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Um cientista de Harvard está estudando as fezes de atletas de elite

Quando algo realmente nos interessa, às vezes precisamos meter a mão na massa.

Ao longo de duas semanas, Jonathan Scheiman passou cinco horas diárias dirigindo por Boston, nos Estados Unidos, para recolher amostras de fezes de participantes da maratona da cidade.

"Enfiei um bando de caixas de isopor cheias de gelo seco no porta-malas", diz Scheiman, um pós-doutorando em medicina biomolecular da Universidade de Harvard. "Depois peguei as amostras, rotulei elas e voltei para Harvard, onde elas seriam armazenadas."

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O objetivo da pesquisa de Scheiman é descobrir que segredos as tripas de atletas de elite escondem. Ele recolheu amostras de fezes de corredores e remadores a fim de estudar a flora intestinal deles, com foco especial nas bactérias responsáveis pela resistência e metabolismo acelerado que permitem que esses atletas pratiquem esportes de alta performance. O objetivo é desenvolver e comercializar suplementos probióticos que melhorem o desempenho atlético e o tempo de recuperação de esportistas.

A coleta foi feita em duas etapas: antes e depois da Maratona de Boston. Isso permitiu que sua equipe comparasse as fezes evacuadas durante os preparativos para o grande evento com aquelas excretadas depois dele. Scheiman afirma que, após a maratona, sua equipe constatou o aumento de um tipo de bactéria que quebra o ácido lático. Durante atividades intensas, o corpo produz mais ácido lático, que pode causar fadiga e dor muscular. O pesquisador diz ser possível criar um produto que aumente a resistência física por meio do isolamento da bactéria encontrada na flora intestinal desses maratonistas.

Durante a pesquisa, as fezes dos maratonistas foram comparadas às de remadores em treinamento para as Olimpíadas. As fezes dos maratonistas — mas não as dos remadores — continham um tipo de bactéria que facilita a quebra de carboidratos e fibras (processos que, segundo Scheiman, são mais importantes para corredores). Scheiman está atualmente testando versões isoladas dessa bactéria em ratos.

Para recrutar atletas, Scheiman usou panfletos, indicações e abordagens em áreas de treinamento. "Eu não começava a conversa dizendo 'posso pegar uma amostra das suas fezes?'" diz Scheiman. "Eu chegava falando 'meu nome é Jon Scheiman e sou pesquisador da Faculdade de Medicina de Harvard'". Claro.

Depois de alguns minutos de conversa, os atletas concordavam em pegar um kit de coleta e seu número. "Os atletas estão sempre em busca de algo que melhore seu desempenho e tempo de recuperação", diz Scheiman, que já sonhou em jogar na NBA. "Eles se interessam muito por ciência. Podemos ver isso na popularidade de projetos de monitoramento de atividades fisiológicas como o 'quantified self ', por exemplo".

Ele também resistiu ao impulso que muitos pós-doutorandos em seu lugar teriam: o de obrigar pobres mestrandos a coletar as amostras e, ainda pior, passar dias no trânsito caótico de Boston. "Quando algo realmente nos interessa, às vezes precisamos meter a mão na massa", resume.

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