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Milhões de Festa

Os heróis anónimos do Milhões

Depois, quando formos velhos, eu vou ao teu funeral.

Meu, parece que "vibe" é um insulto na Nova Zelândia! Quando morreres, pelo menos metade das pessoas que aqui estão vão estar no teu funeral. Se queres que elas estejam a chorar tens de as conhecer um bocado melhor. E no segundo dia houve muita gente a trabalhar para isso. O Milhões de Festa também é feito de heróis anónimos. Não estou a falar dos que se assumem logo, tipo staff, organização e bandas. Há heróis que dão a pele à criação de situações mágicas que ajudam a tornar o festival memorável para quem estiver disposto a criar recordações. Quando alguém estiver no máximo do seu carpe diem, não gozes: o idiota és tu. Ele só está a viver a vida como um gajo que descobre que vai morrer dentro de meses. Olhem o miúdo que estava a dançar em (com?) BRO-X. Ele não quis saber, é um gajo que não precisou de convites directos para subir ao palco. Também não esperou que outros fossem primeiro. O Rodrigo, o tal dançarino, foi o herói da piscina no dia de ontem. Deve ter tido a mesma infância do Obélix, só que, em vez de ter caído num caldeirão com uma poção mágica que dá força, deve ter caído dentro de um caldeirão com cenas para dançar. Toda a gente ficou surpreendida com os BRO-X. Uma banda meio na tanga que faz um disco com 16 músicas sem o Jaimão é de valor. Foi uma experiência diferente por estarmos num festival e não num bar, mas, como de costume, toda a gente ficou maluca com os manos de Xangai City. O Rodrigo estava imparável, até mergulhou todo vestido para a piscina e continuou a dançar. E ele não manda cenas, nem quero pensar como seria a versão dele nas drogas. A noite foi de bandas e de conversas incríveis. Como daquela vez que fui falar com um gajo por ter uma pinta interessante, um tipo loiro e esquisito que afinal era o Connan Mockasin. Ficou meio ofendido por eu lhe ter dito que tinha curtido a vibe do concerto. Se calhar isso é uma asneira na Nova Zelândia. Qual é o mal de curtir o vibe? Será que ele pensou que eu tinha dito DJ Vibe? Não sei. Ontem fiz dois amigos. O João, um gajo maluco (nome fictício) e um inglês, o Ed (nome verdadeiro), amigo do XXXY. Quando eles foram tocar já eu tinha estado a beber uns valentes copos com eles. O João tinha uma energia altamente, mas o lado negro da coisa ainda lhe ia causar estragos: acabou por se perder pelo recinto e depois foi expulso. Talvez não tenha sido pior, já era tarde e ele estava necessitado do descanso. Quando o amigo do Ed foi tocar, aconteceu magia porque ele resolveu falar ao microfone e foi o melhor MC improvisado do dia. O gajo nunca tinha pegado num microfone nem para o karaoke, mas subiu ao palco e, em conjunto com a música house do amigo, criou um momento. “I was born a natural, mate”, disse-me ele depois. Aproveita estes exemplos. Pode parecer palerma, mas, para além dos concertos altamente, são estas merdas que fazem um gajo ficar com saudades e voltar para o ano. Tens de ser muito Rodrigo (mas só um pouco João, por favor). Tu tens de ser o próximo herói, vais ficar para a história do Milhões. Depois, quando formos velhos, eu vou ao teu funeral. Ou tu ao meu. Fotografia por José Ferreira