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Música

Discos: Metropolis

Um orgasmo que nunca se escuta.

A Machine of Desire
Sequencias
8/10 É muito natural a ligação entre as várias pistas que Nick Lapien (holandês também conhecido por Metropolis) vai deixando em torno do seu disco A Machine of Desire, um vinil de 12 polegadas, que ocupa a posição número sete do catálogo da Sequencias (o cada vez mais surpreendente selo nova-iorquino). Acompanhem-me, portanto, na leitura das pistas: Metropolis, um dos pseudónimos de Nick Lapien, é também o título de um clássico de ficção-científica realizado exuberantemente por Fritz Lang. A figura maior desse filme será a mulher-robot que serve de réplica à personagem Maria. O robot-mulher que, entre outras coisas, é um símbolo de progresso e um foco de enorme sensualidade na cidade retratada em Metropolis. Toda a associação entre este disco e o filme de Fritz Lang passa a ser ainda mais evidente, quando o primeiro se chama A Machine of Desire e até traz a fotografia de uma mulher (algo endeusada) estampada no centro. O que Nick Lapien nos estará a querer dizer é que ele próprio é um produtor de electrónica dependente de uma musa. Ligamos ao site de Lapien e, logo na página de entrada, lá está a fotografia de uma mulher altamente desejável, como que a lembrar que a arte e a música dos homens avançam porque respondem constantemente aos mais diversos estímulos femininos. O que distingue o homónimo lado A de A Machine of Desire do seu lado AA (The Flood) é um desejo cego e irrequieto, que existe no primeiro e que passa a estar silenciado no segundo. Enquanto o lado A acumula aquele imparável bombear rítmico da techno A para chegar a um clímax, o muito mais sereno lado AA é uma espécie de micro-banda-sonora para saborear o que já passou e perder a memória nisso como quem se perde no espaço. Entre um lado e outro há um orgasmo que nunca se escuta, mas que está lá quando metemos a mão ao disco para meter a tocar a outra face.