As 100 melhores músicas internacionais de 2017

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Noisey

As 100 melhores músicas internacionais de 2017

Nossa lista de melhores faixas gringas do ano.

Compartilhamos aqui as nossas 100 faixas favoritas de 2017 de todos os lugares que não são o Brasil, escolhidas pela equipe Noisey global. Você pode ouví-las na Apple Music e Spotify. Confira também: Os 100 melhores discos de 2017.

Carly Jae Repsen é o brilho nos olhinhos do pop e “Cut to the Feeling” foi seu único lançamento de 2017, o que significa que rolou uma pressão tremenda sobre a faixa. É uma puta de uma música que descreve e bota em prática o modus operandi do pop como um todo, crescendo absurdamente a cada refrão, deixando o ouvinte tonto até o final. É música pra se ouvir numa pista com um bando de gente suada na mesma vibe. — Lauren O’Neill | OUÇA

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Há uma sensação de otimismo e invencibilidade associada à adolescência. Na cultura norte-americana, a gente se embriaga disso – mesmo quando essa época já passou e é, em partes, por isso, que YoungBoy Never Broke Again soa tão irresistível nesse momento e “No Smoke” é a culminação de todas essas qualidades. Nesta faixa, o rapper de 18 anos de Baton Rouge mostra-se decidido a tirar sua família da situação financeira e do ambiente em que se encontram, partindo violentamente pra cima de quem se opôr. Com a fúria com o que o bicho manda as rimas, dá pra sacar que essa é a real mesmo. — Lawrence Burney | OUÇA

A música de Popcaan explora alguns poucos tópicos na maior parte do tempo: melhorar seu estilo de vida, passar uma conversinha em umas minas e distribuir paulada na cabeça alheia, se necessário. Na maior parte do tempo ele aborda esse lado mais violento ao longo de “El Chapo”, onde detalha as armas que usará para se livrar de seus inimigos, tal como o líder de cartel que batiza a faixa. Mas por conta de sua habilidade absurda em alternar momentos guturais e suaves, de repente assassinato nem soa tão ruim assim. — Lawrence Burney | OUÇA

Já que a cena eletrônica precisava de sua própria “Sweater Song”, D. Tiffany pegou para si a tarefa de criá-la com este belíssimo EP perfeito para embalar conversa furada na pista de dança. Por sima de uma pegada ambient-house – com seus chimbais e batidas suaves – uma voz meio embriagada solta umas frases genéricas como “Excuse me, thank you, pardon me, I’m tryna dance. How are you? I’m good!”, o tipo de coisa que você mesmo se pegaria dizendo após alguns drinques em uma boate escura, tentando encerrar a conversa com o ex de algum conhecido pra poder voltar à curtição – o que “How RU Plush” eventualmente faz — Colin Joyce | OUÇA

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Todos já viajamos com drogas, mas “Mega Bus” não trata de chegar em casa com maconha pra curtir um feriadão de Natal. É “Gone Till November” de Peewee com a participação de MPA Turk e Quavo numa produção de Lil Mister, embalado por versos como “All my mama used to say was, ‘Son I pray you make it back’” e conselhos do tipo “Young nigga don’t spark up that L. With that smell, you might as well tell”, quase que uma palestra motivacional sobre como ser um chefão do crime bem-sucedido. E caso você seja pego, siga o conselho de Quavo e faça um show pros filhos do promotor pra que as queixas sejam retiradas. —Trey Smith | OUÇA

O mais recente single de Shawn Wasabi é um verdadeiro bufêzão livre de maravilhas sensoriais se você curte umas paradas doces e marcantes. Há referências a tudo que é açucarado em meio às letras lindamente sem pé nem cabeça – bolo, suco de caixinha, cocos, calamansi, balinhas de limão e shots de gelatina aparecem, bem como os famigerados geladinhos Otter Pops, que batizam a faixa aqui citada – com vocais cheios de efeitos e quebradas house de piano, criando uma das músicas mais próximas da glicose pura lançadas em 2017. Vai lá, você merece. — Colin Joyce | OUÇA

Quando o MUNA toca essa faixa nos seus shows, sua vocalist Katie Gavin a apresenta como sua visão de um mundo ideal que todos deveríamos buscar – um mundo em que ninguém é perseguido por ser quem é. Até então só temos feito merda mesmo, mas com sorte, este surto de synth-pop criado pelo trio de Los Angeles pode servir de santuário para que os marginalizados possam remexer o esqueleto como Kevin Bacon em Footloose – Ritmo Louco. É basicamente como aquele episódio de Black Mirror lá, “San Junipero”, só que com uma batidona pra dançar: amor triunfando sobre ódio e liberação sobre o medo. — Emma Garland | OUÇA

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Brincando de amarelinha nas fronteiras entre house, club music, R&B e rap deprê, este single da produtora nova-iorquina Yaeji nos oferece uma visão utópica do potencial de uma pista de dança em 2017. Familiarizada com a gramática de variados gêneros (bem como em línguas já que ela canta em coreano e inglês), Yaeji derruba quaisquer obstáculos entre diferentes estilos, com uma bebida na mão, dando permissão para que todos fiquem putos com a voz meio gaguejante, num misto de canto e fala ao dizer: “make it rain, girl, make it rain”. Liga a máquina de fumaça, prepara os beats e se perde um pouquinho, vai.— Colin Joyce | OUÇA

Se você imagina o pop como um trabalho de química, uma soma de elementos que foram misturados de forma muita precisa de forma a criar algo novo, “Afterlife” de Rina Sawayama é o produto final em sua forma mais pura. Aquele falsete brilhante, aqueles ganchos criados meticulosamente, aquela mudança de tom clássica, seguidos do brilho de referências ao passado. E ainda assim, de alguma forma, não soa exagerado e funciona. Rina descobriu a fórmula perfeita. —Daisy Jones | OUÇA

“Blue Train Lines” soa como pânico: chimbais frenéticos criam um clima surtado, urgente, antevendo um momento que nunca chega. King Krule canta lamuriento sobre baixo e bateria sem firulas, conjurando imagens de vagões de metrô imundos e sangue bombeando nas veias. “I might have seen it all”, Krule ruge. Em determinado momento, ele só grita de forma ininteligível. “Blue Train Lines” é o som de um metrô guinchante e um coração batendo cada vez mais rápido. É um caos total e é isso que a torna uma faixa tão empolgante. — Leslie Horn | OUÇA

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“Lizzie” de Sam Wise é uma faixa de rap britânico que soa tão livre quanto o céu azul em seu clipe. É uma música animada, carismática, saltitante entre cada verso. Se tem alguém promissor na cena do Reino Unido, Sam Wise é uma baita aposta. Ele mesmo afirma isso, quando canta “Lately I’ve made some serious moves and it’s just fantastic”. —Ryan Bassil | OUÇA

Com tudo de errado no mundo bem diante de nossos olhos neste ano de 2017, No Shape de Perfume Genius mostra muito bem os acertos deste ano. Ao longo do primeiro single do disco, “Slip Away”, uma promessa é feita: “Oh love, they’ll never break the shape we take”, o que soa como um convite para fugir rumo às colinas junto de alguém que se ama, quem sabe um amor proibido, como cantado por Hadreas: “Baby, let all them voices slip away”. No final das contas, parece uma homenagem à resiliência e resistência queer no passado e no presente, um testamento a tudo que foi superado, um sinal luminoso promissor para o porvir. — Tiffany Wines | OUÇA

Em uma primeira audição, pode parecer que Tierra Whack, rapper nativa da Filadélfia, esteja tirando uma ondinha de leve com seus contemporâneos do mumble rap ao longo dos versos de “Mumbo Jumbo”, mas em entrevista do começo deste ano, ela mesma revelou que fica cantarolando as melodias de todas as suas faixas antes de encaixar qualquer letra. A melodia aqui era tão boa que ela decidiu que a coisa toda nem precisava de letras inteligíveis. Boa sacada. — Lawrence Burney | OUÇA

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Tem algo na forma como Michael Beach canta “I never had enough time with you” que acaba grudando na gente. Exalando perda, mágoa e ilusão, há aqui um pouco de esperança também. Com um riff que certamente pesa uma tonelada, o guitarrista chega com um som que parece dizer “Estou destruído porque você se foi, mas acredito que nos veremos de novo”. —Tim Scott | OUÇA

