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Música

Dez Anos de Tech-house com Laurent F. no Boiler Room Brasil

Falamos com o DJ e residente da festa Moving sobre a sua apresentação no Boiler Room Brasil, seus vários projetos paralelos e sobre tocar com discos de vinil.

Hoje à noite, logo mais às 20h, o DJ Laurent F. será uma das atrações nacionais a se apresentar em mais uma edição do ciclo Boiler Room Brasil, dividindo line-up com o DJ Wehbba. Eles vão esquentar a chapa para o back to back dos alemães e gigantes do techno Stephan Bodzin & Marc Romboy. O show será transmitido ao vivão pelo site do Skol Beats. Laurent F. comemora em 2014 dez anos como residente de uma das festas de tech-house mais prestigiosas de São Paulo, a Moving, no D-Edge. Ele pegou o gancho dessa marca e resolveu apresentar no Boiler Room uma espécie de resumão sonoro com as faixas que vêm fazendo a moral do projeto desde que ele assumiu a empreitada.

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Mas a experiência dele na cena clubber paulistana vem de muito antes, dos tempos das clássicas matinês do começo dos anos 90, de clubs como Lime Light, Allure e Kremlin, quando a gente colava nas baladas achando que estávamos abafando com os nossos panos da Bad Boy, e, as minas, esmeradas na calça bailarina. Mais tarde, aos 18 anos, ele virou residente dos clubs OZ e Class, e a coisa decolou. A partir de 1997 vieram as primeiras apresentações na Europa e a presença na programação de raves como Fusion, Space, e nos eventos do núcleo de festas Garden Crew.

Atualmente ele segue dando aulas de discotecagem na D-Edge College e promete uma volta triunfal da Deep, a balada itinerante que criou há alguns anos. Fora isso, seus outros três projetos paralelos NewCityDealers, Paco&Loko e StereoNato – vêm rendendo frutos. As novidades ele esmiúça na entrevista logo abaixo:

THUMP: Bem, vamos começar falando da sua apresentação no Boiler Room. Você está empolgado para esse evento? O que você tem na manga aí que já possa adiantar pros nossos leitores?
Laurent F.: Estou muito empolgado para essa sessão. Esperava uma oportunidade assim há um bom tempo. Uma grande oportunidade para comunicar e tocar músicas que usualmente não tocaria em uma apresentação no Brasil. Para essa ocasião especial estou preparando um mix dos últimos 10 anos de tech-house com direito a pesquisa em toda minha coleção de discos. Em meio a esses títulos, pretendo misturar produções inéditas de artistas brasileiros que normalmente não ouvimos por aqui.

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O que justifica a longevidade de um projeto de festa como a Moving, da qual você é residente, no cenário de uma cidade que está sempre se renovando e atravessando diferentes tendências?
A Moving, sem dúvida, é uma peça fundamental em minha carreira. Esse ano completo 10 anos de residência na festa e em todo esse tempo o que permitiu a sua consolidação foi uma equipe de pessoas apaixonadas pelo que fazem e, principalmente, a dedicação de um líder que sempre investiu e trabalhou acreditando nessa equipe.

Fala um pouco dos seus projetos paralelos – NewCityDealers, Paco&Loko e StereoNato. O que cada um tem de novidade para esse ano e como eles se diferenciam entre sí? Nesses projetos você investe num tipo de eletrônica muito fora daquilo que faz quando se apresenta como "Laurent F."?
Esses três projetos são bem diferentes uns dos outros. New City Dealers é uma parceria que tenho com o produtor Fabiano Zorzan, com quem tenho uma amizade que já dura quase 20 anos. Decidimos que já era hora de fazermos algo substancial e nos unirmos em estúdio também criando uma sonoridade mais "jazzística" para um tech-house que a sustenta como base. Já lançamos uma primeira faixa chamada "Jazz Bar's Friccion" no início do ano de 2013 e o resultado desse primeiro lançamento foi ótimo, nos rendendo até duas licenças a mais em selos alemães. Diante disso resolvemos ir adiante e no mês de outubro vamos lançar a segunda faixa pelo selo curitibano TechGrooves. O EP No Shit, que leva o nome da faixa, terá, além da versão original, remixes de diversos artistas que gostamos muito. Com esse lançamento vêm também o lançamento da nossa apresentação que será um híbrido de Live PA e DJ set.

