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Danni Daniels: Quando eu tinha 16 ou 17 anos, comecei a trabalhar como modelo, fazendo coisas editoriais. Fiz a Vogue e muitas revistas grandes de moda, mas, quando comecei a me tatuar e fazer a transição, essas coisas entraram em conflito com a minha agência de modelos. Eu estava ganhando peso, e a agência dizia "Você está ficando gorda, você está ficando muito alternativa, não podemos mais trabalhar com você assim". Quando você está tomando os hormônios de transição, são hormônios suficientes para uma grávida de gêmeos. Por causa disso, eu estava com fome o tempo todo e sempre irritada. Alguém me dizer que eu tinha de parar de comer foi tipo "Se você ficar entre mim e minha comida, eu te mato". Então, me demiti.
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Em seu trabalho mais recente, você transa com homens cisgênero. Esse sempre foi o caso? Você já fez sexo com mulheres cis ou pessoas trans diante das câmeras?"Minha sexualidade é muito particular e íntima para mim. Eu digo às pessoas que o que elas veem nos vídeos é atuação. Isso seria como cruzar com Robert Downey Jr. e dizer: 'Meu Deus, o Homem de Ferro'." – DanniDaniels
Usei o pornô como uma maneira de descobrir minha sexualidade e onde eu caía no espectro. Sempre fui uma pessoa sexual, mas a indústria pornô realmente me ajudou a esclarecer o que eu queria da vida. Me expus o máximo possível – todos os gêneros, todas as sexualidades. Toda vez que algo surgia, isso era excitante para mim. Só que agora sei que sou uma mulher transhétero. Preciso de pinto na minha vida.
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No entanto, quando você sai da sua sexualidade na indústria pornô, você precisa treinar seu corpo para trabalhar como uma ferramenta. Eu diria que o pornô me ajudou a me centrar e trabalhar outras questões que não eram relacionadas, porque eu era capaz de aplicar um nível de controle ao meu corpo e à minha mente. E estar num ambiente profissional, em que eu podia estar com pessoas que tinham a mesma mentalidade, disso ser um trabalho, me permitiu ter um espaço sem julgamentos para a minha sexualidade.Só que minha sexualidade é muito diferente da sexualidade que retrato diante das câmeras, quase em contraste com o que você vê nos filmes. Minha sexualidade é muito particular e íntima para mim. Eu digo às pessoas que o que elas veem nos vídeos é atuação. Isso seria como cruzar com Robert Downey Jr. e dizer: "Meu Deus, o Homem de Ferro". Tipo, não, cara.
Quando você trabalha com pessoas em quem não tem interesse, como você mantém a ereção? Você usa Viagra?"Eu tinha peitos, pau, era tatuada e alternativa, e eu conseguia gozar várias vezes na frente das câmeras." – Danni Daniels
Quando comecei a filmar com outras mulheres, sem um homem envolvido, eu não conseguia ficar dura sem alguma ajuda. Entretanto, nos meus primeiros três anos na indústria, me recusei a tomar drogas para a ereção. Porque vi caras indo do Viagra para o Cialis; depois, misturando Viagra e Cialis, e eles acabavam injetando drogas diretamente no pênis porque o corpo se acostuma com drogas menos poderosas.
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Entrar na indústria pornô com um pau de 22 centímetros foi incrível. Isso me deu confiança e fez com que eu não precisasse trabalhar tão pesado. Eu só tinha de aparecer, ficar pelada e ser parabenizada por isso. Eu tinha peitos, pau, era tatuada e alternativa, e eu conseguia gozar várias vezes na frente das câmeras. Então, eu era um nicho dentro de um nicho, e isso me permitiu ser mais criativa e seletiva com o que faço e com quem trabalho.
Você vê mulheres cisgênero e trans com vaginas serem tratadas de modo diferente?"Quando você é vista como submissa nos filmes, os produtores te tratam como submissa na vida. Eles começam a pensar: 'Você é só um buraco, você vai aceitar o que te dermos'." – Danni Daniels
Ah, sim. Se você é uma mulher genética submissa ou uma trans submissa, você é tratada como merda. Você é tratada como um objeto. Nem sei te dizer quantas pessoas me ofereceram montes de dinheiro para ser passiva. Eles dizem "Te damos US$ 10 mil para ser passiva". Eu teria feito isso por US$ 50 mil. Ainda faria. Se alguém me ligasse agora e dissesse "Te dou US$ 50 mil para te destruir na frente das câmeras", eu diria "Onde eu assino?".Ou seja, se você fosse submissa apenas uma vez, o seu valor na indústria cairia?
