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Música

Pelo Amor da Esquisitice: Por Que o 'The Noise Made By People' do Broadcast Continua Sendo Vital

O disco continua sendo tudo o que a Warp representa: o outsider que é tendência, descaradamente diferente e ainda assim familiar.

Eu quase posso apontar o exato momento em que aconteceu o amor entre o Broadcast e eu. Foi entre apertar play em "Tender Buttons" e ver a Trish Keenan arrebatar o público no All Tomorrow's Parties do Matt Groening. Esse show aconteceu dez anos depois do lançamento do álbum de estreia deles, The Noise Made By People. Eu me lembro vagamente de tentar manter o controle, enquanto a quarta raspadinha de gin lentamente derretia em minha mão e os excessos do fim de semana começavam. Enquanto eu juntava as memórias de um fim de semana cheio de performances nos dias nebulosos que se seguiram, percebi que o Broadcast tinha sido um dos especiais. E eu queria muito entender por quê.

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A estagnação asmática daquelas canções maquinais acabaram incorporando tudo o que eu ainda não conseguia explicar sobre a Warp Records: como pode a estranheza ser criada a partir de cálculo e como estruturas recicladas podem soar tão vívidas? É a coisa que mais me mantém ligado em música, é sério. O fato de haver pessoas fazendo isso por amor à esquisitice. Este costume – vamos chamar isso de uma paixão pelo incomum – é a variável que torna suportável o fato de que o Kid Rock ganhou mais dinheiro do que qualquer um na Warp provavelmente (e infelizmente) jamais ganhará.

Algumas semanas depois de voltarmos daquele show no Butlin's, eu dei de cara com uma cópia em CD do The Noise Made By People. Além de ser a primeira vez em que eu ouviria o material mais antigo do Broadcast, era também a primeira vez em que eu me dei conta de que eles tinham feito da Warp a casa deles. Fiquei perplexo quando vi o logo na contracapa. As únicas coisas da Warp que eu conhecia na época eram o Aphex Twin e o LFO – e eu ouvira falar que eles tinham contratado uma banda da minha cidade, Bristol, chamada Gravenhurst – mas tirando isso eles ainda eram os caras que tinham feito fama lançando todos aqueles artistas da inteligente dance music esquisita.

Aqui estava uma banda, daquela agitada cidade industrial de Birmingham, que estava fazendo um som lo-fi nebuloso que era ao mesmo tempo nauseantemente cool e completamente tenso. O Broadcast era – nas letras labirínticas da Keenan, no trabalho evolutivo de synths de Roj Stevens e nas linhas de baixo difusas e barrocas de James Cargill – uma banda muito inteligente. O The Noise Made By People é um disco robótico, pensativo, que fica entre o post-rock e o pop com a maior facilidade, misteriosamente lançando torrentes de emoção com faixas compostas de maquinaria.

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Mais tarde eu fiquei sabendo que a Warp tinha lançado uma compilação das sobras antigas do Broadcast, Work and Non Work, assim como o Aluminum Tapes do Stereolab e algum material antigo do Red Snapper também. Sabendo disso, a coisa começou a fazer sentido. Os seres humanos tendem a torcer para o azarão, e isso é parte do que fez da Warp o animal resistente que ela se tornou: um portal para pessoas normais como eu descobrirem músicas esquisitas que desafiam e confundem, mas sem isolá-las. O The Noise Made By People continua sendo tudo o que a Warp representa: o outsider que é tendência, descaradamente diferente e ainda assim familiar.

De onde eu vejo, o The Noise Made By People também foi um ponto de inflexão para a Warp. Ele marcou o início de uma abordagem mais sutil à sua crescente política de contratação eclética e pavimentou o caminho para uma grande quantidade de lançamentos que definiriam a história moderna da música experimental acessível. O primeiro single – a vivaz e de estilo lounge "Come On, Let's Go" era seguido por "Echo's Answer", uma sombria balada-sem-beats que gorjeia e oscila sob os vocais suaves de Keenan.

Não era um hit. Nunca entrou nas paradas, e não fazia sentido como single. Ainda assimem sua simplicidade e moderação faz dele um trabalho em andamento que nunca quis ser nada mais do que isso. O Broadcast não estava lutando pelo mainstream porque eles não estavam afim. Seja como a pulsante banda de pop suave ou como os kraut-rockers dente-de-serra, eles permaneceram fiéis ao próprio ethos e também ao ethos da Warp: ampliar os limites e ao mesmo tempo permanecer inerentemente audíveis.

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Em muitos aspectos o Broadcast era o antítoto para o lustroso e descontraído cintilar do Moloko e as trilhas sonoras de jantar chic/mala do Zero 7. Eles gritavam moderação sem arrogância, mantendo-se resolutamente calorosos – auxiliados por sintetizadores trêmulos, sussurros de theremin e notas de Mellotron – naturais o tempo todo. Eles também precederam muitos dos Moloko's e Zero 7's desse mundo, o que diz muito sobre o espaço ocupado por eles e pela Warp na música. Esta é a filosofia que assegurou o legado desse álbum, mesmo após o trágico e precoce falecimento de Keenan.

Apropriadamente, o Broadcast não é mais a mesma banda. Nem poderia ser. O legado deles sobrevive na trilha sonora de Berberian Soung Studio, e de certa forma através do selo ao qual eles permaneceram leais ao longo da maior parte de sua carreira. Tenho certeza de que essa lealdade tem tudo a ver com o comprometimento da Warp com a liberdade artística e com o apoio ao tipo de música que interesse a eles, seja qual for o gênero. Em sua recusa mútua e completa em cooperar com o mainstream, nem a Warp nem o Broadcast demonstraram vontade de ser compreendidos. Com tímpanos abalados, distorção reconfortante e sentimentos suaves, muitas vezes tolos, O The Noise Made By People é um disco que incorpora tudo o que eu amo na Warp: essa intocável alteridade.

Você pode seguir o Billy Black no Twitter aqui: @billybillyblack

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