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Música

O Guia Truqueiro do Filter House

É diversão pura, brega e barata. Isso é filter house.

House e disco formam um par tão perfeito quanto hambúrguer com batata frita ou gim com tônica. Qualquer um que, como eu, tenha escutado o Last Night a DJ Saved My Life, do Bill Brester e Frank Broughton, sabe que house é filha da disco. Em seus anos finais, a disco foi se transformando num ritmo que em algum momento desembocou no proto-house. Logo veio o clube Trax e rapidinho todo mundo estava requebrando. Mas como namoradinhos de infância, a house e a disco nunca se separaram totalmente.

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O filter house, este belo gênero também conhecido como french touch — "toque francês", porque a maior parte da galera que fazia esse tipo de música usava boininha — é o tipo de música mais fácil que existe. Você pega um sample de disco, mete um bumbo pesado em cima, mexe um pouco na equalização e tcharam: está lá mais uma produção de filter house. Mas nem sempre a simplicidade é ruim, e nesse mundo cheio de tanto medo e incerteza, a maioria das pessoas sente falta disso, da beleza que há na simplocidade. O que o povo quer é TV fácil de entender, fast food, filmes que podem ser resumidos em alguns poucos GIFs e romances que não precisam ser lidos de verdade para serem entendidos. Aposte no simples que ninguém te achar burro.

A saber: o filter house surgiu na segunda metade dos anos 90, já coberto de suor, glitter, pompa e circunstância. Gravadoras como a Roulé do Thomas Bangalter e produções como Super Discount do Étienne de Crécy foram cruciais para a criação e desenvolvimento do estilo. A pioneira "Music Sounds Better with You", do Stardust, projetou o estilo na cena e o filter house, em suas várias versões, tornou-se sinônimo de tardes ensolaradas e noites amenas cheias de gente flertando num ambiente regado a drinks e cocaína. É uma música agradável, que prima pelo prazer e coloca o ouvinte sempre em primeiro lugar. E nós, no THUMP, sempre colocamos você, nosso querido leitor, em primeiro lugar. Então, enfie este guia no bolso e quem sabe você pode curtir muito filter house noite adentro.

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Stardust – "Music Sounds Better with You"

Essa música é a rainha do french touch. Uma das faixas mais transcendentais já lançadas, esse clássico de Braxe e Bangalter funciona como "Billy Jean", "So Weit Wie Noch Nie", "By My Baby" ou "Dick by the Pound" — é só dar play que a pista ferve. Da festa na piscina ao chá de bebê, do casamento à comemoração da renovação da carteira de motorista, de Ibiza a Ipswich. O sample suave de Chaka Khan — menos o vocal desesperado de Benjamin Diamond — é o que dá à faixa a capacidade de mostrar o dedo do meio para qualquer um que coloque originalidade acima do poder de impactar.

Modjo – "Lady"

É da versão que Primark fez da obra-prima fortemente filtrada de Stardust, da tosquice intrínseca de "Lady", que emana o verdadeiro brilho do french touch.

Pete Heller – "Big Love"

Pete Heller — parceiro das antigas do Terry Farley — provou que não eram só os franceses que conseguiam brincar com a equalização daquele jeito desregrado. Sua faixa, "Big Fun", soa como uma espécie de boas lembranças destiladas: futebol no campinho, piquenique no parque e discussões dentro do carro. Com um sample da banalizada faixa disco "Wear It Out" do Stargard tocada por intermináveis dez minutos, "Big Love" marcou a entrada dos ingleses para o cânone do french touch.

Junior Jack – "My Feeling"

WHEN I THINK ABOUT YOU / MY FEELINGS CAN'T EXPLAIN. Samplear a melhor música de todos os tempos é sempre uma boa ideia, então não é de se admirar que "My Feeling" tenha feito o sucesso que fez. É uma faixa que faz mais sentido que pinga com mel — e, sinceramente, eu prefiro mil vezes uma jurupinga que um negroni.

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Together – "So Much Love to Give"

Uma faixa que se repete ad nauseum, esse som absurdo de Thomas Bangalter e DJ Flacon é uma viagem alucinógena que prende a atenção e lobotomiza quem ouve com a quantidade absurda de filtragens. Nunca uma faixa fez tanto com tão pouco. A dupla consegue extrair 10 minutos de mágica cintilante, efervescente, incandescente só de uma mísera frase melódica e dois acordes. É um som incrivelmente hipnótico e impressionantemente eficiente, que não para nunca de pulsar, pulsar, pulsar e pulsar. É euforia pura que nunca perde o entusiasmo. Faixa relacionada: "Together", do Together; a faixa mais intensa de todos os tempos.

Alcazar - "Crying at the Discoteque"

Sabe aquela frase do John Waters que diz que gente ruim adora postar nas redes sociais que não transa com gente que não tem livro? Substitua "livro" por "discos da Alcazar" que a atitude fica muito menos idiota e faz muito mais sentido. A melhor banda de todos os tempos.

Cerrone – "Hysteria"

Esse batidão interminável do rei da disco é a melhor coisa que saiu da França desde… Alizée? Claude Makélélé? Jean Reno? Não sei… Eu só fui para a França duas vezes e na maior parte do tempo só fiquei comparando versões estrangeiras de produtos que eu conheço do meu país e me impressionando com as diferenças de embalagem — "Cara, as latinhas de Kronenbourg aqui são vermelhas! Vermelhas, você acredita nisso?!" —, então talvez eu não entenda muito do assunto, mas esse é o melhor produto de exportação da França desde todos os outros que eu mencionei. É diversão pura, brega e barata. Isso é filter house. É uma música feita para ser idiota, saca?

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Nerio's Dubwork ft. Daryl Pandy - "Feel It"

Em primeiro lugar, uma salva de palmas para o primeiro e único Daryl Pandy. Daryl Pandy! A voz da house music. Sem o velho Daryl, não existiriam Robert Owens, nem Kenny Bobien, nem ninguém. Ele é a razão pela qual todos nós adoramos aqueles vocais gemidos das divas em cima daquelas bases cheias, típicas da house. "Love Can't Turn Around" é uma daquelas músicas que precisam ser difundidas no espaço em qualquer missão terráquea que busque divulgar nossa cultura para os ETs. Manda pra eles "Love Can't Turn Around", um livro do Jeremy Clarkson e uma foto de gente comendo batata frita no carro e zás: essa é a humanidade. Mas enfim, há quase 15 anos (???), Daryl apareceu com esse clássico Do super filter house e, mais que qualquer outra faixa nesta lista, é ela que precisa de um revival. Com um sample do Chic como se não fosse nada demais, a faixa "Feel It" simplesmente arregaça. É o som da melhor noite da sua vida. É o melhor da música de festa. F-E-S-T-A. FES-TA!

Le Knight Club - "Boogie Shell"

O Le Knight Club era um projeto paralelo do Guy Man do Daft Punk que lançou algumas faixas de filter house muito boas que passaram meio despercebidas — o que é uma pena, porque eles merecem ser lembrados na história da dance music como algo a mais do que só "aquele projeto paralelo que o Guy Man tocou entre os lançamentos do Daft Punk."

DJ Sneak - "You Can't Hide From Your Bud"

E aqui vai a resposta americana ao filter house. A versão do gangster da house DJ Sneak pega o clássico filter house e transforma na melhor coisa que ele já fez na carreira inteira - e também faz a gente lembrar do tempo anterior ao Onze de Setembro, quando as nações viviam em harmonia. Música para uma geração que não gostava dessa coisa de "Freedom Fries".

Discorda dessa seleção? Fale diretamente com o Josh no Twitter.

Tradução: Stefania Cannone