FYI.

This story is over 5 years old.

Skate

Como os skatistas de Bali construíram sua cena

A versão balinesa de “Dogtown”.
MS
Traduzido por Marina Schnoor

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Bali, na Indonésia, nunca foi um lugar muito propício para se andar de skate. O governo só construiu duas pistas até hoje, enquanto as ruas são cheias de carros, motos e buracos. Então, para levar a cena até onde ela está hoje, os skatistas de Bali tiveram que construir suas próprias pistas. Isso torna essa história algo como um triunfo, um pequeno milagre.

Publicidade

As fotos abaixo são do lendário skatista balinês Batax, feitas por toda a ilha. Siga o cara no Instagram aqui .

Foi Julian Bergougnoux, um francês, que construiu o primeiro bowl em Bali. Ele chegou à ilha em 1998, procurando contatos que pudessem fabricar roupas para sua marca de skate. Não era nem bem uma marca — ele vendia coisas na sua garagem na França —, mas em sua viagem conheceu uma balinesa, que mais tarde se tornaria sua esposa. Ele acabou se mudando para a ilha e sete anos depois misturou o primeiro concreto que seria usado exclusivamente para andar de skate.

Julian diz que não havia muitos picos quando ele chegou. "Comecei andando nas ruas e fazendo corrimãos e rampas improvisadas, e o pessoal montava os obstáculos em estacionamentos ou em ruas mais calmas… era bem legal. Definitivamente melhor que nada."

Mas foi só em 2005 que Julian e alguns amigos decidiram construir um bowl de 1,20 metro em seu quintal em Sanur. Ele diz que estava de saco cheio de andar nos mesmos parques e picos de rua disponíveis na época. Não pretendia transformar aquilo numa pista de skate pública, mas diz que o bowl logo se tornou "o playground da vizinhança". Apesar de não ser tecnicamente público, não havia cerca e Julian aceitava praticamente qualquer pessoa que quisesse vir e andar de skate.

Desde então, ele já aumentou o bowl duas vezes, criou um hotel chamado Eat Sleep Skate no terreno e construiu um barzinho com forno de pizza. Ele cobra uma pequena entrada dos skatistas visitantes e há uma equipe local estabelecida que anda de graça.

Publicidade

Por volta da mesma época em que Julian estava construindo seu bowl, outro cara chamado Afandy Dharma trabalhava para montar a Motion Skateboards, que hoje é a maior marca de skate da ilha. "Eu tinha comprado uns dez shapes da China e consegui vender todos para amigos. Aí trouxe mais 20, depois 40, e depois comecei a fazer a estampa deles", diz Afandy. Em 2007, Afandy abriu a Motion Skateshop e estava fornecendo a maioria dos shapes para a cena local. Naquele ponto, o melhor lugar para andar de skate era o bowl do Julian, o bowl da Globe em Jumbaran e uma pista de rua DIY em Simpang Siur.

Em 2012, o governo destruiu a pista em Simpang Siur e usou o terreno para ampliar uma rodovia, deixando os skatistas da área sem um lugar para andar. Afandy investiu a maior parte do dinheiro que tinha feito com a Motion para construir uma pista indoor. Ele alugou um terreno em Kuta e construiu um enorme galpão com um circuito de skate de rua de compensado.

Hoje em dia a Motion vai muito bem — não só como loja, marca de shapes e pista, mas como empreiteira para outros negócios que queiram construir pistas de skate. E enquanto o skate crescia firme em Bali desde os anos 90, ele explodiu mesmo nos últimos dois anos. Afandy diz que o sucesso veio em parte por causa do Pretty Poison, uma balada em Canggu que se tornou um tanto infame. Maree, a dona, descreve o lugar como um "bar de artes criativas com um bowl estilo Califórnia".

Publicidade

Localizado no meio de arrozais, o Pretty Poison é só um cômodo com paredes pretas, cerveja Bintang barata e um dos bowls mais loucos da ilha. Três skatistas locais — Sukma, Pipping e Donny — recebem salário para andar no bowl três noites por semana. Além deles, skatistas estrangeiros costumam aparecer aqui para ganhar cervejas na faixa em troca de entreter o público. Nas noites de festa, o lugar fica tão lotado que é difícil sequer ver o bowl.

Maree, uma mãe de meia idade de Bondi, é apaixonada e simpática o suficiente para superar o tabu de ter um negócio de skate sem nunca ter sido skatista. "Não faço entrevistas", ela me diz quando a encontro no bar. "Não é sobre mim, é sobre os caras que andam de skate aqui." Mas depois ela concorda em falar comigo, logo entrando num discurso apaixonado sobre o espaço, seu profundo respeito pelos jovens e o que ela aprendeu sobre skate desde que abriu o Pretty Poison. O bowl, ela me diz, é uma réplica da piscina em que os caras andam de skate em Os Reis de Dogtown.

"Você tem que entender que eu não tinha ideia de onde estava me metendo", ela diz. "Eu não sabia que isso ia decolar assim." E para um lugar que abriu pouco mais de um ano atrás, o bar tem sido um sucesso selvagem, não apenas como negócio, mas em estabelecer o skate como algo que as pessoas aceitam e gostam de assistir.

Afandy me diz que Maree está levando o skateboard a níveis sem precedentes de popularidade através do Pretty Poison. "No começo, quando estávamos construindo [o bowl], ela tinha suas próprias ideias de como queria que ele fosse", ele diz. "Eu dizia 'Conheço os garotos daqui e eles gostam de andar em coisas mais suaves' e ela dizia 'Não, quero construir uma coisa radical, algo que seja difícil de dominar'."

Poderia ter dado errado, mas felizmente não faltam skatistas, locais e internacionais, prontos para desafiar a pista íngreme e implacável. Afandy diz: "Respeito Maree, ela fez as coisas do jeito dela e funcionou. Acho que muita gente vê aquilo e quer se aventurar."

Siga o Nat no Twitter . Imagens do skatista e fotógrafo local Batax .

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.