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Tecnologia

O Meme que Derrubaria o Estado Islâmico

Um personagem de anime não teve lá muito sucesso para frear a popularidade do movimento extremista. Mas até que é legal, vai.
Olha a ISIS-Chan aí. Crédito: Anônimo (caso você seja o responsável, entre em contato)

Todo mundo sabe que o Estado Islâmico (ISIS, na sigla mais adequada) tem forte presença na internet. O Departamento de Estado dos EUA chegou até a divulgar uma avaliação interna que concluiu que a organização é tão presente na rede que o país não tinha como rebatê-la de forma eficaz.

Mas e o meme ISIS-Chan? Será que pode fazer algo?

ISIS-Chan é uma típica mina dos animes: tem cabelos verdes, olhos grandes e quer convencer homens e mulheres do Estado Islâmico a trocar seus facões por faquinhas de comer melão.

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A personagem surgiu após dois cidadãos japoneses (Haruna Yukawa e Kenji Goto) terem sido executados pelo Estado Islâmico, de acordo com o (a) porta-voz da ISIS-Chan, @ISISvipper.

Dias após a morte de Yukawa e Goto, dezenas de artistas fizeram desenhos de ISIS-Chan e postaram nas redes sociais com a hashtag #ISIS. A comunidade cresceu aos poucos, motivada pela atenção conquistada ao redor do mundo por meio da cobertura de veículos como CNN, Buzzfeed e Daily Mail.

ISIS-Chan teria que crescer "muitas magnitudes" para fazer algum dano

Apesar de toda a atenção, os memes com ISIS-Chan nunca deram muito certo. O movimento é muito pequeno se comparado à máquina do Estado Islâmico. A hashtag #ISISchan foi postada no Twitter apenas cerca de 7.000 vezes entre 9 de agosto e 10 de setembro; quase nada comparado aos 697.000 usos de #ISIS na mesma época.

E isso só no Twitter. De acordo com Emerson Brooking, pesquisador residente em Washington, nos Estados Unidos, a máquina de propaganda do ISIS é maior que o próprio Twitter.

"O Estado Islâmico não conta só com mais que uma dezena de hubs de propaganda, uma vasta rede de sites e por volta de 50.000 contas no Twitter; ele ainda gera manchetes todos os dias em alguns dos maiores veículos de mídia do mundo", afirmou.

Brooking citou uma pesquisa do Terrorism Research Initiative que registrou que, durante uma semana inteira, os releases do Estado Islâmico na mídia chegavam a 123.

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Se a ISIS-Chan quer mesmo lutar contra a comunicação do ISIS com sucesso, terá que crescer "muitas magnitudes" para fazer algum dano, disse.

ISIS-Chan é aquilo que os japoneses chamam de "gijinka", a personificação de um objeto ou comunidade em especial. No passado, as gijinkas foram usadas para zombar ou representar comunidades ou interesses específicos. Um exemplo controverso foi a Ebola-Chan de 2014, uma enfermeira estilo anime vestida de rosa que segurava um crânio e usava penteado na forma do vírus Ebola.

A Ebola-Chan foi criada pelo site encrenqueiro 4Chan como uma forma de se divertir e ofender geral. Porém, as duas gijinkas contrastam entre si. Ao passo em que Ebola-Chan foi criada para ofender, ISIS-Chan é o que se chama de "meme armado".

De acordo com o Tumblr de ISIS-Chan, ela é uma "personagem criada para atrapalhar a propaganda do Estado Islâmico por meio do Google bombing". A prática do Google bombing, cujo objetivo é dominar os resultados de pesquisa por termos específicos a fim de disseminar uma mensagem, tem sido usada para distorcer e encerrar comunicações em uma série de comunidades.

Agora, meses depois do surgimento de ISIS-Chan, não parece que isso vai acontecer. Mas há algumas pessoas que veem a ISIS-Chan como algo positivo. Joel Penney, professor de comunicação da Universidade Estadual de Montclair, acredita que por mais que ISIS-Chan não tenha afetado o Estado Islâmico e suas comunicações, seu maior benefício é para quem vai contra a organização extremista.

"A ISIS-Chan funciona como propaganda", disse. "Não se trata de mudar a cabeça do oponente, e sim inspirar pessoas que já concordam com você."

Brooking crê em algo semelhante. "Iniciativas como ISIS-Chan representam uma oportunidade para aqueles que estão distantes, que não poderiam fazer nada, fazerem 'algo'. Não importa quão pequeno seja", disse. "E não tem nada de errado nisso."

Tradução: Thiago "Índio" Silva