O lançamento desta faixa – com sua tempestuosa produção e vocais levíssimos – foi um dos grandes momentos do ano, uma declaração rara que indica o bastante sobre SOPHIE ao mesmo tempo que deixa para o ouvinte imaginar o que o futuro reserva para ela. Como resumido por um comentarista de YouTube: “SOPHIE finalmente saiu das sombras e estamos todos chorando”. Em qualquer outra ocasião isso soaria como exagero, mas ver a produtora que durante certo tempo nem rosto teve completamente exposta e sussurando sobre choros e tudo mais faz deste comentário um tanto quanto comovente e preciso. —Ryan Bassil | OUÇA

Laura Marling conhece intimamente a maneira como sua guitarra atende aos seus caprichos e a sabedoria que nos transmite por meio de suas letras, mas sua força reside no fato de nos levar a locais que ainda não conhecemos. Em “Soothing”, de Semper Femina, Marling se aprofunda na tensão da sensualidade. Ela canta sobre idas e vidas, banimentos e por aí vai, mas as linhas de guitarra indicam outra coisa. É um jogo que todos já jogamos: a sedução pode se fazer presente mesmo quando não a desejamos, mas como Marling canta, ela já não mais pode entrar. —Sarah MacDonald | OUÇA

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Já que a dance music é em grande parte um gênero instrumental, suas melhores faixas são as que descobre como obter o máximo de impacto com poucas palavras. No caso de “Juvenile”, de Blaze, o curto verso —“Let me show you something, you were in my head once”— é repetido à exaustão, como uma lembrança esquecida de algo que não mais pode ser alcançado ou mesmo um sonho que nunca aconteceu. Trata-se de uma faixa desoladoramente triste que de alguma forma consegue soar eufórica também, como toda paulada pra pista deve ser. —Ryan Bassil | OUÇA

Reza a lenda que Kwaye mostrou esse som para um motorista do Uber em Los Angeles que, por acaso, conhecia uma galera da indústria musical e acabou lhe arrumando um contrato quase que imediatamente. Ao ouvir “Little Ones” dá pra entender o porquê. Em partes Prince, Sade e synth-pop oitentista que te fariam arriscar uns passinhos em um porão às 4 da manhã, é o tipo de música com apelo de massa que vai fazer todo mundo cair na pista. Esta faixa é a culminação de alguém com bom gosto reunindo todas as suas influências e transformando em puro ouro neo-funk rumo ao futuro. —Daisy Jones | OUÇA

É bastante revelador parar pra pensar que os gritos dignos de meme do roqueiro australiano Jimmy Barnes some ainda mais esquisitos dentro do contexto em “Big Enough”. A faixa é o ápice da visão irreverente de Kirin J Callinan, alternando entre balada sussurrada, assovios dignos de bangue-bangue e EDM bombadaço. A música consegue fazer tanto com tanta coisa que parece fora do lugar, ao ponto de parecer só zoeira mesmo, até que tudo se encaixa ao passo que Callinan e seu colega esquisitinho Alex Cameron gritam praticamente todos os nomes de países do mundo (incluindo as duas Coreias) e a doideira de “Big Enough” começa a lembrar um certo otimismo. —Phil Witmer | OUÇA

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A galera do Alvvays manda bem demais em sonorizar fantasias, sejam elas boas ou deprês. Em “Dreams Tonite”, dolorida faixa de Antisocialities, conjura-se uma sonoridade brilhante e com céus de algodão-doce: naturalmente fugaz, meio tristinha e ainda assim bela. A voz de Molly Rankin desliza sobre guitarras suaves enquanto canta “Live your life on a merry-go-round / Who starts a fire just to let it go out?”. Uma sensação de esperança permeia “Dreams Tonite”, mesmo que ao longo do fato de que seja lá o que for que seu coração anseia no momento, ou quem for, não vai dar certo mesmo. —Sarah MacDonald | OUÇA

“All our celebrities keep dying / While the cruel men continue to win” é a mais sucinta respective de 2016 e 2017 que poderíamos querer. Em vez de transformar estes sentimentos em punk raivoso, a líder do Japanese Breakfast, Michelle Zauner, canta em “Till Death” com o mais puro sentimentalismo setentão. É ousado e ela encara a treta, começando com um piano e mudando radicalmente no final, este cheio de metais, sinos e coros. “Till Death” é uma canção honesta e bela sobre encontrar paz em meio ao casos, além de ser o uso mais romântico de “tanatofobia” que você ouvirá. —Phil Witmer | OUÇA

Quando você mistura uma narrativa pop sabidamente sem muito conteúdo com um drop que faz parecer que estão te batendo numa máquina de algodão doce impiedosa (e até meio sexy) o resultado é “1UL”, um lançamento ultrajante de Danny L Harle, rei da excentricidade PC Music e fornecedor dos melhores barulhos de corneta que se pode encontrar por aí. Ainda que haja algo de iluminado em comentar sobre este seu pastiche de dance music, intelectualizá-lo tiraria o foco do que importa, porque por conta de sua esperteza, “1UL” é porrada demais e certamente o mais próximo que chegamos de voar em todo este 2017. —Lauren O’Neill | OUÇA

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O nome do EP de Ishi Vu lançado em maio via Studio Barnhus pode ser traduzido como “casa dos sonhos” o que pode muito bem descrever a alegria de outro mundo que é sua faixa de destaque “Is This Love”. Devendo muito a duas gerações de produtores suecos incríveis – o nebulos êxtase de grupos pós-Balearic Beat como Air France e produtores como o chefão da Barnhus Kornel Kovacs – “Is This Love” deforma e estica samples de Bob Marley e Eazy E em uma nuvem de synths rica em oxigênio que explode em algum lugar na atmosfera acima da pista de dança. — Colin Joyce | OUÇA

Stefflon Don, artista londrina, teve um ano incrível, o que não é de surprender já que ela deu seu pontapé inicial em 2017 com o lançamento de “Real Ting (Remix)” com o astro do rap britânico Giggs. A faixa é uma demonstração bem adequada da destreza lírica de Steff, bem como sua capacidade de se tornar uma estrela – para quem não conhece sua mixtape Real Ting, lançada no final de 2016 - “Real Ting (Remix)” a lançou à categoria de um relevante e talentoso nome na cena britânica, o que foi comprovado ao longo deste ano. — Lauren O’Neill | OUÇA

Khalid foi um dos artistas mais celebrados deste ano por conta do elegante retrato geracional que foi seu disco de estreia American Teen, lidando com temas como amor, tecnologia e a incerteza que é crescer. “Saved”, uma faixa sobre manter salvo o telefone da ex no celular acerta em cheio na combinação de tudo isso, mas também soa familiar em estilo e conteúdo, independente da época em que você cresceu. E isso é o que Khalid oferece de melhor – um artista que usa o vernáculo contemporâneo para atingir algo muito mais humano: o desafio e a graciosidade de deixar alguém partir, e o que resta dessas pessoas conosco assim que o amor se foi. — Andrea Domanick | OUÇA

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Se você não acha que Gucci Mane tem as manhas, você é um otário e esta canção seria a prova apresentada contra você no tribunal. O que rola aqui é Gucci das antigas, mas dito isso, o destaque não vai pra ele. Sempre que você chama Srremurd pra participar do seu som, ele vai roubar a cena e poucos conseguem mandar um verso como Jxmmi, então que sorte do Gucci de ter os dois ali. Ele rima “soccer team” com “Socrates”, pelo amor de deus! —Trey Smith | OUÇA

Morby compôs esta faixa com seu colega do Babies Justin Sullivan, deixando a marca lo-fi do projeto nela todinha. O que faz o som bater mesmo, porém – além daquele gancho brutal – é sua desafiadora solidão, um tema que sublinha todo o álbum City Music lançado este ano. Morby compôs a faixa em 2013, mas escolheu um bom ano para lançá-la: a faixa trata de sentir-se desligado do mundo em que vive, mas mesmo assim tendo que viver nele, aguentando todo o cansaço e vulnerabilidade que isso traz. Tem vezes que só chorando mesmo, meu irmãozinho. — Andrea Domanick | OUÇA

Um minuto e 22 segundos marcam o momento exato em que “Provider” deixa de ser uma faixa boa para se tornar uma faixa ótima, uma das amáveis músicas avulsas lançadas por Frank Ocean em 2017 – a melodia bacaninha torna-se algo mais pesado e transcendental. Rola um drop e é como se alguém tivesse esbarrado no botão de rebobinar por um instante, criando um vazio de beleza sem peso algum e teclados sedosos em torno do Planeta Frank. Rola uma piadinha com Aphex Twin, umas rimas soltas e uma bela demonstração de potência vocal, mas o trecho que introduz essa seção é o que gruda na cabeça mesmo: "Tonight I might change my life". Mesmo em seus momentos mais pessoais, Frank Ocean sempre teve talento para utilizar a universalidade das emoções humanas ao seu favor e “Provider” é só mais um lembrete de o quanto sua alma dialoga com cada um de nós. —Larry Fitzmaurice | OUÇA

