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Música

Baixe uma Faixa do EP de Estreia do Carioca Sexworker

O jovem produtor, que mora na Irlanda há três anos, chega recheado de influências do UK bass, techno e grime.

Muito se discute sobre a eficácia do Soundcloud em projetar novos produtores e selos de música eletrônica devido às novas políticas de copyright do serviço – que permitem que contas inteiras sejam apagadas de uma hora para a outra – e um péssimo (leia-se interesseiro) algoritmo de sugestão de músicas relacionadas, sem falar no sistema que já está ficando chato de curtir-o-que-os-meus-seguidos-curtem. Mas é aí que o fator humano entra, limpando a chatice da internet: se um serviço não mais funciona como deveria, vamos encontrar outro jeito de ser visto e lido. Recentemente falei com amigos e produtores que afirmam nunca lerem as mensagens que recebem pelo Soundcloud, porque "não parecem sérias o suficiente, ou na maioria das vezes são puro spam". Mas foi através da paciência e curiosidade em ler essas mensagens que descobri o trabalho do produtor Sexworker.

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Na verdade foi ele quem me encontrou. Nicholas Amaral, 19 é um carioca que há três anos mora na Irlanda. Tendo começado a produzir há apenas um ano e meio, ele acaba de lançar seu primeiro EP Untitled pelo selo independente First Second. Fã confesso da Night Slugs, seu som é um híbrido de techno e house cheio de vigor e texturas soturnas, que ele prefere chamar apenas de UK bass. Trocamos uns e-mails para falar sobre a cena na cidade de Cork, como era a vida no Brasil, e da vez em que sua música foi tocada em uma festa enquanto o enigmático SOPHIE balançava a cabeça e montava seu equipamento.

O EP Untitled está disponível em formato digital para streaming e compra na página da First Second no Bandcamp, e você pode baixar a faixa "Driller" gratuitamente no player abaixo.

THUMP: Oi Nicholas, onde você está morando agora? Quando saiu do Rio?
Nicholas Amaral: Saí do Rio há três anos atrás com a minha mãe e vim morar na pacata cidade de Cork, na Irlanda. Isso foi muito positivo por que o sistema escolar do Brasil é injusto, então aos 16 anos eu tive a oportunidade de escolher as matérias que eu queria estudar :).

E com quem você mora por aí?
Moro com meus amigos e produtores Dawn Wyatt e ShySon, os dois me obrigam a produzir de um jeito meio competitivo, mas bem saudável.

O que lembra da vida aqui? Você ainda vem visitar?
Da época que eu morava aí, eu só lembro do caos (que eu amo) e de não me sentir seguro saindo na rua sozinho. Eu vou a cada seis meses, sempre com o foco de relaxar por algumas semanas, mas sempre acabo falhando por causa de dois caras chamados Azevedo e Raphael, que conseguem festejar quase diariamente.

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Você troca ideia ou música com alguém daqui?
Não muito, até agora o meu único contato é o escritor e amigo Romulo Moraes, mas até ele não tem todo o contexto do tamanho desse som do Reino Unido que vem tomando conta do mundo. Eu gosto de generalizar e chamar de UK bass, mas sei que a variedade musical faz com que seja difícil lhe dar um nome.

E o que sabe da cena eletrônica daqui?
Venho descobrindo nos últimos dois anos que o Brasil tem uma cena experimental forte com as iniciativas do Chico Dub e etc. Também acompanho pelo Facebook a galera de peso que a Wobble têm levado pro Rio. Quase adiei minha passagem quando ouvi que o Rashad ia tocar duas semanas depois que eu teria voltado. Eu sei que o Rio tem muito potencial pra ser uma meca da música eletrônica, porque a galera tem um interesse no experimental mas sem perder o senso de diversão.

Pra onde você sai aí para ouvir música?
No começo era um lugar chamado Nancy Spains, um pub completamente deprivado de leis onde até maconha rolava dentro do lugar. Mas como tudo que é bom acaba, eles tiveram a licença revogada uma semana antes do meu primeiro show. Além disso, existe esse outro lugar muito menos ilegal onde eu pude ver Blawan, BADBADNOTGOOD e SOPHIE.

Conta mais da festa que você foi do SOPHIE. O que acha dele?
Sophie está a frente de uma cena que tem muito potencial, é um pop futurista. Devo começar dizendo que sim, muitos dos homens presentes na festa pareciam ser gays, sei disso por causa de quão bem eles sabiam dançar e também o jeito em que todas as garotas estavam notavelmente desacompanhadas ;). Em termos musicais, o set do SOPHIE foi como ir à uma aula, eu sei agora que existe um senso de experimentalismo vibrante nesse pop distorcido.

