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Música

Apuramos a Polêmica da Blitz Haus Proibindo o Funk e o Resultado É Bem Sem Graça

Caiu na rede. Por isso resolvemos ouvir os envolvidos no caso do aviso proibitivo que andou circulando pela Blitz Haus, a balada localizada na Rua Augusta, em São Paulo.

Uma polêmica ronda a noite paulistana. No início de agosto, o DJ Click redigiu e imprimiu uma espécie de guideline no intuito de orientar os DJs que tocam na sua casa, a Blitz Haus, baladinha localizada na Rua Augusta.

No texto da circular – que mais parece um comentário de algum roqueiro bom-gosto comentarista de portal –, Click comunicava que músicas como "Killing in the Name" do Rage Against the Machine e "California Uber Alles" do Dead Kennedys estavam proibidas de tocar na pista da Blitz por serem catalisadoras de "descontrole na testosterona masculina (SIC)". DJs convidados também não poderiam dar play em "qualquer música de 'funk' carioca" (na sequência ele explica a aspa no funk, com aquele clichê "funk de verdade é James Brown, Rick James e Parliament") e qualquer uma das canções do Naldo, Valeska Popozuda ou Anitta.

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O comunicado terminava advertindo: "Quem desrespeitar as regras, poderá perder seu cachê artístico. Ele será doado para uma instituição de caridade. Enviaremos o protocolo da doação".

Impossível não pensar nesse clássico mind game apelão. Foto daqui.

Resultado? Uma foto do tal comunicado foi parar no Facebook e, claro, muita gente não gostou. Falou-se em intolerância musical, para não mencionar os haters e suas mensagens de ódio ao Blitz Haus, citações à Alemanha Nazista e toda a notória confusão que discussões online inevitavelmente geram.

Como é bem a nossa carinha no THUMP, resolvemos apurar. Por telefone e Facebook, o DJ Click me falou que, sim, foi ele quem redigiu e imprimiu o comunicado e que tudo não passava "de uma brincadeira". "Todo mundo deu risada. Foi uma piada. Falta de assunto vir investigar isso". Agradeço o toque para administrar melhor meu tempo de trabalho.

Ainda assim, Click admitiu sem ironia uma parte do aviso que fez circular: "Eu não gosto mesmo de Anitta e Naldo". Se chegou a vetar o pagamento de algum cachê baseado em seu próprio gosto musical? "Pergunte você mesmo ao Caio Sobral [DJ que tocou na última festa da 4e20]".

A citação ao Caio tem uma razão para estar aí. Ouvi uma história de que esse DJ Caio teria caído na suposta malha fina cultural da casa, e por isso perdido o seu cachê. Nada melhor do que confirmar com a própria pessoa o lance. A resposta dele:

"Eu não tinha conhecimento da proibição do ritmo musical na boate. Eu respeito e não vejo problema nisso. Eu faço uma mistura de músicas, e, dependendo do meu teor alcoólico e do que eu vejo do publico da festa, acabo que toco funk (na festa em questão, toquei duas vezes uma do MC Daleste, que fala de marcas de luxo, e outra da MC Xuxu, uma homenagem a uma das pessoas que iam na festa - o maquiador Lu Ramos). Bem, eu sou amigo do Click há anos, já toquei em diversas festas dele, e nunca tive problema. E sobre o cachê, eu bebi ele todo! rs."

DJ residente e co-produtor da festa A$$, que há um ano rola mensalmente na Blitz Haus, Vinícius Miguel aka VINÍ sempre solta um funk em sua playlist. Ele contou que a circular era para ser uma brincadeira. "Era para ser uma piada interna deles que trabalham na casa. Inclusive quando me mostraram o tal comunicado, levei em total tom de brincadeira, sabe? Até porque quem me mostrou o pegou do chão".

VINÍ também diz que Click jamais repreendeu os DJs convidados por suas escolhas musicais. "Ele nunca quis repreender ninguém que estivesse tocando, e nunca aconteceu na A$$ de algum DJ perder o cachê por ter tocado algo de um gênero x ou y", argumenta.

No fim das contas, a conclusão é a que realmente o guideline em si foi uma piadinha interna. Mas, fica uma lição para todo mundo. Ou lições, na real. A primeira é de que, com a maldita internet, mídias sociais e o caralho, sempre há a chance de um papo entre amigos ganhar uma dimensão pública maluca e esquizofrênica. Essa possibilidade é ainda maior se você já é uma figura pública da noite da maior cidade do Brasil. A segunda é que, seja a quatro paredes ou em todas as redes sociais, uma brincadeira pode ser preconceituosa e babaca, sim. No fim das contas, tem a hora de brincar e tem a hora de falar sério.