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Pako&Loko também nasceu da amizade de anos que tenho com o DJ e produtor Rodrigo Leal. Esse projeto caminha devagar há um bom tempo, porém nunca para. Temos uma gravadora que acredita no nosso trabalho desde o começo que é a Vice City Records e que lança de olhos fechados todas as faixas do projeto. Buscamos desde o início ter como referência a disco music, estilo que sampleamos bastante, mas adicionando pitadas de modernidade e melodias que sobem e descem o tempo todo.

StereoNato é meu refúgio. Um projeto solo onde produzo de acid jazz a samba rock usando samples e gravações de estúdio reorganizados. A ideia começou quando fui chamado para produzir uma trilha sonora para um filme institucional da campanha de Natal de um importante shopping da cidade. Aquilo saiu com tanta naturalidade que concluí o trabalho em poucas horas. Depois disso apareceram outros trabalhos parecidos e acabei tomando gosto. Em tempo livre, ligo meu software e vou criando sem muita técnica e sem nenhuma engenharia de áudio, deixando a ideia fluir sem nada interferindo. Quando me apresento como StereoNato, procuro tocar não somente trechos de faixas do projeto, mas também músicas que, além da eletrônica, formam minha base e cultura musical. No Soundcloud, você pode baixar gratuitamente algumas das faixas do projeto e experimentar um pouco dessa mistura.

Já quando me apresento como DJ Laurent F., sou eu, meu meio e estilo de vida, e é um pouco de tudo o que descrevi acima. Afinal, o bom de ser DJ é a vantagem de poder tocar muitos estilos em um só set. São 25 anos dedicados à discotecagem vividos intensamente dentro de todos meios da música de pista.

Como foi que você entrou no circuito de clubs como Tamatele, Up&Down, Allure, Kremlin e Lime Light, no início de sua carreira? Algum fato ou alguém foi responsável por essa sua guinada na época? Quais as memórias mais marcantes que você tem desse período?
Com apenas 13 anos de idade descobri que minha vida seria essa. Ficava olhando os mais velhos tocarem e aquilo me fascinava. Aprendi a mixar então com um grande amigo meu, o DJ Paulo Cabral, que já tocava das matinês de um pequeno club em Moema. Por meio dele conheci pessoas com quem convivo até hoje e que me ajudaram a entrar nesse circuito de clubs. Comecei nas matinês também por causa da idade. Tocava uma vez a cada três ou quatro meses apenas. Nesse tempo eu gravava mixtapes e deixava nos escritórios dos clubs que, por fim, acabaram me contratando mais vezes. Quando completei 18 anos a migração para a noite propriamente dita foi automática, e como todos tinham a mesma faixa etária, tudo que descobri de lá pra cá, todos os lugares onde pisei, toquei e me diverti, foi junto dos meus amigos, parceiros e raveiros. Acho que por isso tudo na minha vida profissional acontece muito naturalmente.

Você tem uma preferência especial em tocar com discos de vinil? Por quê? Quais os equipamentos/softwares ou formatos que você usa atualmente nas suas performances?
Imagine que quando aprendi a mixar não tinham inventado o CD ainda. Então aprendi com o vinil, que é o formato que mais gosto. É um material palpável, colecionável e de longa durabilidade. Uso CDs e pendrive também, pois as lojas digitais estão aí cheias de coisas interessantes. Recebo muitos promos de artistas que acabam chegando em formato digital e os recursos que os equipamentos digitais oferecem são uma maravilha. Software é só para produzir mesmo. Em estúdio lanço mão do Cubase, que é um programa que uso há muito tempo e já o domino bastante.

Com que outros projetos você está envolvido no momento? Continua dando aulas de discotecagem? E as festas Deep, ainda estão rolando?
Existem alguns projetos com os quais estou envolvido, incluindo uma gravadora nova chamada Timbral, liderada pelos produtores Pedro Turra e Marco AS,  e o DJ College do D-Edge, onde dou aulas de discotecagem e mixagem. A Deep, que é a festa do meu coração, ainda existe, os sócios estão animados como sempre. Porém com a maturidade vem também a necessidade de se fazer menos, mas melhor. Portanto, em breve, a Deep deve surpreender de novo.