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Quem que tocou a sua música? Já conhecia antes?
Daire Carolan, ele trabalha no meu selo e tem me dado muito apoio nos últimos meses. Ele pulou em frente do SOPHIE e tocou a minha faixa "Driller" pra fechar seu set. Ver o SOPHIE balançando a cabeça enquanto montava seu equipamento foi bem gratificante. Daire vai abrir para o Shackleton nesta sexta (20), vai ser pesado.

Você é DJ também?
Sou DJ sim e todo dia que passa eu aprendo mais sobre como isso é uma forma de arte. Eu comecei tentando empurrar um som mais club, experimental e híbrido que tem tomado conta da cena underground daqui, mas tive meus olhos abertos recentemente para a nova face do pop. Existe um grupo de pessoas que têm reimaginado o que nós conhecemos como pop e eu estou completamente fascinado por esse novo som.

E você anda ou conhece outros produtores daí?
Eu consegui me cercar de produtores aqui. Todos eles tinham conceitos iniciais de produzir drum'n'bass ou dubstep, mas através da nossa festa VOID todos têm caminhado em direção à um som mais híbrido e experimental. Alguns nomes relevantes aqui sao Dawn Wyatt, Shyson, Execlipse, Romeo:Butcher e Meijis.

Quando começou a fazer música?
Há um ano e meio atrás, quando ganhei um laptop no meu aniversario de 18 anos. A minha primeira faixa foi feita naquele mesmo dia. Acho que estava ouvindo trap na época e tentei fazer um remix meio trap do Merzbow.

Qual a ideia por trás do nome Sexworker?
No começo era só uma piada, mas sabendo que muitos ainda vão me perguntar isso, eu acho que é porque aqui ninguém sabe o que isso significa pra mim. Se eu falo que meu nome é Sexworker, as pessoas acham engraçado, mas na verdade o nome vem de quando eu morava aí no Rio, andando de carro na Avenida Atlântica à noite olhando pela janela e vendo prostitutas numa cena decadente, digna de uma faixa do Burial. Na minha mente esse nome tem uma conotação melancólica.

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Desde quando está trabalhando no EP?
Me pediram o EP quando eu tinha acabado de sair da casa da minha mãe, essa nova independência claramente foi seguida por alguns meses de festas que não acabavam. Eu demorei três meses para fazer o EP, sendo que dois foram de pura procrastinação e a maioria das faixas foram feitas em duas semanas, quando eu finalmente decidi me focar. A faixa "Tn Spts" foi feita em uma noite, inicialmente obrigado a trabalhar nela por meu amigo Execlipse.

Quem é o Execlipse? Como se conheceram?
Ele é um amigo da rua mesmo. Ele é um ano mais novo que eu e, além de ser um bom produtor, também toca vários instrumentos como tantos irlandeses. No caso dessa faixa, ele me obrigou a trabalhar nela com ele em troca de cerveja. Depois de uma hora e meia dava pra ver que nossos conhecimentos se complementavam, e a faixa foi feita em 4 ou 5 horas naquela mesma noite.

Como foi o processo de gravação?
A minha fórmula preferida é começar com headphones ao lado da minha namorada depois dela ter ido dormir. As ideias ainda são bem pessoais no começo, não gosto que ninguém mais as ouça. No dia seguinte eu tento fazer com que as coisas façam mais sentido nos meus monitores KRK. Definitivamente monitores de home studio são a coisa mais essencial que um produtor amador pode ter.

E porque escolheu a "Driller" para essa estreia?
Driller foi a faixa mais inspirada pelo som do Reino Unido no EP. O grime tem renascido das cinzas nos últimos dois anos por visionários como o selo Her Records e DJs como Visionist. As faixas "Driller" e "Missed Call" são dedicadas a esse gênero.

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O que você curte ouvir quando não está ouvindo música eletrônica?
Jazz, especialmente Charles Mingus e Alice Coltrane.

Que artistas ou cenas você tem acompanhado e que deixaram você louco?
Eu sou fanático pelo selo Night Slugs. O que eles fazem vai muito além da cena eletrônica contemporânea, existe um conceito por trás de todo o material que eles produzem. Eu tive a oportunidade de ir no lendário clube Fabric no meu aniversário de 19 anos e ver alguns produtores muito grandes nessa cena como o Bok Bok, L-vis 1990, French Fries e NS DOS.

Um livro ou filme que te inspira?
Enter the Void, sempre.

Pretende fazer vídeos ou algo visual?
Meu ano letivo vai começar agora e será completamente dedicado ao 3D. Pretendo trabalhar arduamente para aprender como se modelar um golfinho de prata ou talvez uma estátua de granito com líquidos neons jorrando de seus olhos.

FPS, 3RD ou RPG?
Dark Souls.

Drogas ou nah?
Molly.