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Música

O Slackk É a Conexão Entre a Velha e a Nova Escola do Grime

Conversamos com o produtor inglês sobre rádios piratas, rixas musicais do gueto e o revival do grime.

Foto via Electronic Beats

Por quase meio século, rádios piratas ilegais pontuaram a paisagem urbana britânica, instalandas em torres ou em balsas longe da costa para evitarem sua detecção. Elas carregam música e opiniões que as estações de rádio licenciadas não mencionam. Quando há seis anos o Slackk se mudou de Liverpool para Londres, essas estações renegadas estavam tocando grime em alto e bom som dentro das casas e dos carros das pessoas, e foi assim que ele percebeu que havia encontrado sua paixão.

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Slackk foi criado por um DJ de house, então a música está em seu sangue. Ele é devoto a ele em um nível obsessivo, mas isso não significa que ele não dá uma escapada na sexta-feira para fazer um esquenta no pub. Além da sua própria música, o DJ e produtor de 28 anos é mais conhecido como o arquivista do grime, responsável por manter a história do gênero viva. É um misto de devoção nerd e abandono feliz que faz sua música ser tão interessante.

O grime foi construído a partir das bases do house, garage, rap e dancehall no começo dos anos 2000 por moleques dos guetos portanto softwares baratos. As suas letras e instrumentais agressivos refletiam claramente a situação sombria em que se encontravam, cuspindo uma hipérbole veloz sobre uma palheta de batidas metálicas e linhas de baixo cruas. Não era incomum escutar que a briga eventualmente pulava das rixas musicais paras as ruas; casas noturnas e policiais interviam nas apresentações e os guardiões da exposição pública simplesmente evitavam o gênero. Porém, Dizzee Rascal e mais alguns artistas conseguiram ganhar a atenção do país (e do mundo) com um som íntegro. A maioria dos artistas eventualmente acabaram desistindo devido a falta de oportunidade ou misturando seu estilo com outros gêneros musicais para se tornarem mais acessíveis. Atualmente, grande parte dos MCs na cidade são parte da cena trap, o raw rap, e as rádios piratas desapareceram. "Costumavam ter centenas de turmas diferentes nas estações de Londres", ele lembra. "Não tem sido assim há um bom tempo."

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As rádios piratas eram as melhores lentes para se ver o grime. Para capturar isso permanentemente, Slackk começou um site chamado Grime Tapes, onde ele posta sets musicais de várias estações para o mundo navegar e baixá-los. Isso se tornou um recurso essencial para muitos. "Eu acumulei por anos todos esses sets e fitas de rádios piratas muito boas e não havia nenhum lugar na internet onde você poderia baixar isso, tudo listado em um índice e tudo mais. Então criei isso. Também queria saber se tinha alguém com sets que eu não tinha."

Enquanto o Grime Tapes ainda vive (e, sim, o link ainda funciona), Slackk mudou seu foco para produzir e discotecar, mas se encontrou no meio de um revival do novo grime. O ritmo agora é muito mais orientado por produtores, com uma gama internacional de artistas e público. As batidas ficaram mais estranhas e mais versáteis, com alto valor de produção e programas avançados. Artistas como Visionist e Logos foram unidos pelos gostos do Saga e Samename, enquanto produtores como Spooky jogam com um som mais clássico de grime. No ano passado, uma "guerra de produtores" estourou entre as escolas internacionais de grime, com dúzias de pessoas se estapeando em forma de dubs novinhos em folha, mirando-os em competidores específicos. A corrente resultante da nova música online e das rádios foi uma prova do alcance dos estilos e sons envolvidos.

Pelo menos parte dessa ausência de regionalismo se deve ao impacto da internet e sua expansão contínua, com os streamings de gente como o Boiler Room e NTS tomando o lugar de piratas como a Deja Vu e a Kiss FM. Mas as substituições nunca poderão ser comparadas aos olhos de Slackk. "É idiota pensar que algo como o Boiler Room pode suprir uma audiência tão localizada, pertencentes as rádios piratas londrinas existentes ou as que existiam no passado. É, na verdade, uma coisa global. Eu gosto do Boiler Room – conheço gente que não gosta – mas é uma audiência diferente."

A relativa ausência de MCs na nova identidade do grime, agora um gênero instrumental, é, entretanto, um ponto complicado para muitos, e Slack está entre esses. Mas ele não é pessimista e destaca cidades britânicas fora de Londres onde os MCs de grime são mais comuns. Também menciona o Novelist como parte da nova parcela de produtores que dominam também o microfone. E embora a preferência dos MCs londrinos seja por batidas mais trap, ele ainda mantém a esperança que o talento irá retornar ao grime: "Tem alguns bons MCs novos aparecendo, é provavelmente muito natural que se encontrem em algum ponto."

Apesar desse novo contexto para o ressurgimento do grime, ele é rápido em apontar que continua sendo grime. "Não é new wave grime ou algo do tipo – é apenas grime. Já tem dez anos que o grime começou", ele diz. "Cidades mudam. Pessoas mudam. Acho que seria estranho se tudo estivesse parado no mesmo lugar. O negócio desse estilo é que ele pode ser basicamente qualquer coisa e é preso em torno disso também – as ideias e o espírito – mesmo quando o interesse popular ou da mídia diminuem. É realmente uma cena resistente."

Com as mudanças, vem também os novos ravers, mas é um público misto, segundo Slackk. "Somos apenas pessoas normais com empregos, cara. Eu penso que no começo era mais pelos boquetes, por assim dizer, mas isso se abriu um pouco agora. Tivemos até alguns professores na nossa última festa. É apenas um amontoado de gente de 20 e 30 anos ficando putos e dançando."

Mike Steyels tem uma dúzia de identidades e se esquece qual delas é - @iswayski.