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Música

A Kafundó Liberou sua Segunda Coletânea Brasileira de Bass

A label comandada pelo alemão-brasileiro Wolfram Lange reuniu nessa coletânea nomes como Mauro Telefunksoul, Lurdez da Luz, ÀTTØØXXÁ, DJ Dolores e mais.

Estereótipos fáceis não se dão muito bem com Kafundó, um novo selo voltado para batidas brasileiras cheias de graves. Sua primeira compilação, lançada em meio ao fuzuê da Copa do Mundo, no ano passado, reunia uma sonoridade muito distante dos vocais aveludados de bossa nova amados por turistas e ainda mais pelo Starbucks. "A Kafundó é motivada por ganja e gamão", diz Maga Bo, o DJ/produtor note-americano que toca o selo junto do Wolfram Lange, o gênio alemão por trás do blog SoundGoods. Ambos são gringos, mas moram no Rio de Janeiro há mais de uma década, tocam um programa na rádio e estão tão inseridos que até tocam percussão em uma escola de samba da região. "Buscamos pessoas que não só estão metendo um sample de berimbau em cima de uma batida de house".

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Agora de volta com sua segunda compilação - que pode ser ouvida acima - a dupla espera revelar nomes da música eletrônica brasileira que vão além do Rio e de São Paulo - a própria palavra 'kafundó' já dá conta dessa proposta. Eles descrevem o sumo do selo como "música eletrônica afro-brasileira com elementos regionais ou folclóricos".

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Em "Ajéumba$$," um dos destaques de Kafundó Vol. 2, Mauro Telefunksoul homenageia o Cortejo Afro, um grupo negro clássico do Carnaval de Salvador, com instrumentos de sopro. A polinização cultural cruzada segue com a contagiante "Ainda Dapadá", onde FurmigaDub remixa o suave canto de coco de uma senhora pernambucana de meia-idade na forma de uma pedrada dubstep. "Rap na Palma da Mão" do Gaspar Z'Africa Brasil é outra faixa de destaque que mostra o tom improvisado das batalhas líricas nas empoeiradas cidades do nordeste brasileiro antes mesmo do surgimento do rap do sul do Bronx.

A coisa toda funciona melhor quando o gancho não é só a textura, mas o coração do som. "Queremos trabalhar dentro destas células rítmicas afro-brasileiras", diz Bo. "Com o trap, por exemplo, conseguimos encontra uma ou outra pérola, mas é um puta desafio integrar ritmos afro-brasileiros na estrutura do trap".

Bo e Lange citam o selo de Buenos Aires ZZK como inspiração, tendo em vista como este pode servir de plataforma para a cena da cumbia digital argentina. Trabalhando em uma parceria de distribuição horizontal com a Dutty Artz, de Nova York, e oferecendo uma generosa porcentagem de 50% aos artistas, eles esperam fazer o mesmo pela dance music do país em que escolheram viver no mercado internacional. "Estamos envolvidos com a comunidade musical brasileira e conhecemos grande parte destes indivíduos pessoalmente", explica Bo. "Trabalhamos ou tocamos com eles, temos alguma história com eles. No futuro gostaríamos de inspirar outros a produzirem e lançarem seu material exclusivamente conosco". Para os amantes de graves com jeitinho brasileiro, Kafundó não é um lugar afastado - mas um maravilhoso novo lar.

Tradução: Thiago "Índio" Silva