FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Discos: Kishi Bashi

O violino como expressão.

Manchester / Bright Whites / It All Began With A Burst
Joyful Noise Recordings
7/10 De todos os micro-géneros que podem existir dentro da música pop, a sua ramificação barroca ou orquestral é uma daquelas que mais facilmente começa a tocar na cabeça logo que alguém escuta o seu nome. No seu impacto mais imediato, a “pop barroca” traz-nos à memória um monte de violinos, arranjos altamente pomposos e vozes cristalinas, que não raras vezes ficam ali perto da fronteira em que a masculinidade passa a ser outra coisa qualquer. Diríamos até que estas canções chegam a ser de tal forma risonhas e extasiantes, que um gajo até pensa em casar enquanto as escuta. Salvo uma ou outra excepção, a pop barroca transmite a sensação de que os dias bons estão para durar e há que fazer bebés para preservar esse fluxo. E assim acontece, mesmo que os Arcade Fire, os principais renovadores do género, jamais tenham sido a banda mais optimista do mundo ou criado música especialmente estimulante para quem esteja a pensar em fazer um bebé. O mesmo não se pode dizer de alguns dos nomes que lhes seguiram, como é o caso de Beirut ou de Owen Pallett (violinista dos Arcade Fire, antes conhecido por Final Fantasy), que no seu reportório já contam com óptimas canções para ir para detrás do arbusto e praticar o milagre da procriação. Nessa linhagem de songwriters com um gosto clássico e ideias grandiosas, Kishi Bashi é um dos mais recentes nomes a surgir dos Estados Unidos, onde está habituado a tocar violino em digressões com os Of Montreal (turn off) e Regina Spektor (turn on). Depois de, no ano passado, a Joyful Noise ter lançado o seu álbum de estreia 151a, eis que a editora concede ao seu benjamim uma espécie de volta vitoriosa ao estádio em três singles retirados desse mesmo disco. “Manchester”, “Bright Whites” e “It All Began With A Burst” foram lançados conjuntamente numa caixa super-luxuosa de 500 cópias e individualmente também. Cada um deles vem acompanhado por uma versão feita a partir de canções alheias: neste caso, de Beirut, Talking Heads e Electric Light Orchestra, respectivamente (os últimos são designados por ELO apenas porque costumam ser comichosos com os direitos de autor). A achega a Beirut está mais ou menos explicada pelo que agora importa mais relembrar que os ELO sempre adoraram abrir os seus discos com introduções de música clássica e foram tantas vezes apreciados como gozados por isso (perguntem ao Randy Newman). De resto, os originais de Kishi Bashi têm muita da universalidade própria das canções que aparecem nos anúncios das telecomunicadoras, sem deixarem, mesmo assim, de ser extremamente bem feitas. Não é por acaso que “Bright Whites” foi utilizada pela Microsoft no lançamento do Windows 8. Quando a escuto, surge-me a imagem de um casal a saltar de um avião, com um sorriso confiante de quem ainda fará muitos bebés ao som da pop barroca e da cama a chiar.