Centenas de jovens cantavam e gritavam animados na fila enorme que se formava desde às 22 horas na porta da quadra da escola de samba Império da Casa Verde, zona norte de São Paulo. Garotas e garotos ansiosos corriam para secar as garrafas de catuaba e vodcas coloridas para curtir o show de aniversário do MC Kauan, conhecido como o Koringa Brasileiro.
"Ele é humilde. O Kauan chega, conversa e cumprimenta os fãs. Ele é minha inspiração para tudo", conta rapidamente Denis, 24, ao lado de um grupo de amigos antes de entrar na casa. "Sou fã desde que ele começou. Sempre que posso estou presente nos shows." Junto aos amigos, uma garota de 28 anos sorri animada com a expectativa de ver o astro de perto. "Ele é maravilhoso. As letras têm conteúdo ao contrário dessas putarias que rolam por aí", justifica.
Publicidade
Kauan Mariz de Oliveira é um dos maiores nomes do funk neurótico do país. Sua carreira vem diretamente do funk da Baixada Santista e começou a despontar em meados de 2006. Onze anos depois, o artista não só conseguiu se manter no destaque do gênero, como também criou uma base de fãs fieis graças à sua persona alegórica. Uma espécie de Koringa do Heath Ledger, misturado com o Coringa da Feira da Fruta e todos os personagens de terror disponíveis no imaginário de filmes de horror e quadrinhos do Batman.
Ao criar o Koringa fez dos seus shows verdadeiras releituras das Noites do Terror do Playcenter, cheios de pirotecnia, palhaços macabros, entidades do mal e referências do cybergoth que deixariam qualquer clubber bem-nascido no chinelo.
Nas primeiras horas da festa de aniversário chegaram várias vans e ônibus transportando dezenas e dezenas de fãs que vinha do litoral paulista ou do interior de São Paulo para ver o ídolo de perto. Dava pra contar nos dedos quem não estava à caráter. Muitos usavam lentes de contato, exibiam cabelos verdes com cortes chavosos e camisetas personalizadas do fã clube.
Até o MC chegar os fãs mais devotos se amontoavam perto do camarim para entregar os presentes de aniversário e pedir autógrafos. Os presentes iam de cartazes até cestas de café da manhã repletas de chocolates e outras guloseimas. A preocupação estampada no rosto dos fãs era de não conseguir ver o ídolo.
O funkeiro pisou na quadra por volta das três e meia da manhã e foi prontamente ovacionado. Após falar com a VICE, pediu para os fãs entrarem e lá ficou por quase uma hora e meia recebendo os presentes e tirando fotos. Não era pouco marmanjo que era visto saindo em prantos do camarim após conhecer o ídolo. Perguntamos a um dos fãs se era difícil conhecer de perto o Kauan. "Praticamente a maioria dos fãs já conseguiu falar com ele de perto", me disse ele, de olho para não perder o lugar na fila.
Publicidade
Às cinco da manhã e toda a plateia com o coração acelerado de tanto energético com whiskey, MC Kauan subiu ao palco e fez um show de uma hora e uns quebrados. Trocou de figurino três vezes e sua estamina para se manter de pé só perdia para os dançarinos fantasiados que pulavam e escalavam os enormes suportes de ferro nos cantos do palco. Era um verdadeiro Halloween fora de época sem parecer paga-pau de gringo.
Kauan puxou coro, estourou champagne, lutou com vilões no palco e até jogou bolo pra plateia. Lá pro final da apresentação, o sol já raiava quando o funkeiro levava os cartazes jogados no palco junto com ele e agradecia sua mãe e também produtora, Dona Nalva, pelo trabalho.Embora o Koringa do Mal se considere um grande vilão, no fim das contas talvez ele seja o mais gente fina que já existiu no vasto universo de Coringas.Veja mais fotos desse rolê monstruoso abaixo, e siga Larissa Zaidan no Instagram: