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Música

A Lenda da Rave Mark Archer Fala Sobre Por Que o Frankie Knuckles o Desfaz em Lágrimas

O ano era 1988 quando uma música foi capaz de mudar a trajetória do mago do techno. Hoje, ele mesmo conta por quê.

O DJ e produtor Mark Archer foi membro fundador do Bizarre Inc, antes de formar a lenda do techno Nexus 21 e um dos maiores nomes da história da rave e terror dos tabloides, Altern-8. Nós perguntamos ao Mark qual dos discos de sua coleção que perpassa três décadas de dance seria um verdadeiro heartbreaker com o poder de fazer homens crescidos se emocionarem…

Night Writers – "Let The Music (Use You)", produzida por Frankie Knuckles, mexe comigo como nenhuma outra canção. Eu a ouvi pela primeira vez em uma noite de terça-feira em um clube de Stoke chamado Frenzy. Eu tinha 19 anos, foi o primeiro acid house com que tive contato, estava uma escuridão completa exceto pelo strobo.

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Antes disso em Strafford, onde eu cresci, as pessoas iam a um clube tipo Ritzy, onde você era obrigado a estar de sapato e calça ou saia e eles tocavam uma mistura de músicas de parada de sucesso – aí de repente era permitido usar camiseta e tênis, e esse tipo de música surgiu e mudou tudo. "Let The Music (Use You)" realmente se destacava. Não haviam muitas faixas com vocal naquela noite – a ênfase era em acid house: drum machines e 303s pra todo lado – e essa era diferente de todo o resto que tocaram. A letra dela é bem motivacional e sincera. É uma daquelas músicas que te pegam na hora, e ela me surpreendeu totalmente.

Foi naquele ano que eu comecei a fazer música com um outro DJ, o Dean Meredith. Em Strafford não havia muita gente interessada nesse tipo de música – a cidade era bem estéril nesse sentido. Nós tínhamos começado a juntar faixas de house primitivo em 1988, influenciados por artistas como Farley Jackmaster Funk e Krush, e a gravar nos recentemente inaugurados Blue Chip Studios em Strafford. Eu estava interessado em acid house, mas pelo fato do Bomb the Bass estar nas paradas (com o single "Beat Dis" de 1988), o gerente do estúdio quis que fizéssemos músicas de hip-hop/sampling. Então nós lançamos algumas faixas desse tipo sob o nome Rhythm Mode D.

Na época eu não tinha nenhum outro plano de vida, mas me foi oferecido um emprego na cidade de Gnosall, bem do lado de Stafford onde eu morava, nos açougues. Meu pai disse: "você que sabe – o país sempre precisará de açougueiros, você teria um trabalho para a vida toda. Mas se o seu coração está querendo fazer música, e você não for atrás disso, haverá sempre um enorme 'e se' na sua vida". Não existem muitos pais que deixariam você ir atrás de seu hobby ao invés de uma carreira sólida, eu tenho que agradecer ele por isso.

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Então eu entrei na música por amor a faixas como esta, e a letra de "Let The Music…" realmente mexeu comigo naquela noite. É uma letra edificante, o que quer dizer que a faixa diferenciou-se de muitas gravações de house da época, sendo uma música totalmente vocal. Além da letra em verso, refrão, verso, refrão, os improvisos do vocalista eram muito poderosos. O cantor é o vocalista gospel de Chicago Ricky Dillard, que também cantou belamente em "It's U" do Farley Jackmaster Funk.

A produção é puro house de Chicago e perfeitamente Frankie Knuckles. Tem uns agogôs saídos de uma pequena bateria eletrônica da Roland que perpassam a música toda, o que pode irritar algumas pessoas, mas eu adoro. Eu percebo um teclado Yamaha e um Roland 727 para a percussão – o 727 era uma versão "percussão Latina" do 707, que a maioria das antigas gravações de house que tinham som de bongô usavam.

O Frankie Knuckles estava sempre um passo ao lado do que estivesse rolando, parecia nunca seguir tendências. "Let The Music…" era diferente das outras músicas, um dos melhores sons de house do ano, e de todos os tempos. Frankie era uma das pessoas mais importantes da house music – todo mundo na época achava que a house music seria só uma moda passageira, mas trinta anos depois ela ainda segue firme – é o legado de Frankie Knuckles.

Naquele momento a loucura do Altern-8 estava a todo vapor e a cena free rave estava no auge. Se não estivéssemos fazendo um PA, eu estava lá fora na linha de frente, festejando com o melhor que tinham! Mas pouco depois veio o backlash da mídia, e o Projeto de Lei da Justiça Criminal bateu pesado nas raves, mas o Altern-8 realmente aguentou o peso. Nós não poderíamos ir mais alto, tínhamos nos divertido bastante, lançado um álbum, mas a mídia estava atrás de nós. Não tem muita gente que acredita em mim, já que assumiu-se que o acid house e as drogas andam de mãos dadas, mas eu não me aproximava de drogas, estava nessa puramente pela música.

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Em 1993 a cena dance mudou de outras formas também. Ela se estilhaçou em house, jungle, garage e todos os outros derivados, o que eu acho que afetou muito a cena dance. Lá em 1989 você podia tocar qualquer coisa em uma rave, desde Soul2Soul até Belgian New Beat e qualquer outra coisa no meio disso. Então eu acho que ouvir "Let The Music…" me leva de volta a tempos mais inocentes, a época em que tudo começou pra mim e para muitos outros, 1988 – o ano em que tudo o que eu sabia sobre clubbing mudou completamente. Foi o começo da coisa toda que se tornou o techno e das faixas que lançamos com o Nexus 21, e depois mudamos para o hardcore com o Altern-8.

A razão pela qual essa canção é tão especial para mim é que ela me traz de volta o ano no qual eu entrei na cena. Se alguém esse ano sair da escola e for pra Ibiza e pra uma rave grande, será uma experiência especial pra você também – uma que nunca irá se esquecer. Eu fiz um show de acid house em Ibiza nesse verão e o DJ Slipmatt tocou "Let The Music…", e ela te leva direto de volta a quando você a ouviu pela primeira vez. É uma grande coisa poder tocar uma música como essa hoje em dia e apresentar toda uma geração a ela. Quando você olha para 25 anos antes dessa canção, estamos em 1960 e não há nenhuma música relevante para a cultura dance. Mas toque essa faixa 25 anos após o seu lançamento e o lugar todo vem abaixo! Ela continua sendo relevante como sempre foi.

Mark Archer ficou sentimental com @BenGelblum

Para ouvir o Mark mixando algumas das gravações de acid que causaram sua volta imaginária a 88, clique aqui.

O Mark Archer está no Twitter: @mark_archer
Mark Archer no Soundcloud

Tradução: Stan Molina