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Por mais que coiotes não sejam nativos da Nova Zelândia, o uivo presente em “I’m Not Cold Anymore” quase soa como obra de um bicho desses. De sua casa em Dunedin, os irmãos Jeremy e Louis Potts criam rock maravilhosamente vagabundo, feito no GarageBand e ladeado por um vídeo sobre criar sua própria diversão. Caso você se pegue atrás da trilha perfeita pra sair perambulando pelas florestas do sul neozelandês enquanto pinta rostos em pedras e fica de rolê debaixo de pontes, esse é o seu lance.. —Tim Scott | OUÇA

Pare e pense que alguém que você ama sofre de depressão. Pense em quão pérfida esta doença pode ser e que mesmo assim você continuará amando aquela pessoa porque, no final das contas, até isso faz parte de quem ela é. Tenha em mente sentimentos como paciência e gentileza. É exatamente o que Julien Baker faz em “Claws in Your Back”, uma inacreditavelmente bela balada ao piano presente em Turn Out The Lights. “I think I can love the sickness you made”, canta um Baker esperançoso. “Claws In Your Back” hesita em seus momentos mais obscuros, mas segue otimista. No final, Baker canta sobre força, sobre sair pra ver a luz do sol e querer ficar. —Sarah MacDonald | OUÇA

Crescendo dividindo pelo emo de meados dos anos 2000 e os primeiros sucessos de Gucci Mane, Lil Peep tinha todo esse lance de acabar compondo hinos, “Awful Things” sendo um de seus grandes sucessos – uma puta paulada sobre como as pessoas que amamos e suas idiossincrasias podem ajudar a deixá-los para trás, o que é engraçado e adorável de uma forma que muitas vezes ninguém associa com música e provavelmente é isso que faz com que as pessoas tenham se prendido a esse som em específico após sua trágica morte – estreando em 79º lugar no Hot 100 na semana após o falecimento de Peep e sua “maior influência”, Good Charlotte, ter feito um cover para o seu funeral – e também porque ele finalmente conseguiu canalizar suas influências numa canção pop perfeita. Um comentário comum semanas após sua morte é de que Peep deveria estar tocando em estádios logo logo. "Awful Things” seria o som do bis. — Colin Joyce | OUÇA

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Pusha T disse a Zane Lowe que Damon Albarn concebeuHumanz — o retorno tortão, eclético e dançante do Gorillaz – como a trilha de uma festa para celebrar o fim do mundo caso Trump fosse eleito. Seguimos com uma enxaqueca brutal aqui, sabe deus como, mas nada nessa rave desgraçada bate tanto quanto “Ascension”. Os versos urgentes de Vince Staples sobre escapismo, racismo (“You can live your dreams long as you don't look like me”) e guerra botam a parade toda pra rodar em cima de sintetizadores tresloucados comandados por Albarn e Anthony Khan. A chamada de Staples para farrear é irresistível quando qualquer outro ato parece inútil.— Jill Krajewski | OUÇA

Com tantos apocalipses batendo à porta, John Maus disse no começo deste ano se preocupar que seu hit de fim dos tempos “The Combine” acabasse ficando meio óbvia. Ao longo de suas linhas de sintetizadores entremeadas, Maus canta sobre como uma besta mecânica enorme virá e nos transformará em pó. Ele explica em entrevistas sobre como o mundo está sempre acabando de um jeito ou de outro se você para pra observar tudo em uma linha do tempo longa o suficiente, mas esse ano em especial parece muito adequado para ouvir um homem gritando sobre como todos nós vamos morrer. — Colin Joyce | OUÇA

O Girlpool acaba tocando numa veia bastante noventista de nostalgia ao longo de It Gets More Blue, mostrando toda sua força na faixa-título do disco. A faixa soa quase que insuportavelmente saudosa com a guitarra e baixo de Cleo Tucker e Harmony Tividad se misturando em meio a suas melodias, circulando e passando umas pelas outras, como bicicletas em uma rua lotada de folhas no chão. Versos sobre aquecimento global e revirar lixo se encontram num coro cheio de fuzz, meio grunge, que soa belo enquanto rosna, mostrando os recém-descobertos músculos musicais do grupo. Faixas como esta podem ser tanto reconfortantes quanto melancólicas, uma raridade por si só. —Phil Witmer | OUÇA

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Com aquela que de longa é a canção mais pegajosa dos últimos 12 meses, “Magnolia” é prova de que Playboi Carti tem uma longa carreira a sua frente, tanto como músico quanto como ícone cultural. Houve um momento no meio do verão em que era quase impossível ir a qualquer lugar sem ouvir esse som tocar – fosse em carros, sets de DJs ou nos fones de quem estava ao seu lado no metrô ou ônibus – o que fazia o mundo inteiro parecer com Nova York. Além do que, Pi’erre Bourne entrou nessa com a melhor produção do ano. —Eric Sundermann | OUÇA

O supergrupo indie CCFX de Olympia, Washington, conta com a vocalist Mary Jane Dunphe, da violenta banda punk Vexx e do duo CC Dust, além de Chris McDonnell, da banda de goth-rock com bateria eletrônica Trans FX. Os dois fazem parte ainda do Country Liners, que toca country-rock. “2Tru” mostra uma Dunphe em sua melhor forma, canalizando um dream pop oitentista melancólico, o que faz pensar na voz de Robert Smith, mas se o The Cure fosse uma banda de shoegaze. Ao passo em que ela canta sobre lutar contra o oceano é quase possível sentir a névoa do Estreito de Puget ao redor.— Tim Scott | OUÇA

Esta faixa, uma versão de Kurt Vile baseada no disco de 2013 de Courtney Bartnett How to Carve a Carrot Into a Rose, sanarão toda e qualquer dúvida que você possa ter sobre a glória da guitarra. O que faz destes dois tão bons compositores é como simplesmente não rola um medo de deixar espaço em branco no meio de uma faixa, levando o ouvinte a compreender a importância de uma jam. A música de Vile sempre apresenta a capacidade de amplificar seja lá qual for o estado de espírito no qual você se encontra – alegre ou deprimido – e “Outta the Woodwork” é um de seus maiores feitos. — Eric Sundermann | OUÇA

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É fácil responder às críticas, por mais ponderadas que seja, com um “Não me julgue”. Ty Dolla $ign até mesmo usou esse verso no destaque de Beach House 3, com participações de seus grandes amigos Swae Lee e Future. Neste adorável hino celebratório discretão, a frase se mostra parte de uma filosofia laissez-faire – justificativa pra viver e deixar viver, beber e curtir e pegar umas cinco meses no Hibachi quando bater a vontade. —Leslie Horn | OUÇA

So Sydney’s Bed Wettin’ Bad Boys are all grown up. Well, as grown up as a band called Bed Wettin’ Bad Boys can be. Rot, the follow-up to their 2013 debut LP, has the group maturing, if only by a bit. Album highlight “Plastic Tears” features Nic Warnock holding down some hoarse and emotive vocals and a guitar line that The Replacements’ Bob Stinson would be proud of. —Tim Scott | LISTEN

Então os Bed Wettin’ Bad Boys de Sydney cresceram. Ao menos o tanto que uma banda com esse nome pode amadurecer, né? Rot, o sucessor de seu disco de estreia de 2013, mostra um grupo mais maduro, mesmo que seja só um pouquinho. O destaque do álbum, “Plastic Tears” mostra Nic Warnock segurando uns vocais brutos e emocionados, pareado com uma guitarrinha que Bob Stinson do Replacements se orgulharia. —Tim Scott | OUÇA

De todos os anos que o LCD Soundsystem poderia inventor de voltar com com seu dance rock ansioso, 2017 é o mais adequado de todos. Ok que chamar um disco de American Dream pode ser óbvio até demais, mas o “sonho americano” cheio de sintetizadores dançantes do grupo é uma inteligente divagação como aquelas que rolam após acordar de um porre homérico. É sexo sem amor, ácido sem chapar, idade pareada com sabedoria e experiência adquirida somente através do arrependimento. Por mais que a tristeza de Murphy aqui seja pessoal, a sonoridade eletrônica em ruínas aqui apresentada acaba por servir de trilha para nossa desesperança também. —Jill Krajewski | OUÇA

