam essas barreiras, esses limites a que você se refere, e tentam afastar a música comercial como algo menos autêntico ou coisa assim. Este nunca foi o caso na audição da minha música. Estou interessado nela como uma obra bem sucedida de música pop, não como música pop estúpida.”

Sobre Ser Um Tradicionalista em Música

Dev Hynes, aka Blood Orange, uma vez disse "não quero ser o cara do pedal em loop…", querendo dizer que a técnica já estava um pouco batida em 2014. Apesar da prática já ser utilizada há anos -- o que Pallet reconhece -- poucos músicos conseguem transformá-la numa forma de arte que soe tão nova e revigorada como ele.

"A forma como o violino em looping se encaixa na música mudou ao longo do tempo”, conta Pallett. “Por tempo, no fim dos anos 2000, parecia que todas as bandas usavam o looping. E isso meio que soava datado e errado. Agora, em 2014, isso parece ter mudado. É tão intensamente performativo e noventa por cento das bandas que estão no palco agora estão tocando com click tracks ou backing tracks, o que me soa muito estranho e alienígena".

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Em termos de avanços tecnológicos na música, Pallet disse que ele é mais o tipo saudosista tradicionalista. Ele tem uma preferência pelo som de gravações analógicas, além de “pratos batendo, a retenção de toda a presença, a frequência alta". Como ele normalmente incorpora bateria em seus discos gravados, ele diz que está “tentando se manter afastado da tecnologia digital de ponta”.

Pallet também nos contou que ele sempre quer um pedal ou plug-in novo, mas “se isso normalmente não é como algo que poderia ter existido 30 anos atrás eu não me interesso. Meus ouvidos estão interessados em coisas atemporais”.

Foto por Mark Lawson

Para mais sobre Owen Pallett e seu disco In Conflict, visite o site da Domino Record's.

Fotos por Peter Juhl.

Tradução: Mariana Rezende