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'Doctor Foster' é como ver uma tragédia em câmera lenta

História clichê de uma mulher que suspeita da traição do marido vai te fazer tremer na base e suar o buço.
Imagem: Divulgação.

Gemma Foster tem uma vida ótima. Ela é médica sênior numa clínica do interior da Inglaterra. Bonita, ótimo gosto. O marido, Simon, é um cara bonitão, trabalha bastante e é apaixonado pela esposa. O filho do casal é um adolescente inteligente e de língua afiada. A casa da família é bem arrumada. Os amigos adoram o casal. Um brinco de vida, dá até preguiça. Imagine tudo isso sendo jogado no ventilador após Gemma acidentalmente encontrar um fio de cabelo loiro no cachecol do marido. Depois disso é uma espiral de ódio, loucura e obsessão. Essa é a série da BBC Doctor Foster, cuja segunda temporada acaba de estrear na Netflix, após virar sensação na Inglaterra desde sua estreia em 2015.

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Pessoalmente, sou muito chata com qualquer série ou filme. Mas foi ver o primeiro episódio da série que logo não consegui dormir. É tudo tão absurdo e tenso que matei em menos de três dias as duas temporadas.

Médica, esposa, mãe bem-sucedida e um tanto arrogante, Gemma se transforma numa mulher movida pela raiva, capaz de coisas horríveis em nome da sua honra

O enredo, convenhamos, é batido. Quem se importa com um casal branco, de classe média da Inglaterra que passa por uma crise de 14 anos de casamento? Quem liga para a suposta infidelidade de um homem casado? Não é como fosse uma novidade na história da humanidade. Quem nunca conheceu uma mulher traída que desmanchou o casamento por causa da pulada de cerca? Porém, é aí que a história te prende: pela imprevisibilidade dos personagens, especialmente Gemma. É com a sugestão da traição do marido que Gemma se transforma. De uma médica, esposa e mãe bem-sucedida e um tanto arrogante para mulher movida pela raiva, capaz de coisas horríveis em nome da sua honra.

Não é à toa que Doctor Foster foi inspirada no mito grego de Medeia, esposa de Jasão que ao descobrir a traição do marido com a filha de um rei, manda um vestido envenenado para a amante e mata dois filhos por vingança – embora essa versão da história seja contestada por alguns historiadores. Talvez o mito de Medeia foi responsável pela imagem que criamos de uma mulher traída. Seja histérica, que faz escândalo na frente dos outros até aquela que arrebenta o carro do marido infiel em nome da vingança.

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Ela não foi criada para fazer todas as mulheres traídas se sentirem bem. Até porque nós não estamos na época de questionar justamente a instituição do casamento e da monogamia?

A protagonista não é para você gostar, embora não tenha como não sentir empatia pelo sofrimento que ela passa. Ela não foi criada para fazer todas as mulheres traídas se sentirem bem. Até porque nós não estamos na época de questionar justamente a instituição do casamento e da monogamia? Por que Doctor Foster vai nessa contramão?

Foi uma sensação na Inglaterra. O último episódio da primeira temporada foi assistido por 8 milhões de ingleses e virou uma obsessão nacional. Tanto é que assim que a trama acabou, o público pediu para uma segunda temporada imediatamente que terminou seu ciclo em outubro do ano passado.

Preparem-se para arrancar os cabelos. É como ver um acidente de carro em câmera lenta.

Com o passar dos episódios (são duas temporadas com cinco episódios cada) não tem como não se pegar gritando com a TV ou roendo as unhas. Gemma não grita, não faz escândalo e nem se descabela. Ela começa a planejar maneiras de destruir tudo discretamente, mesmo ainda não sabendo ao certo se o marido a traiu ou não. A tensão e o ódio de Gemma (fruto de uma atuação incrível de Suranne Jones) é tão palpável que você sente do seu sofá ela rangendo os dentes ou enfiando uma das unhas compridas e esmaltadas na carne.

Não quero dar spoilers para vocês terem a mesma tensão que tive vendo todos os 10 episódios, mas preparem-se para arrancar os cabelos. É como ver uma tragédia em câmera lenta.

Não foi confirmada a possibilidade de uma terceira temporada nem pelo criador da série, o roteirista e dramaturgo Mike Barlett, e de Suranne Jones, mas o ator Murílio Benício comprou os direitos para fazer uma versão brasileira. (Você leu isso corretamente) Aviso, Murilo: se ficar ruim eu faço escândalo na frente da tua casa.

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