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É 1 da manhã e você está prestes a ligar para aquela pessoa com quem ainda está trepando por mais que saiba que ela não te faz bem. Você botou esse som pra tocar de novo, de forma a sentir-se empoderada para jogar tudo pro alto com alguém que não quer nada além de algo casual. Que erro: o brilhante hit R&B-pop de Mabel trata exatamente do vício em sexo de reconciliação e não vai te ajudar de forma alguma a se livrar dessa pessoa. Ainda assim, é uma pedrada com um refrão incrível. Não dá pra ganhar todas. — Tshepo Mokoena | OUÇA

Essa faixa continua soando como um milagre. Temos aqui Calvin Harris, bambambam do EDM tocando “música de verdade” com teclados reconfortantes, um baixão marcante e um pega cadenciada que fica entre "Desperado" de Rihanna e seja lá o que for que colocam pra dançar em casamentos agora. Temos ainda os caras do Migos, que provavelmente já fizeram de tudo este ano para serem considerados superexpostos (positivamente), correndo ao longo da composição de Harris como um coelho solto num campo de futebol. E ainda por cima temos Frank Ocean! O cara que quase nunca soa bem na produção alheia – ou pelo menos não tão bom assim, mas surpreendendo com seu verso em “Slide”, deixando seu brilho numa faixa um tanto quanto comunitária em um ponto de sua carreira em que seu melhor foi mostrado ao explorar os limites da solidão. É muito bom falar sobre o que faz de “Slide” tão foda, mas quer saber? É melhor ainda ouví-la. — Larry Fitzmaurice | OUÇA

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Andrew Savage do Parquet Courts surpreendeu muita gente com seu excelente disco de estreia Thawing Dawn e um dos destaques é “Phantom Limbo”, com uso de pedal-steel. Baseada no conceito de ausência e como esta pode afetar a noção de realidade de uma pessoa, esta faixa faz referência a bares locais e comércio de sepulturas, acompanhada das observações e fraseados eruditos de Savage. Soa tão pulverulento quanto afável. —Tim Scott | OUÇA

Espera-se que o verão seja uma época de curtição e sol, mas este último foi bem bruto. Claro que teve muita coisa feita na música este ano que tentou captar o mal-estar de estar dividido entre preocupações com o aquecimento global, perda de direitos básicos ou guerras nucleares. Lana Del Rey conseguiu capturar essa sensação, em tom menor, clamando “hip-hop in the summer, don’t be a bummer, babe”. Com a participação de A$AP Rocky e um incrível ad-lib de Playboi Carti, esta faixa representa belamente o que é tentar viver quando o mundo ao seu redor está desmoronando, uma trilha para tornar toda essa bagunça mais palatável. —Leslie Horn | OUÇA

Que fique claro que o revival do rock madurão é real. No mais caótico ano da memória recente, não há nada que acalme mais do que uma jam suavona. O mestre da zoeira Thundercat sabe bem disso – sem contar a ironia maravilhosa de meter Michael McDonald e Kenny Loggins na mesma música em 2017 – mas o que faz “Show You the Way” ser um som tão foda não é sua sonoridade apatetada e sim uma belíssima demonstração de virtuosismo. McDonald e Loggins funcionam perfeitamente junto dos falsetes de Thundercat, enquanto o doidão mostra suas habilidades incríveis com o baixo. É demais. —Eric Sundermann | OUÇA

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Qualquer um que já tenha visto a intensa performance de “Horizon” no Later… with Jools Holland pode atestar o impacto emocional desta faixa. O compositor neozelandês Aldous Harding já explicou que de certas maneiras, a música trata de escolher arte no lugar de uma pessoa, e trechos como “Dancing to the edge of the world, babe, as I broke my neck” adicionam um peso obscuro e emocional. —Tim Scott | OUÇA

Esta faixa está aqui graças ao trecho em que diz "My side chick got pregnant by her main dude and I'm offended". — Andrea Domanick | OUÇA

Com “Fresh Air”, Future fica lado a lado de grandes hits inspirados em clima como “Umbrella” de Rihanna e “November Rain” do Guns N’Roses. Começando com um súbito sample de funk da MC Pocahontas, Future traça uma paisagem natural em toda seu esplendor (“Sand touch your toes when you cookin' breakfast / Pacific Ocean out the backyard lookin' sexy ) antes de emendar “I’ma need fresh air”. A batida, uma combinação de trap jazzeado e backing vocals em pegada soul, permitem ao rapper curtir a magia do oxigênio, se libertando das responsabilidades nesta vida de pecado, em favor de distância e um clima bacana. —Jabbari Weekes | OUÇA

“I’ll have my cake and eat it too / I wish I could be good to you” é um dos versos mais lancinantes do disco de estreia de Charly Bliss, Guppy. Desejoso, dolorido e arrependido, o album mostra a vocalista/guitarrista Eva Grace Hendricks cuidando de feridas relacionadas a ter seu coração partido – por vezes até mesmo cutucando-as com os dedos. É um pós-mortem dolorosamente sincero sobre um relacionamento que foi pras picas, em que Hendricks passa tanto tempo alvejando a si mesma e seu ex, dando um tom sobrio adjacente à doçura e hiper-feminilidade do som do Charly Bliss ao adicionar um pouco de feiúra. — Emma Garland | OUÇA

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Com Dave, J Hus e uma linha de piano com mais gravitas que uma pintura barroca, “Samantha” é uma reunião de forças tão grande que estas merecem seu próprio quadrinho da Marvel. O instrumental é foda, o vocal de Dave soa como chocolate derretendo e J Hus dropa um dos versos mais bem escritos sobre permissão pra beber na rua. Gravar parte do clipe em uma igreja foi uma decisão acertada, o que acaba fazendo parecer que a dura escalada rumo à fama é uma experiência religiosa. — Emma Garland | OUÇA

Depois de tomar um tiro, boa parte das pessoas tentariam ser mais discretas. Não Young Dolph. O bicho não só subiu ao palco logo após o infame incidente em Charlotte – onde mais de 100 tiros foram desferidos num tiroteio – como fez um som questionando a competência de quem o atacou. Os sintetizadores e batidas sinistras de DJ Squeeky dão uma base assustadora para que Dolph ataque sem dó nem piedade: “How the fuck you miss a whole hundred shots?” —Trey Smith | OUÇA

Poucos artistas mereceram tanto dar uma voltinha da vitória nestes últimos anos quanto Bad Bunny. Seu talento para melodias (e umas colaborações pesadas com alguns dos maiores rappers e cantores de língua espanhola), acabou por popularizarem sua versão do trap, o que é evidente através de métricas tradicionais – milhões de visualizações no YouTube – e o maior teste empírico de todos: ouvir os sons bombando em carros durante todo o verão. Sendo assim, “Tu No Metes Cabra” é uma comemoração merecida. Um tchauzinho pra quem resolveu ficar no muro enquanto o cara só crescia, rimando com um sorriso na cara sobre uma série de batidas 808 coloridaças que orgulhariam Metro Boomin. O fato de ter conseguido 200 milhões de reproduções tão rápido só prova que o cara pode e deve se gabar. — Colin Joyce | OUÇA

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"The Louvre" é tão boa que inspirou uma fã a tentar pendurar o segundo disco de Lorde, Melodrama , no tal Museu do Louvre mesmo. E quem passou o ano ouvindo esse som no repeat entende muito bem os atos extremos inspirados por ele: Melodrama é um disco esquisito – até mesmo para uma estrela pop com foco na arte como Lorde, quanto mais qualquer outro – e “The Louvre” é um de seus momentos mais bizarros. Logo após a marcial e relativamente direta “Homemade Dynamite”, “The Louvre” começa com uma guitarra abafada (quem disse que esse som morreu?) e constrói toda a sonoridade rumo a um clímax que nunca chega. É gratificação tardia em sua melhor forma – com a diferença de que a gratificação advém do fato de nunca chegar de fato, com as guitarras a expulsando do cômodo. Nunca dá pra saber o que Lorde fará, e esta faixa é mais um exemplo de que isso é ótimo. —Larry Fitzmaurice | OUÇA

Diante de constante traumas, apoiar-se na família que você escolheu (não necessariamente na de sangue) pode ser essencial para o bem-estar do indivídu. Os Creek Boyz de Baltimore tem noção disso e é disso que faz o refrão de “With My Team”—“Everyday we on our grind / Baltimore too many niggas dying / Gotta watch out for me and mine / Everyday I'm wit my team”— tão significativo. Baltimore está passando por seu ano mais fatal ao longo de duas décadas e é por isso que se sentir protegido e nutrido por aqueles mais próximos é uma forma de sobrevivência. Até mesmo o corte bizarro de seu gancho não tem como estragar isso.— Lawrence Burney | OUÇA

