1 de Maio em Portugal: preços pela metade, a manifestação por inteiro

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1 de Maio em Portugal: preços pela metade, a manifestação por inteiro

Cachupa e cuba libres numa manifestação para toda a família.

NO PORTO O MayDay, o dia mundial de protesto contra o desemprego e o trabalho precário, começou em Milão na viragem do milénio e espalhou-se um pouco por todo o lado. Porto incluído. Ontem estava marcado para começar à uma da tarde na Praça dos Poveiros, ao cimo da rua do Coliseu, mas cheguei meia hora depois e estava tudo vazio. Nem dá para confiar na malta para organizar um protesto como deve ser! Falei com este gajo, o Tiago Braga, que faz parte da organização. "Espero que as pessoas comecem a aparecer em breve. Era bom que não chovesse", disse-me. Boa, estava eu a trabalhar num feriado e manifestação nem vê-la. Isto sim, é trabalho precário. Seus hippies. Havia uma malta a conviver a um canto, por isso furei por entre a multidão imaginária. Felizmente para mim, a dona Filomena estava a servir cachupa. Não dá para revolucionar nada de estômago vazio. Bom apetite para tod@s! Aqui estou eu a encher a barriguinha (nem me lembro de tirar esta foto). As coisas lá começaram a rolar normalmente. Apareceu a malta dos sindicatos, grupos LGBT e etc. — assim já começa a parecer uma manif. Até o V decidiu aparecer. Também deve passar recibos verdes. A polícia foi tranquila e tolerante. Em todo o caso estavam mais ocupados a servir de guias turísticos. Os jovens adultos, recém-saídos da faculdade e à procura do primeiro emprego, são algumas das principais vítimas desta crise. E mesmo quem encontra emprego, dificilmente assina contrato: adeus subsídios, férias e outros direitos. Mas a descontar, claro. Estas miúdas não se deixaram abater com essa triste realidade e até me ofereceram umas bolachas. O uso de máscaras é uma moda que veio para ficar nesta coisa do protesto. Faz lembrar o trabalho temporário. Portugal é o terceiro país europeu com maior percentagem de trabalhadores temporários (dados da Organização Internacional do Trabalho). À nossa frente: Espanha e Grécia. Estamos juntos, peeps do Sul! Ao menos na Grécia não devia estar a chover. Vejam este gajo, claramente dos 1%. Devia estar a achar um piadão a este desfile de protesto, não? Na brinca, acho que estava só a cumprimentar um amigo. Texto e fotografia por David Pinheiro Silva

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E EM LISBOA Este ano o 1.º de Maio calhou no dia em que o Pingo Doce oferecia paletes a grupos de survivalistas portugueses. Não sabia que havia survivalistas em Portugal, nem que esta cadeia de supermercados holandeses ia fazer promoções, por isso fui para o outro ajuntamento do dia. A manifestação da CGTP e o #MayDay não tiveram o calor humano do corredor dos congelados, tão pouco o convívio saudável de uma fila para a caixa registadora, mas foi divertido. Se a vossa cena é mais ficar parado à espera, pode ter sido uma desilusão, uma vez que isto do Dia do Trabalhador é mais de andar a pé. No final chega-se a um jardim porreiro onde se pode beber cuba libres a dois euros e meio com limões espremidos por comunistas a sério. Em termos de convívio ao ar livre com pessoas mais velhas foi das cenas mais fixes que já fiz num feriado. Texto por Luís Leal Miranda
Fotografia por Ágata Xavier