Sim, poderia ser o fim da minha carreira. Porque aí eu seria tratada diferente. Seria aí que eu começaria a receber ligações me oferecendo a metade do que pedi. Quando você é vista como submissa nos filmes, os produtores te tratam como submissa na vida. Eles começam a pensar: "Você é só um buraco, você vai aceitar o que te dermos".
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Com homens submissos, é como um animal diferente, já que há uma fila virando a esquina de caras que querem ser submissos. Estou falando de centenas por dia. Logo, eles não recebem nada, pois muitos homens querem fazer isso.
Como você mantém sua sexualidade no pornô e sua sexualidade na vida particular separadas?"Se alguém me ligasse agora e dissesse 'Te dou US$ 50 mil para te destruir na frente das câmeras', eu diria 'Onde eu assino?'" – Danni Daniels
Me identifico como uma mulher trans, e meu parceiro me aceita e me trata como uma mulher trans. No entanto, muitos caras por aí vão começar um relacionamento com uma mulher trans sob a premissa de querer tratá-la como mulher. Só que, mais para frente, eles acabam se mostrando submissos. Não consigo nem contar quantas vezes isso já aconteceu comigo. E muitas mulheres trans não sabem o que querem até que isso acontece com elas. Muitas vezes, isso realmente fode com a sua cabeça, tipo: "O que eu sou e o que isso significa na minha vida e na minha sexualidade?". E isso acontecia comigo, especialmente porque os caras sempre acabavam achando meus filmes e queriam [que dominação e penetração] fossem parte da nossa vida sexual. E isso não era o que eu queria. E era muito difícil para mim separar as coisas e garantir que isso não seria um elemento dos meus relacionamentos.Muitos desses [homens que namoram mulheres trans] são homossexuais enrustidos, que acham que essa é uma rota segura para explorar sua homossexualidade sem ser homossexual. Mulheres trans são tão objetificadas e magoadas em relacionamentos que geralmente julgamos muito e nos fechamos.
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A indústria se tornou muito complicada e tirou muitas liberdades que te deixavam confortável. Agora, são muitos formulários para preencher e tudo é taxado: você não pode receber em dinheiro e tem de declarar tudo.No entanto, mais que isso, as filmagens pornô costumavam ter muito Viagra nos sets. Eles compravam caixas disso no México e deixavam lá. Só que agora isso é uma droga prescrita e você pode ter problemas cardíacos, etc. Se tem qualquer problema como ator pornô, você pode processar os caras; então, a indústria parou de fornecer isso.Ter Viagra é a mesma coisa que ter Xanax, bombinha de asma ou uma EpiPen na sua bolsa. Eu sei que isso está lá. É como uma rede de segurança – e, se algo der errado, posso consertar.Assim, na última grande cena que fiz, eu não tinha tomado drogas para ereção, e ela era com uma mulher por quem eu não me sentia atraída. Foi uma substituição de último minuto – e foi péssimo. Ela peidou na minha boca. E eu só queria fazer logo a minha pausa.Em que projetos você está trabalhando agora?
Continuo fazendo minhas coisas no meu site e na minha empresa, e eu adoro. São mais coisas solo, não cenas.E você curte por estar no controle?
Ah, sim, isso te relaxa completamente. É tipo "Isso é meu, é meu bebê. As pessoas ainda estão pagando por isso". E isso também está se tornando mais exclusivo. Isso está direcionando tráfego [de cliques na página] para mim, e eu fico com todos os lucros, em vez de dividir com três ou quatro companhias. E só faço cenas solo quando quero. Não me sinto obrigada, o que é ótimo. Isso me permite produzir material que eu realmente quero e ter orgulho de colocar meu nome em tudo que faço.Siga a Amy no Twitter.Tradução: Marina SchnoorSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.