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Cloak, de Atlanta, é certamente uma das revelações underground de 2017. Seu disco de estreia, lançado pela Season of Mist, To Venomous Depths, é uma resposta gótico-sulista ao death glam do Tribulation que mistura vigoroso black/death metal com doom deprê e um domínio quase sobrenatural sobre a melodia. “Beyond the Veil” é só mais um exemplo de sua hábil mágia negra. —Kim Kelly | OUÇA

É muito mais difícil escrever uma canção de amor sobre incerteza do que segurança. O produtor sul-africano Black Coffee o vocalista Bucie ganham pontos por fazer isso em “Superman”, sua faixa de 2010 que Drake relançou como "Get It Together". Esta versão atualizada é inebriante em meio ao esplendor de More Life, com Jorja Smith suspirando “give me a kiss goodnight”, um clamor que gruda junto do piano que só acentua seu pedido. Smith é a estrela aqui, cantando com uma gravidade e ternura que você não sabia que sentia falta até ouvir seu delicado “Hello…” — Jill Krajewski | OUÇA

O EP de 2017 do Devil Master, Inhabit the Corpse, chegou com tudo logo após sua estonteante demo de 2016 e sua faixa título resume a razão de ser destes novatos da Filadélfia: metalpunk ao extremo com coturnos de couro imundos firmemente plantados no crust punk e black metal dos anos 90, uma mistura profana de Mortuary Drape, Judas Priest e Anti-Cimex. Isso daqui é foda e com sorte os caras logo estão assombrando uma cidade perto de você. —Kim Kelly | OUÇA

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Quando pararmos para pensar em 2017 daqui uns dez anos, algumas pérolas se destacarão. Brockhampton, a única boyband formada nos fóruns KanyeToThe, certamente será uma delas. “GOLD” é um dos melhores momentos encontrados ao longo dos três discos lançados pelos caras até o final deste ano (Saturation III, seu último disco, sai em 15 de dezembro). Com um gancho contagiante e versos únicos vindos de integrantes bem características, isso aqui é tudo que sua boyband deveria ser. — Lauren O’Neill | OUÇA

A longeva banda punk de Pittsburgh inspirou várias gerações de jovens punks (e metaleiros) a acordarem pra tudo que está rolando e assumirem uma postura política. Por mais que o som descaradamente esquerdista dos caras tenha amolecido um pouco desde os anos 90, a mensagem segue cada vez mais afiada desde que a era Bush lhes rendeu algumas de suas obras mais furiosas. “Racists”, singe de seu novo disco American Fall foi inspirada diretamente pela tragédia em Charlottesville, em que um supremacista branco jogou seu carro em manifestantes pacíficos, assassinando Heather Heyer. A canção de cunho pop, contagiante, aborda toda uma litania de clichês racistas e argumentos da bendita era Trump, com seu refrão que desafia você a discordar: “Just ‘cause you don’t know you’re racist, you don’t get a pass for your ignorance!” —Kim Kelly | OUÇA

Sempre no lado B no cantinho mais experimental do techno, Objekt nunca teve medo de ousar. Mas mesmo assim, “Theme From Q” – de Objekt #4— é uma faixa que traz uma alegria surpreendente. Construída em torno de um loop de bateria 2-step, um sample vocal bem falante e um synth que faz parecer que alguém deu com o punho num teclado, trata-se de um hino para quem lembra que ecstasy é o que importa nesse negócio de dance music. — Colin Joyce | OUÇA

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Ric Flair já se descreveu como um “desgraçado estilêra que anda de limusine e jatinho, roubando beijos e apronta a milhão” e nesta pedrada de Without Warning, produzido por Metro Boomin, o Offset incorpora isso tudo. Duvida? Confere esse trecho e me diz se parece coisa do Flair ou é Offset mesmo:

“Going to the jeweler, bust the AP, yeah
Slidin' on the water like a jet-ski, yeah
I'm tryna fuck you and your bestie, yeah
Chopper with the scope so do not test me, yeah”

Podia ser qualquer um dos dois. —Trey Smith | OUÇA

A primeira faixa de More Scared of You Than You Are of Me começa com a seguinte frase: “Tell Jesus he’s a fucking loser”. Só isso já é o suficiente para garantir um lugar nesta lista, mas daí em diante a faixa mostra o estilo irritante e de volume alto destes punks australianos até que o frontman Wil Wagner fica parecendo um louco em meio ao caos que ele mesmo criou. —Dan Ozzi | OUÇA

Moses Sumney manda um falsete tão belo que mesmo quando não dá pra entender metade do que ele canta, você continua com lágrimas nos olhos. Felizmente, com esta faixa – uma versão um pouco diferente da que foi lançada em seu EP Lamentations de 2016 – não dá pra perder o refrão. Ele canta “lonely” pelo menos 60 vezes. E como acontece com tudo lançado por Sumney e seu estilo soul contemplativo desde seu primeiro sucesso em 2013, esta faixa se enrola no seu corpo feito fumaça, cheia de emoção. Ah, e ele diz o seguinte: “fog in the morning, going nowhere”. — Tshepo Mokoena | OUÇA

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Kendrick Lamar anunciou DAMN. de forma ousada, dizendo, “Sou o maior rapper vivo”. Mas “ HUMBLE.” tem pouco a ver com outras pessoas que não o próprio Kendrick, diante de um espelho quebrado, pedindo a seu público para julgar o reflexo. Ele fala sozinho e então senta mais uma vez. Seu flow é fragmentado: “syrup sandwiches,” “stretch marks,” “watch my soul speak”. A batida urgente de Mike WiLL Made-It, que for a criada para Gucci Mane, soa como se pudesse levar Kendrick pra pista. Mas no contexto de DAMN., só faz o cara mergulhar mais fundo em si mesmo. — Alex Robert Ross | OUÇA

21 Savage sabia que ia impressionar com o estudo antropológico de “Nothin New” quando deu início à música com a frase “they thought I only rapped about murder and pistols”. A faixa, semiobiográfica, detalha o amadurecimento de um jovem negro que cresceu sem pai ou mãe, que acaba sendo engolido pelo mundo das drogas, falta às aulas e armas de fogo. Mas em vez de deixar a coisa toda correr no presente, o artista traça uma imagem abrangente das repercussões causadas pelo racismo e o sistema prisional industrial de forma a tentar explicar a que ponto chegamos. Não é de surpreender: 21 Savage já havia demonstrado tais qualidades analíticas ao longo de diversas entrevistas, mas é muito bom poder ouvir isso em forma de música. — Lawrence Burney | OUÇA

Como criar um hit em 2017? Ganhe os corações e mentes no Twitter. Com sua lista à prova de falhas de como se livrar de um boy lixo que só manda mensagem bêbado, foi o que “New Rules” conseguiu fazer, garantindo à britânica Dua Lipa um sucesso no topo das paradas britânicas. Por mais que lhe falte atemporalidade (um instrumental típico de boate em vez de um refrãozinho manjado é A Maldição Pop de 2017), temos que admitir que é um baita som. — Lauren O’Neill | OUÇA

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Sabe como rola em todo Velozes e Furiosos que um personagem simplesmente some? Sabe como é, você não sabe onde o cara foi parar e supõe que morreu nas mãos de um dos capangas de Jason Statham ou sei lá, sendo relembrado em brindes saudosos com Corona no próximo churrasco na casa do Vin Diesel? Daí antes que você possa dizer que família importa e tudo mais, o bicho volta aos 45 do segundo tempo, salvando o dia ao arremessar um carro esportivo de marcha ré do alto de um arranha-céu, provando então que aquele cara lá era o fodão e você um otário por pensar o contrário? Foi isso que Jay-Z fez com esta música e praticamente o 4:44 inteirinho. —Eric Sundermann | OUÇA

O Wax Bottles chegou de fininho com um EP esse ano, na miúda, mas quem parou pra sacar os caras logo tomou uma surra de post-hardcore anos 90. Há altas doses de Jimmy Eat World da fase Static Prevails, bastante Rainer Maria e quem sabe um pouquinho de Sunny Day Real Estate. Com integrantes do Gaslight Anthem e Polar Bear Club, mas nada que soe como essas bandas, este EP de seis faixas entrega qual é a dos caras, mas na real, a essência deles está registrada claramente no primeiro minuto da primeira faixa, logo que a guitarra limpinha é engolida por uma parede de distorção maravilhosa. —Dan Ozzi | OUÇA

Quando David Byrne do Talking Heads foi abordado para falar sobre “Bad Liar” de Selena Gomez, que empresta um riff icônico do single de 1977 de sua banda, “Psycho Killer”, seu porta-voz teria dito que “ele aprovou a música de coração”. E olha, ouvindo ela, por que ele não o faria? Trata-se de uma reinvenção espertíssima, construída quase que inteiramente em torno do sample, com um vocal quase que erótico. Minimalista, mas com uma recompensa gigantesca, é um exemplo de como Gomez está se tornando uma das mais fascinantes artistas dentro do pop. —Lauren O’Neill | OUÇA

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Parte da alegria da abordagem livre de gêneros na dance music feita por Mija, nativa de Los Angeles, é que a produtora não tem medo de explorar os cantos do estilo que a história não tem sido lá muito favorável. Como a maioria de suas melhores faixas, “time stops when i’m with u” lança um olhar revisionista sobre os cantos mais apatetados da dance music, mergulhando fundo no dubstep, vocal trance, temas de animes e praticamente tudo que você já viu na vida se já jogou Dance Dance Revolution alguma vez na vida. Seu refrão animadaço traz de volta à vida todo aquele tom açucarado do happy hardcore, criando uma das mais diabéticas canções de amor já surgidas em meio aquilo que chamamos de EDM. — Colin Joyce | OUÇA

Será possível criar um som que mais se assemelhe a trajar coletinho e shorts? Não, não mesmo. Esse o é o som mais adequado para se passar bronzeador que existe. “Despacito” com Justin Bieber – que ouviu a original enquanto pirava numa turnê na Colômbia e quis embarcar nessa – é o verão engarrafado. Soa exatamente como aquelas féiras com tudo incluso e marcas desonhecidas de salgadinhos e tentar tirar o sal e areia do seu cabelo enquanto toma uma cervecinha gelada, de pés descalços. É perfeita! — Emma Garland | OUÇA

Troque toda a letra pelo título, acelere, troque tudo por outros sons aleatórios do Lil Pump song: não importa o quão corrompida seja, “Gucci Gang” resiste. Uma faixa tão simples que é indestrutível. Não é um puta som no sentido clássico do termo, mas é a “Smells Like Teen Spirit” do rap de Soundcloud: um grito de guerra de uma geração criada com base no Vine e YouTube poops. Graças ao sucesso de “Gucci Gang”, os portões se abriram para Pump, Purpp e todos os Lils adolescentes que surgiram para conquistar o mainstream com batidas pesadonas e versos grudentaços. Canta junto, galera. —Phil Witmer | OUÇA

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Cê tá me dizendo que esse som saiu esse ano? Ele toca tanto no Reino Unido que parece já ter tocado em todo casamento, aniversário, festa e sabe deus o que desde tempos imemoriais. Não que isso seja ruim: mostra que Hus criou algfo atemporal com “Did You See”. Além do que, dá pra medir a longevidade e genialidade de uma canção pop ao ver se sua vó dançaria com ela, o que nesse caso, certamente faria. —Ryan Bassil | OUÇA

Ao longo do ano que passou, Ronny J se tornou o produtor indicado para criar aquele trap escroto, destruidor de falantes que caiu nas graças das paradas, mas esse som com Danny Wolf e DJ Spinz é, de longe, a parada mais contagiante que ele se meteu. Cada nota do baixo distorcido bate com uma força brutal capaz de romper os tímpanos alheios, dando espaço para que Hoodrich Pablo Juan chegue suave sugerindo que tem grana o suficiente pra usar roupas feitas com a pele daquele lêmure da TV que todo mundo adorava. É um som apatetado, inquietante e que ainda assim bota a pista pra ferver, o que faz tudo funcionar tão bem. — Colin Joyce | OUÇA

“Chanel”, de Frank Ocean já chega chegando. “My guy pretty like a girl / And he got fight stories to tell”, canta Frank, um misto de galhofa e doçura. O artista lançou um punhado de singles via Blonded Radio, mas “Chanel”, cantada ao longo de um piano vagaroso e hipnótico, foi a mais interessante. Uma faixa pessoal e vaga ao mesmo tempo, que cria pequenas cenas incríveis a cada verso, tais comoo “hide my tattoos in Shibuya, police think I’m of the underworld” ou “film it with the drone cam, in the pink like Killa Cam”. No refrão, ele afirma que “sees both sides like Chanel”, sobrepondo-se ao instrumental, atraindo-nos para saber mais sobre aquelas histórias ali. —Leslie Horn | OUÇA

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"THIS COUNTRY MAKES IT HARD TO FUCK!" nas imortais palavras de "1-800-273-8255" de Logic. Quem se identifica? O raivoso e suntuoso segundo disco de Karen Dreijer do The Knife como Fever Ray, intitulado Plunge, é tão político quanto sensual e “This Country” talvez seja o principal ponto de colisão entre estas duas temáticas. Sintetizadores soam como fios elétricos soltos ao vento, batidas que soam como vapor e Dreijer clama por abortos livres, água limpa, o fim da proliferação nuclear, tudo isso antes de falar, sem cerimônia alguma: "Every time we fuck, we win". Raivosa, passional, direta e barulhenta pra caralho: “This Country” é música de cunho político que soa essencial este ou em qualquer outro ano. —Larry Fitzmaurice | OUÇA

A trajetória sônica de Charli XCX até o momento parece uma cópia de uma eletrocardiograma de alguém tendo um infarto brutal. Ziguezagueando entre pop rock crocante, electro suave e meio obscurozinho, umas batidas de hip-hop e (recentemente) o caos da tal PC Music, a encrenqueira do pop britânico tem mostrado o caos como sua principal característica. Considere então “Boys” o copo de água gelada após a comilança desenfreada de doces. Contando com uma produção estranhamente controlada para o sesu padrões, “Boys” lida muito bem com vazios e barulhinhos de videogame, com Charli cantando numa boa, de forma que combina perfeitamente com a faixa, de estilo mais despojado. Claro que “Boys” vem junto de um clipe já icônico, um dos melhores do ano – mas mesmo que o clipe fosse horrível, a música ainda seria ótima. — Larry Fitzmaurice | OUÇA

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O Japandroids deixou bem claro com Near to the Wild Heart of Life que não queria repetir o rock de festa que lhes rendeu tanto sucesso após Celebration Rock de 2012. Por mais que a dupla canadense tenha raspado o fundo do tacho em termos de epifanias de fim de noite em seus últimos discos, o que faz de seu catálogo tão adorado, eles acabaram agradando aos fãos com esta faixa, cheia de momentos animados e um refrão pra cantar junto. —Dan Ozzi | OUÇA

Ah, 2017: o ano em que um comediante londrino mandou um freestyle sobre casacos e criou um meme tão adorado internacionalmente que acabou saindo via Island Records. Um rap adorado por toda a família, “Man’s Not Hot” apareceu em tudo que é canto, de boates a casamentos até um discurso de Jeremy Corbyn, e infelizmente, num debate na Câmara britânica sobre o orçamento do outono. Há alguma mensagem sobre tamanho absurdo capturar os elementos de escapismo e conectividade que definem o zeitgeist atual, mas na maior parte do tempo é um bom som porque ele fala “bum” várias vezes em cima de um instrumental cabuloso do 67.Emma Garland | OUÇA

Retirada do split do trio de Michigan com os sludgeiros britânicos do Moloch, “Biting the Air” mostra o compromisso do Cloud Rat com o grindcore bruto, deixando ainda espaço para algo de melodia no ar. O sem-fim de lançamentos da banda em 2017 que percorrem os mais variados sons mostram talento para novos sons – do gótico ao riot grrl e noise — mas faixas como esta mostram porque eles continuam como um dos grandes nomes do grindcore. —Kim Kelly | OUÇA

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Curiosidade: Tyler havia oferecido esta música para Nicki Minaj, que recusou. Aparentemente, ela não conseguiu pensar em nada. “Como você ouve uma batida dessas e não pensa em porra nenhuma?” ele disse a Zane Lowe. Não poderíamos concordar mais. — Andrea Domanick | OUÇA

Nada pode te preparar pra como o luto chega com uma voadora no peito e então puxa uma cadeira e resolve ficar por ali mesmo. Neste single, Sampha transforma esta sensação em uma música. Ele fala sobre as lembranças que tem da mãe (falecida por conta de um câncer em 2015) sobre o som de piano, percussão cheia de eco e alguns vocais em camadas de maneira que só podemos imaginar que ajudou a lidar com a sua morte. Não é por acaso que este disco, vencedor do Mercury Prize se chame Process. Sampha lida com a dor, amadurecimento e perda indescritível ao transformar tudo em arte que não pode ser esquecida. — Tshepo Mokoena | OUÇA

Os punks do Material Support dedicam-se à luta contra a repressão estatal, corrupção e patriarcado em meio a riffs insanos, d-beats absurdos e os rugidos ferozes de sua vocalista Jackie. Eles tacam o pau em fascistas, misóginos, burgueses e o Estado como um todo com gosto, ao mesmo tempo que estendem sua solidariedade aos colegas nesta luta. A calma “Know Your Rights” é uma anomalia em seu catálogo, mas talvez seja seu som de maior impacto até então. Em 2017, com ICE nas ruas, com policiais assassinos livres, com o fascismo batendo à porta – o que poderia ser mais importante que uma canção punk que é no fundo um curso sobre direitos levado adiante por uma revolucionária filipina cuspindo fogo? —Kim Kelly | OUÇA

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Na prática budista, há três fatos básicos da existência: impermanência, sofrimento e insubstanciabilidade. Diz-se que ao compreender os três, compreende-se a existência, e com sorte, você se liberta através disso. “If We Were Vampires” trata expressamente da impermanência da vida (“Maybe time running out is a gift”), mas trata o assunto como uma chamada do que tem que ser. Como dito por Isbell, “I’ll work hard ‘til the end of my shift”. — Annalise Domenighini | OUÇA

Conor Oberst há tempos carrega consigo a coroa de rei da molecada triste por conta de seu trabalho inicial com o Bright Eyes na adolescência, mas hoje em dia o rótulo parece menos certeiro com seu amadurecimento na forma de um artista multifacetado. As dores sofridas por Oberst ao longo dos últimos anos, porém, foram o suficiente para colocá-lo numa situação terrível mais uma vez. Enquanto bebia por meses após falsas acusações de estupro, ele se enfurnou em Omaha, sua cidade natal, para compor as canções que culiminariam em Ruminations, de 2016, e então em Salutations, de 2017, um de seus mais pessoais e melhores discos. Por mais que sua voz trêmula o faça soar meio melancólico, em “Barbary Coast (Later)”, ele aparece ainda mais frágil, desamparado, ao cantar “‘Cause once all the friends I had / Have used me up and left / I bet you’ll hang around awhile”. —Dan Ozzi | OUÇA

Maior parte do que há de bom em 4:44 de Jay-Z deriva de sua disposição em se abrir quanto a segredos que mantém de si mesmo e seu público. Mas não vamos nos enganar: nos importamos com o que ele diz por conta de seu dom com as palavras, demonstrado em “Marcy Me,” uma visita ao Brooklyn dos anos 70 e 80 que o criou. Um trecho pegada Broadway de The Dream adiciona nostalgia e versos como “Marcy Me / Streets is my artery, the vein of my existence / I'm the Gotham City heartbeat / I started in lobbies, now parley with Saudis / I'm a Sufi to goofies, I could probably speak Farsi", lhe garantem replays eternos. — Lawrence Burney | OUÇA

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Você já deu duro pra fazer algo, mais do que seus rivais, só pra descobrir que tudo mudou assim que você chegou onde deveria? Ou talvez neste caso, em que tudo estava pronto pro gol e de repente você se viu impedido? É nesse tipo de desgraça que Caroline Spence se inspira em “Softball”. —Annalise Domenighini | OUÇA

St. Vincent é um tanto quanto fatual quando fala de drogas em “Pills”, de Masseducation. A música não diz que as drogas são coisa ruim (ela tomava umas paradas pra dormir), apenas algo que foi necessário em determinado ponto e acabou. Ao metabolizar esta época da vida e transformá-la em música, St. Vincent criou um sonho pop de baixo sintetizado e bateria hiper-ativa, com letras sinistras enterradas num som alegre (“anyway there's a day / and I'll pay it in pain”), mas não pra que tentar moralizar seu conteúdo. A faixa conta ainda com Cara Delevingne, Jenny Lewis, e o sax de Kamasi Washington. É dançante, barulhenta e meio deprê, mas a vida não é assim? —Sarah MacDonald | OUÇA

Qualquer coisa ligada a Shawty Lo já vale o esforço. “T-Shirt” é uma faixa lendária que mostra do que os caras do Migos são capazes individualmente e como entidade. É complicado falar do som sem mencionar seu clipe, que fez da música parecer um evento cinematográfico por si só. A batida aberta de Nard & B deixa espaço para o grupo preencher a faixa com camadas de improvisos e versos espetaculares, de uma forma refinada que só vimos em breves momentos anteriormente (como em “Birds” ou “Finesser”). “Bad and Boujee” foi o que levou os caras ao estrelado, mas “T-Shirt” garante que seus dons artísticos não possam ser negados. —Trey Smith | OUÇA

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O esgoto debaixo das ruas de Londres está cheio escrotidão e excremento líquido, umas paradas marrons engorduradas passando por camisinhas podres e ratos. Um local nojentamente interessante para se estar e a maioria das cidades também contam com um encanamento precário por baixo de tudo que rola na superfície, mas o que elas não tem mesmo é King Krule, um artista de visão única. Em sua banda ou como artista solo, Archy Marshall muitas vezes operou acima do solo, perto da lua, ou então enterrado na terra, perto do leito oceânico. Ainda assim, com “Dum Surfer”, destaque de seu último disco The OOZ, ele emerge de outro local desconhecido — um lugar que poderia ser o esgoto ou o bar horroroso em que ele passou os últimos dias marinando em uma pilha doença e cachaça. Por mais que não seja a música mais obscura do ponto de vista sentimental já lançada por ele, é a mais imunda — um groove lento, fedorento, com cheiro de banheiro de bar de jazz e dedos manchados por nicotina. É esse rumo que a música baseada em guitarras seguirá: fascinantemente desiludida e liderada por um homem que consegue transformar um verso sobre skunk e molho de cebola em um retrato da loucura. —Ryan Bassil | OUÇA

Os melhores artistas são aqueles que se revelam para nós por completo, mesmo quando dói, e quem anda liderando nessa seara é Kendrick Lamar. Sabemos como ele planejou ficar com um de suas primeiras paixões estudantis. Sabemos que ele viu alguém ser morto na sua frente pouco antes de ter idade o bastante pra frequentar a escola. Sabemos que ele ficou longe da maconha porque fumou sem querer um baseado com PCP na adolescência e agora com “FEAR”, sabemos tudo que ele teme desde a infância.

A faixa fala do jovem Kenny, que temia apanhar da mãe, e da adolescência, quando temia perder a vida caso confundido com um membro de gangue. Os medos do Kendrick de 27 anos são mais familiares, porém. As experiências detalhadas da juventude dificultam que ele aceite ter escapado destes traumas, ao menos fisicamente, e então ele questiona se merece tudo que tem hoje “All this money, is God playin' a joke on me?” . Quando compôs “FEAR”, Kendrick sentia que o mundo estava nas suas costas e caso não usasse sua plataforma e riquezas para um bem maior, tudo poderia sumir num piscar de olhos. Ele não é o único a sofrer com tais dilemas, mas nunca temos o privilégio de saber de coisas do tipo com rappers no seu nível, só sabemos do seus pontos mais altos. — Lawrence Burney | OUÇA

“Biking” é uma bela e animada canção, exagerada, simples e complexa. Ela estreou ao final da Blonded Radio 003 de Frank Ocean, pouco após “Futura Free” e toda a gratidão sentida por Frank ao final de Blond(e) é colocada em perspectiva quando JAY-Z aparece aqui: “Life goes in cycles, what comes around goes around / So before it goes down / Nigga, get you some icicles”. Por mais que gostasse de seguir o conselho de JAY-Z, Ocean vê cada momento de alegria e fama em “Biking” como trampolim para a introspecção cósmica.

De certa forma, a precursora de “Biking” aparece em Blond(e). “Solo” é outra mini-crise melódica linda e os paralelos entre os ácidos que ele toma ali podem ser os mesmos que rolam enquanto anda de bike, meio no céu, meio em “Hades”, curtindo o som das rodas enquanto passeia na própria mente. De qualquer forma, temos aqui a empolgação pura e quase incompreensível ao final de “Biking”, em que Frank grita a plenos pulmões e a música se recolhe para baixo dele. Isso já é o bastante vindo do cara cuja música tornou os últimos dois anos toleráveis.— Alex Robert Ross | OUÇA

“LMK” foi a escolha perfeita para abrir o disco de estreia de Kelela, Take Me Apart porque resume tudo que ela, estudante dos mais variados gêneros, faz tão bem. Ao misturar diferentes formatos — um pulsar letárgico meio house por baixo de uma melodia R&B meticulosa – ela cria uma aquarela aural vívida que soa terapêutica, elétrica e unicamente sua. É com este pano de fundo que “LMK”, um conto sobre duas pessoas trocando olhares numa boate lotada, se desdobra. Em outras mãos, seria uma narrativa manjada, mas com Kelela, a coisa muda de figura, assumindo uma mágica toda sua, única no cenário musical de 2017: nada soa tão contagiante, inteligente e estiloso quanto este som há tempos. — Lauren O’Neill | OUÇA

“Mask Off”, do disco autointitulado de Future, um dos melhores projetos de Nayvadius, é um exemplo perfeito de porque a estrela de Atlanta continua se destacando à frente do cenário rap atual. A produção de Metro Boomin — com o melhor uso de flauta da história do gênero (quem imaginaria ler algo assim este ano?) — é brilhante e foda como sempre, mas há algo de progressivo na forma como Future ruge ao longo da batida. Em termos líricos, o rapper aborda temas já esperados — drogas, depressão, drogas para combater a depressão — mas a força com que repete as palavras “Percocets, Molly, Percocets” faz com que o refrão mais pareça um mantra, lidando com os demônios que o assombram pela noite enquanto se odeia por querer viver a noite mais uma vez. Future sempre criou verdadeiros hinos sobre dor, mas a natureza introspectiva de “Mask Off” faz deste um dos melhores e mais expressivos momentos de sua prolífica carreira. — Eric Sundermann | OUÇA

Com um som de guitarra quase que extático, um trecho de banjo afiadíssimo e uma rabeca que se prolonga ao longo da faixa, o single do sétimo disco de Alex Giannascoli, Rocket, é mesmo uma canção country — fato muito discutido em seu lançamento. Em retrospecto, talvez não fosse necessário. Há anos o cara fala sobre como Lucinda Williams é sua compositora favorita e em Race, de 2010, composto quando ele ainda era um adolescente, ele já experimentava com esse tipo de coisa. De qualquer forma, a disposição de Giannascoli em brincar com diferentes gêneros sempre fez parte de seu apelo — em Rocket ele passa pelo rock dos anos 90, R&B cheio de autotune e um bizarro experimento que só pode ser descrito como rap industrial.

O charme de “Bobby”, como muitos dos experimentos do artista, está em suas idiossincrasias, nas formas como ele inverte como os sons funcionam. É possível ouvir isso a cada trecho — como a parte do banjo que nunca chega a uma conclusão, a forma como o violino aparece na distância, a poeira levantada pela guitarra em torno das vozes de Giannascoli e Emily Yacina, sua parceira frequente. Isso tudo deixa a faixa com um tom sinistro subjacente, dando a entender que por trás da letra sobre largar alguém por outra pessoa — tema comum do country — há algo a mais. Giannascoli chega a esse ponto no verso final, em que o narrador fica perdidamente doente de amor, um coração ferido que leva a uma promessa desconfortante: “I’d burn them for you / If you want me to”. A faixa fecha com um instrumental limpinho, cada parte chegando ao seu fim como se tudo tivesse dado certo nesta tortíssima canção de amor. Mas nós sabemos que não é bem assim.— Colin Joyce | OUÇA

Em “Drew Barrymore”, SZA dá o papo reto: vergonha, falta de valor, isolamento — aquilo que todos acreditamos que deveríamos esconder. Nesse sentido, talvez não haja hino que melhor represente ser mulher — ou qualquer outra pessoa marginalizada — em 2017. A faixa, inspirada pelo amor de SZA pelos papéis de azarona de Drew Barrymore em filmes dos anos 90 é uma verdadeira ode a chegar em segundo lugar, ser sempre a outra, e por fim, perceber que estas barreiras são criações de sua cabeça. O que não quer dizer que quem possibilite este tipo de coisa saia numa boa. SZA é implacável com o tema da faixa assim como é consigo mesma, uma dicotomia ecoada nas rimas da música e a dor de seus refrões. Enquanto isso, ela deixa suas fraquezas à mostra:

“I get so lonely, I forget what I'm worth / We get so lonely, we pretend that this works”, canta, mostrando a dor de estar num relacionamento que sabe que é tóxico, mas que não consegue largar. O lance é que nada disso é fraqueza se você as assume, certo? Força, ela nos mostra, tem menos a ver com ser durona e mais com não mostrar arrependimento. —Andrea Domanick | OUÇA

Se você não gritou junto com o “Cardi” que abre essa música ao menos uma vez, então seu ano foi vazio de dar dó. Cardi B, porém, teve um puta 2017. Sua mixtape Gangsta Bitch Music Vol. 2 saiu em janeiro, mas a canção que a definiu nem estava ali. “Bodak Yellow”, por sua vez, se segura por conta própria, um hino inspirado em Kodak Black, de voz seca e cheio de chimbais, um hino para traçar seu próprio destino e lembrar a todos de tudo que você conquistou, em alto e bom som. É a manifestação musical de dizer, com firmeza “não me toque ou fale comigo sem permissão” e é quase perfeita.

Cardi deu às mulheres, especialmente às mulheres negras, uma música para que se prendam em um ano que mostrou ainda mais como a sociedade as trata como merda. Tem todo um jeitinho que o lábio de uma mulher se move quando ela manda um “lil bitch”, com toda a ameaçadora elegância de uma longa unha em acrílico. É o som de saltos agulha batendo na pista, de um rabo de cavalo se movendo, ou de uma alça de blusinha batendo numa clavícula.

Cardi faz de seu nome um grito de guerra. Sim, sua história é a de uma stripper que virou estrela de reality show e então chegou ao Hot 100 da Billboard e finalmente uma artista premiada. Ainda assim, ela te convida a celebrar suas proezas sexuais, seus potenciais, sua atitude de não levar desaforo pra casa. Nos espaços que sobram nesta produção esparsa, você pode inserir sua narrativa também.— Tshepo Mokoena | OUÇA

Tem sons que te fazem dançar. Outros, te fazem pensar sobre o mundo de uma maneira inédita até então. Mas nem todos conseguem te fazer sentir. Esta é uma qualidade reservada aos excepcionais, e “Crew”, do GoldLink é um desses. Pra começo de conversa, o maior single do rapper até então fala sobre como não tem preço ser você mesmo e como ter essa confiança é um indício de como você vive, e como as pessoas começam a te tratar diferente quando sacam isso. Logo, pela lei da atração, não é de se admirar que essa faixa tenha bombado esse ano: ela faz todo mundo se sentir bem.

Um verso suavão, com pegada 90s de Brent Faiyaz, é a base de tudo. Os versos de Link dão o tom, com pausas calculadas entre um e outro. A lenda do rap de Washington Shy Glizzy vai além, o mais empolgado que já esteve em um bom tempo. “Crew” se dá muito bem no som, mas ajuda também a firmar a bandeira de DMV na cena do rap, indo além de limites regionais.— Lawrence Burney | OUÇA

“Are you alright?”

Lil Uzi Vert pergunta no começo de “XO Tour Llif3”, e por mais que diga estar bem, ele prova seguidas vezes que não.

Não é apenas clichê falar que “XO Tour Llif3” é uma falha na fachada de baladeiro de Uzi, é também um erro. O catálogo todo do cara é cheio de brechas, sendo esta a mais profunda. O bicho é destrutivo: tomando Xanax, estourando racks com Phantom e talaricando geral numa farra que não parece ter fim. Pouco após a infame letra “SHE SAY I’M INSANE YEAH / I MIGHT BLOW MY BRAIN OUT”, Uzi chega com uma profunda percepção sobre vícios e saúde mental, “I'm committed, not addicted, but it keep control of me / All the pain, now I can't feel it”. O cara escolheu manter a miséria à distância com drogas, ele vai continuar nessa e se sente ótimo.

O ouvinte pode não concordar com isso, mas é complicado não curtir o som em si. “XO Tour Llif3” tem picos e vales dramáticos em sua duração, em três atos. Seu apelo às massas, unindo frequentadores de casas noturnas e ex-emos, é resultado da liga que o constrói. Não dá pra saber onde acaba o hip hop e começa o rock. “XO Tour Llif3” é o ano de 2017. É um pedido por socorro que bate forte, o chicote estrala. É niilista, é o futuro. É uma música que celebra a morte e está cheia de vida. No contexto de um ano único para música, isto aqui acabar se tornando um hit não poderia ser um resumo mais inspirador de tudo que rolou.

Então perguntamos mais uma vez: em dezembro de 2017, você está bem? Talvez você diga que não e eu diga que talvez, mas mesmo considerando todas as tretas do mundo, ninguém nunca está lá muito bem mesmo. Mas você ainda vive. Crises existenciais não são novidade neste ano, então o melhor é seguir em frente. Músicas perfeitas e que englobem tudo como “XO Tour Llif3” são só mais um motivo para tanto. Quem liga se você chorar? — Phil Witmer | OUÇA

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